O Continente

O Continente Erico Verissimo




Resenhas - O Tempo e o Vento: O Continente - Vol. 1


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Luis 06/02/2011

Um painel vigoroso da formação do Rio Grande do Sul.
Custo a entender a razão de Érico Veríssimo ser bem menos venerado do que Jorge Amado, por exemplo. Ambos são gênios literários, têm a mesma estatura, mas Érico sempre recebeu uma porção de atenção aquém da importância e da qualidade de sua obra.
Prova disso, é o primeiro volume da parte inicial da saga “O Tempo e o Vento”, denominada “O Continente”.
A partir da construção de personagens fortes e representativos, Veríssimo reconta a história gaúcha tendo como pano de fundo as lutas seculares que moldaram a região. O “Continente” começa sua ação ainda no século XVIII, quando acompanhamos a infância do primeiro dos grandes personagens do romance : O índio Pedro Missoneiro. Místico e misterioso , Pedro se educa com os jesuítas mas não abdica de sua identidade indígena, que vai encantar Ana Terra, que o encontra perdido na estância da família.
Ana Terra é talvez, ao lado de Dona Flor e Maria Moura, a personagem feminina mais instigante da literatura brasileira do século passado. Desafiando seu pai e seus irmãos, se envolve com o índio, nascendo desse relacionamento o jovem Pedro Terra. O assassinato de Pedro Missoneiro, morto pelo pai e pelos irmãos de Ana Terra, e a posterior tragédia que culminou na eliminação de todos os homens adultos da família, fez de Ana a fortaleza da estância, criando o filho sozinha e liderando o destino dos Terra remanescentes (ainda sobraram a cunhada e a sobrinha) rumo a futura cidade de Santa Fé.
A linhagem Terra segue com Bibiana, neta de Ana, filha de Pedro e quase uma reencarnação da avó. Nesse ponto o romance tem o seu grande momento com a entrada em cena do capitão Rodrigo Cambará, o aventureiro que chega a Santa Fé e com seu estilo arrebatador conquista Bibiana, dando origem à linhagem Terra Cambará, núcleo central do romance.
Rodrigo é o típico herói gaúcho. Amante da guerra, do jogo e de várias mulheres, se volta contra os poderosos da cidade angariando simpatias e inimizades na mesma proporção. Seu destaque na saga é tão evidente, ao ponto do capítulo que narra a sua trajetória se configurar em um livro várias vezes publicado em separado (Um Certo Capitâo Rodrigo).
Suas aventuras e seu dramático desaparecimento são o ponto de corte do tomo 1 de “O Continente”, estruturado por Érico Veríssimo como uma espécie de pêndulo, em que a ação seguidamente se alterna entre o passado e o presente, representado pelo cerco ao casarão dos Terra Cambará, agora comandados por Licurgo, neto de Rodrigo e Bibiana, durante a Revolução Federalista de 1895.
Um painel vigoroso da formação do Rio Grande do Sul magistralmente composto por um de seus filhos mais ilustres.

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Geraldo 03/05/2014

A GRANDE SAGA ÉPICA BRASILEIRA.
Devo confessar!!!
Todos os livros de literatura imposto pela escola, eu sempre achei chato. Me sentia obrigado a ler algo que naquele momento não estava afim de fazer e sem falar do linguajar rebuscado que grande parte dos autores colocam em suas obras. Na minha opinião um adolescente de 15, 16 anos não tem maturidade para ler Helena de Jose de Alencar ou mesmo Os Sertões de Euclides da Cunha.
Para mim Érico Verissimo estava no mesmo patamar, por isso sempre adiei sua leitura.
No começo deste ano passei minhas férias no Rio Grande do Sul e com a chegada do filme estrelado por Fernanda Montenegro e Thiago Lacerda; me despertou o interesse e ate mesmo o desafio de ler.
Foi uma nobre surpresa!!!
Que obra incrível, você vive cada drama, alegria e todas as mazelas de uma guerra.
Como não adorar Ana Terra, como não cair nos galanteios de Capitão Rodrigo Cambará, com o pulso firme de Bibiana?
Quem disse que no Brasil não existe uma saga a altura de Tolstoi ou mesmo Dostoiévski.
A obra apresenta um lingagem super acessivel, cada paragrafo você se delicia com os trejeitos, "causos" e cotidiano de uma familia que está ajudando a construir o estado do Rio Grande do Sul...Barbaridade!!!!
Fiz uma releitura para o ano de 2021, e o amor pela saga não mudou em nada.

