The Tenant of Wildfell Hall

The Tenant of Wildfell Hall Anne Brontë




Resenhas - The Tenant of Wildfell Hall


11 encontrados | exibindo 1 a 11


Luíza | ig: @odisseiadelivros 27/05/2020

Leitura de quarentena #7
Por muito tempo, Anne foi a irmã Brontë mais subjugada. Muitos são os motivos: a mais nova das irmãs, a crítica negativa de seus livros na época em que foram lançados e, principalmente, a decisão de Charlotte de não reeditar The Tenant of Wildfell Hall após a morte de Anne. A justificativa seria a de que esse livro foi um "erro", já que não refletia o caráter calmo e beato de Anne. Talvez por querer proteger a imagem da irmã, Charlotte evitou que o livro tocasse ainda mais na ferida da sociedade da época (e até da atual).
Na nota de introdução da segunda edição, Anne não recua diante das críticas e defende o seu posicionamento em contar a verdade sobre uma face da sociedade até então pouco (ou nada) abordada: “I wished to tell the truth, for truth always conveys its own moral to those who are able to receive it”.
O romance se inicia com a narração de Gilbert Markham, um jovem dono de terras no interior da Inglaterra. Ele escreve ao cunhado, Jack Halford, acerca de um acontecimento que ocorreu anos antes. A chegada de uma jovem viúva, apenas com seu filho e uma velha criada, chama a atenção dos vizinhos. Logo, eles começam a integrá-la à comunidade após muita impertinência. Porém, é Gilbert quem se aproxima mais de Helen Graham. Ela é uma mulher diferente das que Gilbert conhece, forte, com ideias próprias e avançadas. Não demora muito para que ele se apaixone por ela. No entanto, as esquivas de Helen são justificadas a partir de suas memórias.
A segunda parte é narrada por Helen. Ela conta acerca de sua apresentação à sociedade, quando ela completa dezoito anos, sinal de que ela se encontrava disponível para casar. Criada pelos tios e sob princípios cristãos, Helen desde essa idade já possui posicionamentos próprios e firmes, além de defendê-los com base em argumentos racionais. Além disso, quer casar por amor, não apenas por dinheiro. Por isso, casa-se com Arthur Huntingdon. Por ele sente tanto amor que se apoia aos ensinamentos cristãos como justificativa para o seu casamento: possui o objetivo de afastá-lo de uma vida de pecados e da ruína.
E, então, Anne Brontë inova: apresenta a vida após o casamento e, ainda, explora o comportamento dos homens (o que hoje podemos chamar de “masculinidade tóxica”). O depoimento de Helen vai do céu ao inferno ao narrar a construção de uma jaula, de um relacionamento abusivo. Esse se constrói mais por falas do que por ações. A sociedade em que vive, inclusive, é rodeada de homens e mulheres que não reproduzem o “felizes para sempre” costumeiros em livros naquela época. O que acontece após o casamento? É esse o foco do livro. É agonizante, o leitor vai se aprisionando junto com a Helen, pois, para uma mulher do século XIX, a falta de liberdade e de direitos, ainda mais em um relacionamento com uma pessoa tão desprezível, a vida doméstica era uma prisão.
Por mais que a Helen esteja aprisionada, é nela que vamos encontrar discursos proto-feministas. Não apenas se utilizando de versículos bíblicos, Helen está determinada a mudar o pensamento do marido e até daqueles que a rodeiam. As passagens em seu diário são nutridas de um pensamento à frente de seu tempo, demonstrando a sagacidade da autora e o quanto seus pensamentos eram avançados. Além desse aspecto, apresenta-se a personalidade dos homens. Todos os homens são impulsivos, até mesmo Gilbert, e todos me deram nos nervos! Gilbert, inclusive, é um personagem interessante. Pintando-se a si mesmo como “bom moço” e “filhinho da mamãe”, durante toda a obra age com impulsividade, interpreta as ações dos outros de acordo com seu julgamento e com seu próprio senso de “justiça”.
Até então só li Jane Eyre, da Charlotte, e O morro dos ventos uivantes, da Emily. Foi em Anne que encontrei os primeiros indícios de humor. Claro que pelo enredo parece claramente uma tragédia, mas toques de ironia estão presentes em toda a obra. Não deixando de ser, em maior parte, um livro sombrio, o humor é dosado e provém do afastamento do romance moralista, comum naquela época, embora seja essa característica que o acoberte. Ora, há claras passagens bíblicas no romance, mas o proto-feminismo está presente também.
Quanto aos pontos negativos do livro, não são muito visíveis. É uma narrativa bem estruturada, que serve ao seu propósito. Os únicos deslizes foram devido ao posicionamento do narrador em primeira pessoa.

