Evy 29/06/2011DESAFIO LITERÁRIO 2011 - Tema: Peças Teatrais / Mês: Junho (Livro 5)Essa obra-prima da literatura brasileira foi escrita pelo paraibano Ariano Suassuna em 1955. É uma peça de teatro dividida em três atos e tem como cenário o sertão nordestino. Carrega muito forte em sua narrativa a tradição popular e profundas reflexões sobre as condições de vida no sertão nordestino mesclada com muito humor.
Eu, que na época da leitura não era muito fã de ler peças teatrais, fui totalmente arrebatada pela escrita fabulosa de Ariano Suassuna e a leitura foi super agradável e arrancou muitas risadas. O livro foi escrito com base em romances e histórias populares do Nordeste e conta a história de João Grilo e Chicó, dois empregados da padaria da cidade. Xaréu, o cachorro da mulher do padeiro, fica doente e João Grilo e Chicó são enviados a Igreja para pedir ao padre que benzesse o bichano.
O padre a princípio não concorda e para convencê-lo João Grilo diz que o cachorro pertence à Antonio Morais, um homem poderoso da cidade. Aí a confusão está instalada. Quando o padre já está quase convencido em ir benzer o animal, chega Antonio Morais à paróquia para pedir pelo seu filho. O diálogo entre ele e o padre é hilário e muito bem desenvolvido por Ariano.
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É verdade, o cachorro morreu. Cumpriu sua sentença e encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca de nosso estranho destino sobre a terra, quele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo morre!"
É incrível notar como Suassuna traz temas e características muito brasileiras em sua narrativa. A identidade cultural é marca registrada, principalmente quando nos apresenta a questão da desigualdade social através das falas dos personagens e situações cotidianas que vão surgindo. Como o Padre que não ia enterrar o cachorro por preguiça achando que era da mulher do padeiro, mas que acaba fazendo o enterro em latim quando João Grilo mente que o animal é do Coronel.
A partir dessa primeira confusão, outras se seguem num ritmo super empolgante. Aparecem o Bispo, o Sacerdote e até um Cangaceiro com seu capanga entram na história. João Grilo consegue ir contornando as situações de forma impressionante e acabam todos no céu para a hora do Juízo Final. Aparecem para o julgamento, Jesus e o Diabo e nesse ponto os diálogos são simplesmente geniais e hilários. É impossível não rir, principalmente dos argumentos absurdos, mas inteligentíssimos, de João Grilo. Num determinado momento, João chama Nossa Senhora, a Compadecida, para ajudar no julgamento e acaba ajudando a todos, e se safando com a melhor da enrascada.
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Se a senhora continuar a interceder desse jeito por todos, o inferno vai terminar como disse Murilo: feito repartição pública, que existe, mas não funciona".
O final da peça é muito engraçado e tiro meu chapéu para o mestre na arte de contar histórias, Suassuna. Com sua narrativa agradável e empolgante, traz toda a riqueza cultural e popular do Nordeste para as páginas, criando identidade e mostrando as agruras pelas quais o povo dessa árida região sofre, mas sem perder a linha do humor, tão característico. A obra traz inclusive elementos de cordel e aborda tradições dos romanceiros e narrativas nordestinas, propondo enfoque regionalista, além das lindíssimas ilustrações de Romero de Andrade Lima nesta edição da Nova Fronteira.
Impossível não se encantar e se apaixonar. Super recomendo a leitura!