CAPA: 8,0
CENÁRIOS: 10,0
DIAGRAMAÇÃO: 9,0
DIÁLOGOS: 10,0
NARRATIVA: 10,0
PERSONAGENS: 10,0

NOTA FINAL: 9,5
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Sara 01/09/2014

O Continente - Vol.1
Sempre tive vontade de ler essa obra, então resolvi aproveitar a oportunidade - teria que ler Ana Terra ou Um Certo Capitão Rodrigo para trabalho escolar - e resolvi ler tudo.
Achei impressionante o modo como o autor encaixa os elementos históricos no enredo, ligando o destino da família ao destino do Rio Grande do Sul.
Para quem não está acostumado com leituras um pouco mais antigas, pode ficar complicado em algumas partes, mas eu particularmente amei.
Ana Terra, protagonista do meu capítulo favorito, é uma mulher muito inspiradora e forte e nos dá vontade de enfrentar as coisas com a cabeça erguida e com menos medo de sofrer.
Bem, gostei tanto e fiquei tão curiosa sobre o que irá acontecer com a família e os eventos que os levam até o sobrado que até já peguei o volume 2 para ler.
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Nathy 23/04/2024

Conhecendo o Continente
Comprei o livro a algum tempo. Sempre tive vontade de ler Érico Veríssimo, então iniciei minha coleção. Comprei os volumes de O Tempo e o Vento e Olhai os Lírios dos Campos. O primeiro volume de o Tempo e o Vento, acabo de ler devido a um clube do livro. Os clubes sempre me ajudam a ler os livros que compro e vou deixando pra ler um dia...
O texto flui bem e envolve o leitor do início ao fim. Muito interessante a construção dos personagens em meio à história do Sul do país.
A escrita do autor torna a leitura ávida e prazerosa. O texto é muito rico em acontecimentos reais, além dos fatos ficcionais de seus personagens.
Ansiosa pelo próximo volume, mas acho que não o lerei tão rápido. Preciso tirar outros livros da estante do kindle.
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Lili 09/01/2015

O Continente
Livro esplêndido. Quem acha que não existem livros nacionais de qualidade com linguagem razoavelmente moderna (como eu achava), simplesmente não leu este livro. Personagens cativantes, cenários maravilhosos, pano de fundo histórico... De que mais precisa um livro para ser perfeito? Claro, uma narrativa envolvente. E isso Erico Verissimo oferece em abundância. Achei que o filho dele era insuperável; me enganei. Apesar de ser difícil comparar estilos tão diferentes, acho que o pai ganhou em genialidade.

E só para finalizar: o Capitão Rodrigo Cambará é o personagem mais apaixonante de todos os livros que eu já li, empatando somente com Mr. Darcy de Jane Austen. Só o capítulo dele já valeria um livro (como valeu).

Recomendado. Recomendadíssimo.
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Mayane25 11/03/2015

A sensação que mais gosto é a de ser surpreendida por um livro: foi exatamente o que o primeiro volume d'O Continente fez comigo. Ele me chegou em mãos quase por acaso e, confesso, não me agradou no comecinho. Achei que seria um daquelas narrativas clássicas de leitura difícil, no entanto o que aconteceu foi justamente o contrário. A escrita de Veríssimo, além de gostosa, é recheada da linguagem gaúcha, o que a torna bem característica e singular.

Senti saudades do livro assim que terminei de lê-lo. Isso se deu, em grande parte, pelo apego que acabei sentindo por alguns personagens, o que, sem dúvida, é inevitável. A coragem de Ana Terra, a teimosia de Bibiana e a ousadia de Rodrigo Cambará foram as principais responsáveis pela minha dificuldade em largar O Continente.

