Jamayra Greyce 19/11/2020
MELHOR INTRÍNSECOS 2020 ATÉ AGORA!!!!!
[23/08/2020]
"O que se passava, afinal, no mundo dos adultos, na cabeça de pessoas extremamente racionais, em seus corpos carregados de saber? O que os reduzia a animais dentre os menos confiáveis, piores do que os répteis?"
Ouvi leitores de Elena Ferrante dizendo que esse livro, apesar de bom, não chega aos pés da Tetralogia. Eu, que não conhecia a autora, me senti ligeiramente esmorecida por essas opiniões. Somando isso a impressão que tive de se tratar de um YA, custei ter coragem de pegar em "A vida mentirosa dos adultos". Quando finalmente tive ânimo para ler, fui sem nenhuma expectativa, e já esperando algo morno, como manda o costume do clube Intrínsecos em 2020 kkkkk. Minha supresa, então, não poderia ter sido maior: para mim, esse foi o melhor livro inédito que li esse ano, até agora.
A partida da história é dada quando a protagonista Giovanna, aos 12 anos de idade, escuta o pai dizendo que ela está ficando a cara de tia Vittoria, irmã dele. O problema é que na casa da menina todas as opiniões sobre essa mulher são péssimas, inclusive a respeito de sua aparência; principalmente pq esses irmãos são brigados. Assim, o comentário depreciativo do pai abala profundamente a filha, que passa a refletir e investigar a respeito, já que não sabe com certeza se é parecida ou não com a tia. Suas buscas a conduzem a inúmeras descobertas que, além de influenciar sua puberdade, pq não dizer, mudam o curso planejado para a sua vida.
Muitas cenas são delicadas, polêmicas ou completamente problemáticas, o que me causou estranhamento e desconforto. Mas nenhuma bizarrice é romantizada, muito pelo contrário. Nisso, achei as críticas de Ferrante muito sofisticadas; nada de panfletagem ou cagação de regra. A mulher fala é com a sua consciência - se você tiver alguma, é claro.
Outra coisa que adorei foi poder apreciar um pouquinho Nápoles, napolitanos e Itália no geral. Elementos desse universo são muito bem distribuídos pelo livro, dos cenários contrastantes aos pratos típicos e variações linguísticas. Fora isso, foi interessante aprender sobre alguns comportamentos e padrões sociais diferentes dos que costumo ler em histórias brasileiras, estadunidenses e britânicas.
A narrativa de Elena Ferrante nessa história é envolvente demais. Eu não conseguia parar de ler, e quando precisava dar uma pausa, não deixava de pensar no que estava se passando no livro. Também é muito legal como, só pelo ritmo da escrita, dá pra perceber que se trata de uma mulher italiana (E NÃO DE UM HOMEM, NEM SONHEM COM ISSO): ela escreve um monte num fôlego só, predominantemente usando vírgulas e dispensando pontos, como se estivesse falando muito e rápido daquele jeitão italiano, ou sei lá. Essa foi a minha impressão. Dá pra se perder legal quando ela diz mil coisas de uma vez, mas eu gostei kkkkk.
Por fim, tenho que registrar que fiquei apaixonada com os desenvolvimentos dela a respeito de aparências e da pulseira. Não posso dar detalhes sobre pq seria spoiler, então ficamos por aqui msm kkkkk.
Li algumas pessoas dizendo que acharam o final "aberto", mas acredita que eu não?? Me sincronizei tão bem com Giovanna que nada do que ela fez me pareceu estranho, especialmente nas partes finais da história.
MELHOR LEITURA DO ANO dps de éramos seis e dom casmurro, lógico kkkkk.