[OPINIÃO DO FINAL: contém spoiler]
O final é propriamente feliz? Na minha opinião, não. Comparando com Jane Eyre e com os romances de Jane Austen, todos os desfechos acabam em casamento. O que difere The Tenant of Wildfell Hall de Jane Eyre e o aproxima dos livros de Jane Austen é o fato de ser um desfecho conveniente, não feliz. Anne Brontë não estendeu o romance, já que o foco dela não era esse, ela o encerrou imediatamente ao final do livro. A ambiguidade de Helen me faz pensar que esse não era o propósito da autora, apenas o fez para que fosse conveniente à época. O Gilbert, com toda sua impulsividade e defeitos mencionados acima, não seria melhor pretendente do que qualquer um dos outros.

site: https://www.instagram.com/odisseiadelivros/
comentários(0)comente



@livrosdelei 14/08/2022

Escrita e formato impecáveis!
Tudo estava claro e ordenado até a chegada de uma nova vizinha? Helen Graham, uma jovem viúva que se muda para Wildfell Hall (uma mansão) com o seu filho e uma empregada. Pouco se sabe sobre Helen? na verdade, os vizinhos sabem praticamente nada sobre ela. E quanto mais eles tentam descobrir, menos ela revela sobre si, gerando uma insatisfação coletiva e o desejo por fofocas.

As fofocas começam a circular por toda a vizinhança, mas não convencem Gilbert Markham, um jovem fazendeiro da região. Gilbert decide descobrir a verdade sobre essa mulher tão curiosa e acaba se tornando o narrador perfeito!

O livro é escrito no formato de cartas, que Gilbert envia para o seu amigo sobre suas descobertas. Mas o que deixa Helen ser tão misteriosa? Isso só poderá ser respondido ao ler o livro, mas o que choca a população é o quanto Helen quebra as normas sociais de sua época (sua forma de sustento, forma de educar o seu filho, visão sobre casamento, etc).

Até aqui já deu para perceber que o livro trata sobre diversos assuntos e, por isso, acho que é tão profundo e completo. Anne navegou a fundo nas questões de sua época e no que realmente significava ser uma mulher do século XIX, pois dá para ?sentir na pele? muitas das questões que existem até hoje na nossa sociedade (dependência química, violência doméstica, casamento, maternidade, direito das mulheres, etc).

A experiência de ter lido tudo isso na perspectiva de uma mulher da época deixou tudo ainda mais latente e me sinto grata por ter tido a oportunidade de ter lido essa obra de Anne Brontë e o contato com a sua escrita única e envolvente.

É muito cômodo pensarmos que as mulheres não tinham direitos na época e que tudo era ?pacífico?? Essa não é a verdade e Anne Brontë desmistifica isso nos mostrando como as mulheres resistiam (cada uma à sua maneira).

Eu gostaria de escrever realmente TUDO o que senti com esse livro, mas quero que mais pessoas leiam e se surpreendam como eu na leitura.
Carolina.Gomes 14/08/2022minha estante
??????


Ana 15/08/2022minha estante
Helen Graham rainha


@livrosdelei 16/08/2022minha estante
Helen dona de tudo ??




Alexandra 25/04/2015

A mais pertinente obra das irmãs Brontë
Anne Brontë é a menos famosa das irmãs Brontë, escritoras britânicas do século XIX que chocaram a sociedade ao abordar temas polêmicos em suas obras.

Charlotte se tornou célebre por “Jane Eyre”, a história de uma moça batalhadora. Já Emily trata de obsessão e vingança em “Wuthering Heights” (O Morro dos Ventos Uivantes). Enquanto Anne, em “The Tenant of Wildfell Hall” (A Moradora de Wildfell Hall), debate questões como infelicidade matrimonial, adultério e alcoolismo, e por serem temas tão realistas em relação à sociedade da época, mas mesmo assim tão pouco discutidos, a obra foi duramente criticada. Muitos acharam chocantes as cenas retratando um relacionamento abusivo, tornando o romance um escândalo na Inglaterra.

Em uma época em que a maioria das obras literárias se referia à vida antes do casamento, e que, após isso, nada mais é revelado, esse livro é um retrato muito interessante sobre o casamento. Uma obra com esses temas – escrito ainda sob a perspectiva de uma mulher – é muito pertinente. Infelizmente, após a morte de Anne, Charlotte proibiu novas edições da história, alegando que a obra era “um erro completo”. Alguns acreditam que Charlotte queria proteger a reputação da irmã, outros que ela tinha inveja; mas, talvez, sem essa decisão, o livro teria um maior reconhecimento e popularização.