Desde já ansiosa para ler o volume 2. Aliás, a saga inteira!
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Newton Nitro 11/04/2015

Uma Obra Prima Brasileira de Leitura Obrigatória! A Saga da Formação do nosso Povo!
Encerrada a leitura do primeiro volume de o Tempo e o Vento eu afirmo, é a melhor saga épica brasileira que já li até agora. Já sabia que era fodásico, já sabia que o Érico é um dos maiores mestres da nossa literatura, mas véio, lendo com um olhar mais técnico, com olhos de escritor, caramba, a prosa do cara é medonha de boa.

Eu não esperava encontrar uma prosa tão cinematográfica, ágil, com abertura e fechamento de cenas impecáveis, transições temporais bem feitas, um equilíbrio de estrutura narrativa invejável e que mostra os quinze anos de labuta infernal que o Érico gastou na criação dessa obra-prima.

Para quem ainda não conhece a trama, O Tempo e o Vento: O Continente é o primeiro volume de uma trilogia que narra a formação do Rio Grande do sul pelo ponto de vista de personagens interligados pela família dos Terra-Cambará.

O Continente é dividido em pequenas noveletas, como sub-livros dentro do livro. Em O Continente temos quatro histórias, três histórias fechadas mas interligadas por meio dos personagens: "A Fonte", "Ana Terra" e "Um Certo Capitão Rodrigo", e a quarta história, "O Sobrado", é a trama que amarra toda a trilogia, unificando a obra.

É uma obra complexa em sua temática, apesar de leitura super acessível, daquele tipo de narrativa que você tem que ler a próxima página de qualquer jeito, ou seja, mais um livro para recomendar sem medo, todo mundo vai tirar alguma coisa da narrativa. Para quem gosta de escrever, considero leitura mais que obrigatória, as páginas do velho Veríssimo são aulas de escrita, com exemplos de construção de personagem e do que achei mais marcante, o entrelaçamento de monólogos interiores junto com ação e diálogos de uma maneira orgânica. Outra coisa que me chamou atenção é o modo como Érico trabalha com os símbolos da narrativa, especialmente o do Tempo e o do Vento, ressoando nas cenas, hora usando seus sentidos tradicionais, ora subvertendo seus sentidos.

Os temas são universais e super-atuais; a brutalidade e futilidade da guerra, o sofrimento feminino em um mundo patriarcal, a busca pela liberdade de ser, a crueldade imposta pela sociedade ao prender as pessoas em categorias fixas dependendo de sua origem, cultura, cor de pele, etc.

ANOTAÇÕES DURANTE A LEITURA (PODE CONTER SPOILERS)

Tempo e vento símbolos por todo o romance. Personagens se dividem entre personagens de vento, de tempo e de terra.

Pedro mestiço união dos povos, visionário, contador de histórias.

Ana terra, os Terra são os Stark do Érico Veríssimo.

Épico começa como os épicos clássicos, com o contexto do nascimento de um protagonista.

Estrutura impecável alternando presente e passado nos tempos verbais.

Joai caré, personagens são introduzidos pelos seus ancestrais, é uma história de gênese do povo do sul.

Ana Terra guerreira, fortíssima.

Uma aula para escritores, leitura obrigatória.

Símbolo do tempo e o vento por todo o romance.

Tema do aborto com Ana Terra.

Pedro, o pov misterioso, nunca sabemos o que ele pensa, tirando em sua infância e en alguns outros momentos.,ele é quase sempre visto por fora.

Ana transa sentindo a terra, como uma deusa, cena de sexo mitológico com Pedro, forças da natureza se misturando com os personagens, como nas histórias mitológicas de gestação de um herói.

Ana Terra, uma criação maravilhosa, peesonagem feminina completa, bem feita, bem construída, viva.

Pedro fala um português misturado com espanhol e é índio, o novo povo do sul.

Fantástico o desenvolvimento do romance de Ana e Pedro.

Música converteu os índios e pedro usa para converter os terra.

Música é vento também.

Histórias do joão malazarte histórias do negrinho do pastoreio figuras de trapaceiros arquétipo do trapaceiro crítica ao machismo do sul

Histórias são recontadas e novos detalhes aparecem

Personagens com grandes arcos dramáticos bibiana muda demais

O Velho Fandango personagem com a sabedoria do povo do sul

Símbolos interligam pela obra o sobrado a rocca o punhal personagens femininas reencarnam personagens masculinas em casa ressonância

O passado caiu sobre elas como sempre silêncio pesado

Pressentimentos são sempre verdadeiro

Povo marcial do sul, o médico pensa se a guerra atrapalhou a criação de uma cultura.

