Coruja 08/08/2013Um ano atrás eu estava no aeroporto em Lisboa, esperando o vôo para Paris (metida, eu? Imagina...), fazendo de conta que não tinha ninguém me olhando estranho depois de ver de relance a capa do livro com que eu estava abraçada.
Eram as Memórias Desmortas de Brás Cubas e não tenho bem certeza, mas acho que o ‘gajo’ sentado ao meu lado achou que eu era algum tipo de sociopata ou coisa do tipo pela combinação de escolha de leitura e risadas. Ou então que a qualquer momento eu me levantaria babando e dizendo ‘miolos...’
Memórias Desmortas de Brás Cubas continua de onde o clássico machadiano parou: após rememorar sua existência, Brás Cubas passa a contar como despertou no túmulo por obra e graça de seu magnífico emplasto; foi desenterrado por seu ex-escravo Prudência, que estava atrás da fórmula do mesmo e prontamente atacou o camarada e devorou seu cérebro.
Em morte, Cubas continua obcecado pelas mesmas coisas que dominavam sua vida: o emplasto ‘panacéia universal’ e Virgínia – e no caminho para chegar aos dois ele cruza com outros ícones do Bruxo do Cosme Velho (impagável seu encontro com o Alienista), produz uma horda de zumbis e um rastro de destruição bastante sangrento.
O livro é divertido e bem mais inteligente em seus trocadilhos, encontros e desencontros que Orgulho e Preconceito e Zumbis – que me parece ter sido o primeiro do gênero dos mash-ups. Isso porque não existe apenas um recontar da história original com o acréscimo de qualquer que seja a criatura sobrenatural de escolha, mas existe um enredo novo e Brás Cubas, conversando diretamente com o leitor, critica como suas memórias originais foram apropriadas por academicistas que tiram todo o prazer da leitura ao mesmo tempo em que forçam adolescentes sem maturidade a ler um texto denso e decorar fórmulas, traumatizando a criatura pelo resto da vida.
É, enfim, um volume bem divertido, que dá algo no que pensar, com um sem número de referências curiosas e marcantes. Só tenha cuidado para não escorregar no sangue e vísceras deixados pelo caminho...
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