No romance, a chegada da misteriosa nova moradora da residência abandonada de Wildfell Hall gera burburinhos. Helen se apresenta como uma moça viúva que trabalha como pintora, e é também uma mãe de um garoto pequeno. Já Gilbert Markham, que a princípio está enamorado de outra moça, acaba se encantando por Helen, justamente por sua capacidade de se expressar e seus altos valores morais.

Helen tem opiniões fortes e, logo em uma de suas primeiras discussões com Gilbert, questiona o porquê de se apresentar aos meninos todos os tipos de vícios – acreditando que é importante que eles conheçam a fim de saber como lidar com eles –, ao mesmo tempo em que isso é privado a todas as meninas – como se estas fossem seres incapazes de discernir o certo do errado. Afinal, vícios, má educação e egoísmo não deveriam ser estimulados a ninguém. Mesmo discordando inicialmente de Helen, Gilbert fica admirado com a sua inteligência e se torna cada vez mais próxima da moça e seu filho.

Mas há um grande mistério envolvendo o passado de Helen: O que ela fazia antes de ir parar lá? O que dizer sobre as fofocas que são espalhadas sobre a sua pessoa?

Inicialmente, a história é contada por Gilbert, e depois existe uma extensa parte referente ao diário de Helen. Mais ao final, a obra altera momentos em que um ou outro conta a história. É notável que o próprio modo de escrever é diferente dependendo de qual dos dois está narrando, e essa mudança ocorre de forma sutil.

Helen, uma personagem extremamente religiosa e que sempre leva em consideração questões relacionadas a deus e ao pecado, também acredita na divindade como um ser misericordioso, capaz de perdoar e que não deseja a infelicidade das pessoas. Ou seja, mesmo muito religiosa Helen não acredita que como mulher ela deva submeter a si e ao seu filho sofrimentos que poderiam ser evitados, se não fossem as convenções sociais.

Gilbert também amadurece durante a trama, e embora agindo de forma intempestiva muitas vezes, passa a racionalizar melhor as situações, se tornando mais maduro e um homem melhor. Já os demais personagens é melhor não dizer muito, ou se revelaria demais a história que se desenvolve.

Infelizmente, esse é um romance que merecia maior reconhecimento e que, dentre os livros das irmãs Brontë pode ser considerado o que mais se aproxima do realismo e, talvez por isso, continua sendo assustadoramente atual.

site: http://eunaosoualexandredumas.blogspot.com.br/
comentários(0)comente



Ana 31/05/2021

Magistral
Na época de sua publicação, A inquilina de Wildfell Hall foi acusado de ser "ímpio", "nojento", "revoltante". Adjetivos muito parecido com os que usaram para o romance de sua irmã Emily.
A maioria dos leitores provavelmente já ouviu falar ou leu Jane Eyre e O Morro dos Ventos Uivantes, mas os romances de Anne Bronte foram negligenciados, seja por causa da recusa de Charlotte em republicar The Tenant of Wildfell Hall após o falecimento de Anne ou porque os críticos (que tiveram acesso a um texto mutilado) passaram a considerar a escrita de Anne não tão merecedora de atenção quanto a de Charlotte e Emily. Mas deixe-me dizer uma coisa, este livro fez o meu queixo cair e meu coração disparar até as últimas páginas.

Tudo começa com um mistério. Há uma nova inquilina no antigo e misterioso casarão de WILDFELL (queda selvagem), algumas pessoas dizem que é uma bruxa, mas logo descobrem que ela é uma jovem e bela viúva. Qual é a história dela? Quem é ela? (A partir daqui alguns detalhes do enredo vão aparecer)

Tudo o que seus vizinhos sabem, ao conhecê-la, é que Helen é uma pessoa pragmática, ela fala o que pensa e não se deixa persuadir. Ela tem coragem. Mas sabemos que coragem geralmente não vem com facilidade; na maioria dos casos, é resultado de um sofrimento agudo. E não é diferente aqui.

Após algumas páginas, somos apresentados ao diário de Helen e, finalmente, lemos sua história. Ela começa onde a maioria dos romances vitorianos termina: com um casamento. Um casamento que rapidamente se transforma em um relacionamento abusivo. A descrição do comportamento abusivo e imprudente do marido de Helen é gráfica e pode revirar o estômago, mas talvez por isso mesmo seja bem verossímil. Helen aguenta muita coisa, em primeiro lugar, devido ao senso de dever marital e, em segundo lugar, porque é a coisa cristã a se fazer.

