Abayomi Jamila 20/09/2020
E o lixo vai falar... e numa boa!
O livro trata-se de um compilado dos trabalho de Lélia publicados em vida, entrevistas, artigos etc. A obra organizada é introduzida por Raquel Barreto, possui Posfácio das mulheres da UCPA (União dos Coletivos Pan-africanistas) e conta com Documentos Anexos, entrevistas de pessoas que tiveram a oportunidade de conviver com Lélia.
Na minha percepção, esse livro traz uma grande contribuição histórica para pensar a atuação dos movimentos sociais, em especial o Movimento Negro e Movimento de Mulheres no final da década de 70 e início da década de 80, durante o período da regime ditatorial militar do Brasil.
Trabalho acadêmico de pesquisa a respeito das condições de educação e empregalidade da mulheridade negra, assim como contribuições conceituais para compreender a dinâmica da realidade brasileira a partir na psicanálise e de outras abordagens.
Lélia coloca o Brasil no divã e expõe as mazelas do seu inconsciente: o racismo. Por "neurose cultural brasileira", a autora entende que toda a nossa cultura é necessariamente africana: do samba a linguagem.
Segundo a autora, não falamos português, mas sim "pretuguês", uma língua com contribuições da língua bantu. E essa linguagem é inserida por intermédio da "mãe preta", esta que é símbolo da democracia racial, na verdade atua na resistência passiva, quando insere o filho do branco na linguagem. A mãe preta é a assim a verdadeira mãe desse país.
"Amefricanidade" é também outra grande contribuição conceitual da autora, trata-se de uma categoria que rompe com o paradigma vigente de que americanos são apenas os estadunidenses e pensa todos os povos africanos diásporos das américas.