Trechos em poesia-proseada, ou prosa-poesia, como um épico clássico.

Isolamento no sobrado aumenta a pressão a níveis inimagináveis, lembrei do Iluminado do Stephen King.

Tensão em todas as cenas do livro, guerra fora, guerra entre as pessoas, vida é guerra.

Winter, metanarrativa comenta a trama de Luzia

Carl Winters como a voz do autor dentro do texto, suas cartas são para o leitor.

Carl Winters e o uso da estrutura narrativa espistolar, de cartas.

Preservação de ditados populares

Luzia apesar de sua doença nervosa, representa a nova mulher questionando o machismo

Luzia psicopatia misturada com apreço à cultura européia.

Luisa, a amoralidade da corte.

Dr winter - inverno europeu e o inverno do sul.

O sobrado como símbolo, bibiana quer tomar o sobrado, a história começa com o sobrado

A visão do doutor alemão dando um ponto de vista da civilização européia

Símbolo da roca

Ressonância da história da princesa Moura

Saga épica da formação do povo brasileiro do Sul

Símbolo do Cristo sem nariz

Velho Ricardo Amaral como o Deus do antigo testamento

Adaga sempre presente, no começo, no meio e no fim, com Rodrigo, com Pedro, etc.

Rodrigo rebelde vs Bento , rebeldia contra o antigo coronelismo

Capitão Rodrigo instinto puro

Capitão Rodrigo versão sulista do arquétipo do trapaceiro

Ricardo amaral e rodrigo tambará são sombras um do outro

Capitão Rodrigo e sua ligação com a música, ressonância com o mestiço Pedro do
começo da narrativa.

O tempo narrativo vai e volta, presente e passado, em meio das cenas, como o vento.

A terra comendo gente, os personagens fertilizando o futuro Rio Grande do Sul.

Bibiana, Ana Terra reencarnada. Voz carregando a ancestralidade feminina.
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Paulo 19/04/2015

Sensacional
Um grande amigo havia me recomendado veementemente a leitura em 2005. Livro é momento e o "Tempo e o vento" chegou em minha vida na hora certa. Quem disse que no Brasil não houve guerras? A história do Rio Grande do Sul é repleta delas e é nesse contexto que o autor nos brinda com personagens fantásticos. Narrativa perfeita. O capítulo sobre o capitão Rodrigo Severo Tambará, bêbado, mulherengo e bom de peleja, é espetacular. A crítica à sociedade patriarcal e ao papel das mulheres na sociedade agrícola permeia todas as páginas do livro. No momento, não me lembro de ter lido outro romance brasileiro tão bom quanto.
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Rafa P. 26/08/2015

Uma história inesquecível !
Lendo Erico Veríssimo pela primeira vez e recomendo. A história é uma delicia de ler, sem contar todos os fatos históricos que permeia a aventura desse povoado de Santa Fé. O livro é recheado e personagens memoráveis, corajosos e muito carismáticos. É uma gente sofrida, mas que desafia as adversidades em buscar de uma vida minimamente decente. O livro me empolgou do início ao fim, estou ansiosa pela continuidade.
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Francine 06/09/2015

Incrível
Para mim, com certeza é a maior obra da literatura gaúcha. Assim como toda a coleção O Tempo e o Vento, a leitura é muito gostosa, e traz excelentes referências a tudo que é relacionado à cultura riograndense. Seus personagens, para mim, são grandes ícones.
Super recomendo! E quem for ler, leia toda a coleção de O Tempo e o Vento.
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Alessandra @talvez1livro 13/09/2015

Érico Veríssimo é demais!
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jel 23/11/2015

Incrível!
Livro incrível! História gostosa de acompanhar que mescla a narrativa ficcional criada pelo autor com acontecimentos reais da história do sul do Brasil. O livro com toda certeza instiga o leitor a continuar acompanhando a saga o "tempo e o vento".
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Dani 20/01/2016

Emoção a cada palavra
Erico Verissimo é sem dúvida um dos grandes nomes da literatura brasileira. Embora não seja tão cultuado como outros grandes autores brasileiros, sua obra é magistral.
Em "O Tempo e o Vento" este autor gaúcho conta a história de seu Rio Grande do Sul com uma qualidade narrativa impressionante. Uma viagem entre o passado e o presente reconstitui toda a história e construção da linhagem Terra Cambará, revisitando personagens inesquecíveis como Ana Terra e Rodrigo Cambará, talvez os mais importantes de toda a obra do autor.
Erico consegue, através de sua delicadeza literária, desenhar a personalidade tão rica de seus personagens, com todas as suas nuances, criando seres quase palpáveis. Você vai se ver chorando ou sorrindo com eles, desejando o momento de retomar a leitura porque está "com saudade dos amigos". É o que eles se tornam: de tão reais, vão passar a fazer parte da sua vida e você vai chegar a duvidar que sejam somente fruto da imaginação deste grande autor.
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Lucas 18/05/2016

Épica colisão entre história e literatura
É grande o desafio para um leitor mais compulsivo definir o que é literatura. Ela pode ser definida como uma representação artística que demonstre determinado contexto histórico; uma obra que se eternize nos corações de quem a conhece, passando esse sentimento de geração para geração; outra definição que diz respeito à literatura presume que a mesma é uma "poesia romanceada" de certa realidade. Partindo destes pressupostos, conclui-se que aspectos históricos são fundamentais para que se esteja diante da literatura em sua essência. E é isso que justamente pressupõe O Continente, a primeira parte da trilogia O Tempo e O Vento, do gaúcho Erico Verissimo: uma varredura da história do Rio Grande do Sul, com a inserção de personagens reais e fictícios (estes últimos incrivelmente bem construídos).
Erico jamais concebeu sua principal obra como um romance regionalista, que visava especialmente demonstrar a história e costumes de determinada região, usando de metáforas que acabavam representando a sociedade em questão. Em O Continente, a fictícia história de toda uma família, os Terra Cambará, é contada, desde seus antepassados e suas várias gerações subsequentes. A história do Rio Grande do Sul entra neste processo como o fio condutor da narrativa, que determina de forma direta a vida e trajetória dos personagens mais importantes. Em suma, Verissimo não usa aspectos metafóricos para contar a história do seu estado; a formação cultural e territorial do Rio Grande do Sul funciona como uma bússola, que "guia" os personagens e seus destinos durante toda a narrativa. Assim, o leitor tem contato com uma ficção grandiosa sob todos os aspectos, e acaba aprendendo de forma épica boa parte da história do RS, já que os personagens sofrem na pele (literalmente) os seus efeitos e consequências.
A história gaúcha é recheada de conflitos políticos e bélicos. Ali, muito sangue civil, indígena e militar foi derramado nos cerca de 200 anos que a trilogia comporta, e que correspondem à ocorrência da imensa maioria destas "pelejas" históricas (entre a metade do século XVIII até a primeira metade do século XX). Verissimo lança luz a estas guerras, e usa delas para construir personagens únicos, que refletem bem a personalidade singular e controversa do gaúcho, cujos traços gerais são presentes até hoje na sociedade do Rio Grande do Sul. Um dos grandes méritos do autor é justamente este: fazer dos seus personagens símbolos do cidadão gaúcho. Homens de "opinião", radicais, alguns machistas, mas honestos e inspiradores. Mulheres tão guerreiras quanto os homens, que sofriam caladas pela teimosia de seus maridos, mas tomavam partido para defender sua família, seu pão e seus descendentes. Indubitavelmente, o gaúcho de uma forma geral ainda tem grande parte dessa conotação no restante do Brasil, e certamente, Erico Verissimo ajudou a construir esta imagem pré-concebida do povo do RS.
Personagens épicos são vários nesta primeira parte da trilogia, mas é absolutamente relevante destacar três deles: Ana Terra, mulher forte e sofrida, cuja trajetória de vida foi profundamente marcada por tragédias, que mudaram o curso de sua história; Bibiana Terra, talvez o personagem mais duradouro de O Continente, sendo também uma mulher forte, cuja vida foi moldada pelos conflitos trágicos da época, mas que adquiriu um caráter contraditório ao final da obra; e por fim, tem-se o capitão Rodrigo Severo Cambará, homem de inegável valor, profundamente polêmico mas, inegavelmente, carismático ao extremo. Há vários outros personagens fantásticos, mas estes três, certamente, correspondem a um desenho perfeito do homem e da mulher do RS em sua concepção histórica.
Para fins mais práticos, O Continente é, segundo a crítica geral, a parte mais sublime da trilogia. Isso é particularmente justificável, sobretudo pela abrangência dos anos: conforme já citado, O Tempo e o Vento se passa ao longo de 200 anos, e só a obra que abre a trilogia tem um lapso temporal de cerca de um século e meio, abrangendo desde o Brasil Império até a embrionária república. Outro ponto que reforça esta tese reside na quantidade dos já comentados personagens fortes, presentes em maior número em O Continente. Esteticamente, a obra em volume único lançada pela Companhia das Letras em 2013 (para promover o filme nacional, dirigido por Jayme Monjardim, e na qual se baseia a presente resenha) é muito bonita, mesmo sem ter capa dura e orelhas. As páginas amareladas, e, principalmente, uma árvore genealógica da família Terra Cambará trazem beleza e utilidade à obra. Outro ponto magistralmente exposto está ao fim do livro: uma linha cronológica dividida por capítulo, que localiza nos anos os fatos reais e acontecimentos de O Continente, e que elucida formidavelmente a narrativa (mas deve causar spoiler, se for analisada em momento errado). A construção da história contada também é profundamente inteligente. Verissimo foi muito feliz ao montar uma narrativa interrompida da "atualidade" (fim do século XIX), intercalando com passagens antigas. O Sobrado e suas sete partes correspondem ao ponto culminante e mais atual do livro, sendo simetricamente intercaladas com outros capítulos que explicam a origem dos personagens principais, cujas histórias acabam desembocando no sobrado em questão. Estas voltas ao passado engrandecem profundamente a leitura, pois são relativamente independentes entre si e contam a história individual de vários personagens importantes. Isto deve tornar O Continente uma das obras mais prazerosas de serem relidas em partes isoladas, em especial estes capítulos determinados. Impensável, por exemplo, não ficar tocado ao ler a história de Ana Terra e de "Um Certo Capitão Rodrigo", maiores expoentes deste raciocínio, que podem ser lidos isoladamente no futuro, quando o leitor sentir uma saudade compreensível d'O Continente.
Por fim, o livro é singularmente maravilhoso, único na literatura nacional, pois conta de uma forma muito rica boa parte de um dos estados mais importantes do país, o Rio Grande do Sul. Como todo clássico, recomenda-se que o futuro leitor tenha um conhecimento prévio mínimo de algumas questões históricas do estado, especialmente a Revolução Federalista, com a rivalidade entre Chimangos e Maragatos, que possui uma popularidade imensa ainda hoje no RS. O entendimento prévio deste conflito é essencial ao que acontece no início da obra, no já citado Sobrado, com suas voltas ao passado. Os demais conflitos anteriores são razoavelmente bem explicados no próprio livro, mas uma pesquisa simples durante a leitura destes pontos engrandece ainda mais a percepção da obra em si, especialmente no que diz respeito a personagens reais que são citados (como o guerreiro Sepé Tiaraju) e lendas, eternamente populares no coração do gaúcho (como a Teiniaguá e o Negrinho do Pastoreio).
A conclusão de tal aventura, que é a leitura da obra, reside no estado sublime que o leitor se encontrará ao fim da história. E quando um livro deixa o leitor neste estado, de graça e perplexidade, certamente é porque ele é especial, histórico, eterno... Definitivamente, é a literatura em sua essência.
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Natalie Lagedo 18/05/2016minha estante
Linda e apaixonante resenha! Você teve as mesmas sensações que eu. A história de Ana Terra é, sem dúvidas, a que mais me agradou. Sofri muito com ela.


Lucas 18/05/2016minha estante
Nobre Natalie! Também fiquei com esta impressão. Muito se falava a respeito justamente destes dois capítulos, Ana Terra e "Um Certo Capitão Rodrigo". A história da filha do sr. Maneco Terra também foi a que mais me encantou, talvez a melhor parte da obra. :)




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