Mas, à medida que o comportamento do marido deteriora a ponto de se tornar uma ameaça para o seu filho pequeno, Helen simplesmente vai embora. Ela vai embora, gente! Ela cata o filho e foge! Você pode imaginar como é para uma mulher simplesmente deixar o marido em pleno no século XIX? As consequências que isso acarreta?

Quando uma mulher se casava, ela se tornava, em certo sentido, propriedade de seu marido. O marido também ganhava direitos sobre a propriedade da esposa, tanto real quanto pessoal. Era quase impossível conseguir o divórcio, independentemente de quão ruim fosse o casamento. Na Inglarerra de 1827, deixar o marido significava violar a lei. O que acontece com Helen depois disso eu deixo pra quem não leu descobrir.

A inquilina de Wildfell Hall é um livro incrível, com uma heroína maravilhosa.
Eliza.Beth 01/06/2021minha estante
Meuuu Deussss
Quero lerrrrr


Ana 02/06/2021minha estante
Beth, você vai amar! Não tenho dúvidas




Lorena.Herrera 05/08/2023

Mágico
Amei o livro? achei que iria me arrastar para ler, mas amei. Entrega profundidade e leveza na medida certa.
comentários(0)comente



Maitê 27/07/2021

Uma pena que esse livro fica tão esquecido, especialmente em comparação com a fama dos livros de suas irmãs. Na época que foi lançado foi considerado o mais chocante. Afinal, é uma denuncia sobre os costumes masculinos da época, uma denuncia sobre a subjugação da mulher no casamento, e apresenta uma mulher que após muito sofrer abandona seu marido, fugindo com seu filho (propriedade de seu marido). Parece pesado, e é, mas a leitura é fluida e envolvente, aos poucos vamos conhecendo o passado dessa personagem, que justifica suas ações. É também um livro bastante religioso (como Agnes Grey), mas dessa vez Bronte sai um pouco da pregação e permite que sua personagem faça a curva, encontre uma saída, que a respeite como sujeito mesmo de frente a culpa.
comentários(0)comente



Mi 29/10/2010

Três irmãs, um único dom.
Apaixonei-me por Jane Eyre e, em razão disso, comprei esse livro para ver se Anne Bronte era tão brilhante quanto sua irmã Charlotte. The Tenant of Wildfell Hall é um romance interessante, um retrato bastante fidedgno de uma época, mas devo confessar que, embora os personagens sejam bem aprofundados pela autora, não conseguiram me cativar. Os protagonistas criados por Charlotte Bronte em Jane Eyre são tão apaixonantes que ficamos tristes por termos de nos despedir deles e, mesmo após terminado o livro, ainda os guardamos muito tempo na memória. Os personagens criados por Anne nos despertam a curiosidade durante a leitura, mas uma vez terminado o livro, desvanecem-se de nossa memória para sempre.
comentários(0)comente



Tauan 24/09/2015

Há cerca de um ano, eu li O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë e me apaixonei pela história, embora tenha detestado a tradução da Martin Claret. De fato, detestei tanto que antes de terminar a leitura, comprei a edição em inglês. Esse livro vinha com um romance de cada uma das três irmãs Brontë (Jane Eyre de Charlotte e Agnes Grey de Anne).
Depois de ler um livro de cada irmã, me tornei fã incondicional!
Venho, desde então, procurado por mais livros delas. É uma pena Emily só ter escrito um e Anne dois.
Outra lástima é a dificuldade para se encontrar (boas) traduções das obras das Irmãs Brontë. Por isso, tive que apelar também para uma versão britânica de A Inquilina de Wildfell Hall.
A história se passa, como de hábito, em uma comunidade rural da Inglaterra vitoriana, e gira entorno de Helen, a misteriosa nova moradora de Widfell Hall. Ela chega à propriedade com seu filho, alegando ser viúva.
Helen mantém a si a seu filho com os quadros que pinta e vende, e embora seja muto pacata e de fácil convívio, começa a ser alvo de maliciosos comentários devido a seus hábitos reclusos.
A situação se complica quando um morador local, o narrador, se apaixona por ela, a despeita da sutil relação que já mantinha com uma moça local. Para calar as suspeitas e aquietar seu correspondido admirador, ela entrega a ele seu diário, em que relata a sua traumatizante relação conjugal.
Embora a maior parte do livro seja constituída da leitura do diário de Helen, minha parte preferida é o início, suja chegada à nova região.
comentários(0)comente



livrodebolso 14/10/2019

Anne se apropria de vários itens das obras anteriores de suas irmãs: o protagonista inicia o livro com uma carta e se comunica com o interlocutor ao longo da história (The Professor); existe uma relação de mistério com a casa (Wuthering Heights); a jovem que não quer se casar (todas as obras); e seu passado que se revelará por uma ferramenta narrativa (Wuthering Heights). A estratégia da autora na estrutura é admirável: ela inicia a história (escrita sob pseudônimo masculino, lembrando) na primeira pessoa de Gilbert Markham mas, justamente quando o enredo se torna tão interessante que seria impossível para o leitor largar, ela troca o ponto de vista, que torna-se a primeira pessoa de Hellen Graham, a verdadeira protagonista, forçando, portanto, a leitura da perspectiva feminina. Mais uma vez: "o autor era homem", e era essa a informação que tinham os críticos da época.
O livro foi sucesso imediato, e ao mesmo tempo, absurdamente polêmico, uma vez que pisou em todos os calos da sociedade vitoriana. Ainda assim, não foi publicado com o nome da Anne.
Helen era uma jovem forte e determinada que não queria se casar se não por sua própria vontade. Porém, sua intuição falhou: logo nos primeiros meses de casamento percebe que seu cônjuge é um beberrão, mulherengo que não quer saber dela ou do filho.
Todos os anos de sofrimento são contados em seu diário (os registros são bem esporádicos) e é a fonte pela qual o leitor fica sabendo do que aconteceu.
Na época em que se passa o livro, a primeira metade do século XIX, quando uma mulher decidia divorciar-se, ela simplesmente era impedida; Helen precisou fugir e levar consigo seu filho (considerado sequestro) e sobreviver de sua própria renda (que, pelo contrato de casamento, tudo que é dela passa a ser do marido, portanto, considerado roubo). Sua tortura começa, entretanto, com as viagens do consorte e sua falta de preocupação com a família e mais tarde, quando ela precisa cuidar de sua abstinência alcoólica, exatamente como Anne precisou cuidar de seu irmão, o que lhe custou a vida.
Tal detalhamento só poderia vir de alguém que havia sentido tal angústia na pele.
comentários(0)comente



Karine 26/12/2021

Eu achava que o principal livro da Anne Bronë fosse Agnes Grey, por isso, quando finalmente resolvi ler algo dela, comecei por ele. Gostei bastante, mas achei um pouco simplório... Ficou evidente pra mim por que esta irmã não se destacou tanto quanto as outras, embora o talento para a escrita estivesse ali. Mas então vi alguns comentários de que este livro seria a real obra-prima dela, e resolvi lê-lo de uma vez. Agora, então, não posso mais compreender por que Anne não é tão aclamada quanto Emily e Charlotte... Ao contrário do seu livro anterior, neste há muito mais profundidade. O tema ainda é muito atual, mas na época foi um verdadeiro escândalo narrar a história de uma mulher que escapa de um relacionamento abusivo, num período em que as mulheres não podiam se divorciar e não tinham qualquer autonomia. Anne dedica boa parte do livro esmiuçando a história desse relacionamento, como Helen se apaixona por Arthur, um rapaz bonito, simpático, provocador... Ela reconhece que seus hábitos festeiros e seu estilo inconsequente não são qualidades desejáveis num esposo, mas confia que pode influenciá-lo a mudar com sua natureza mais sensata. Mas as coisas não saem como esperado, e vamos testemunhando o declínio do comportamento do Sr. Huntingdon e os abusos, cada vez piores, a que ele submete a Sra. Huntingdon, tornando sua vida um calvário. Passei muita raiva lendo essa parte da história. Já sabia que em algum momento ela o deixaria (isso fica claro já no início do livro), e a cada episódio de abuso achava que seria o último... Mas ela ficava, e o detestável Arthur fazia algo pior. Acho que isso é fundamental para que o leitor, principalmente o leitor da época, entenda as razões que levaram Helen a deixar o marido, e empatize com ela. Mesmo assim, Anne foi muito atacada pelos críticos conservadores, mas seu livro foi um sucesso de vendas. Certamente foi mais um pequenino passo na emancipação das mulheres naquela sociedade. É uma pena pensar que hoje progredimos tanto que uma mulher pode se separar legalmente de um parceiro abusivo, mas que ainda estamos tão atrasados culturalmente a ponto de muitos homens não aceitarem o término e recorrerem à violência, com suas mentes ainda estagnadas no século XIX.
comentários(0)comente



11 encontrados | exibindo 1 a 11


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR