O Continente

O Continente Erico Verissimo




Resenhas - O Tempo e o Vento: O Continente - Vol. 2


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Pri.Kerche 10/04/2024

Que Livro!
Entrei no “O Continente II” com a ânsia de saber mais sobre a família Terra Cambará e me deparei com a visão de um estrangeiro sobre a nossa terra e o povo de Santa Fé.

Sim! O Continente II inicia com a narrativa do ponto de vista do Dr Winter, médico, imigrante alemão. Ele observa e analisa a cidade e as pessoas com sua visão de europeu. Ao mesmo tempo que se encanta com a terra, Dr Winter se espanta com as pessoas fechadas, teimosas, atrasadas e desconfiadas de tudo o que é novo ou vem de fora.

Ao mesmo tempo que o médico sente saudade de sua pátria e pensa em voltar, uma inércia o impede de tomar a iniciativa de sair de Santa Fé. Afinal, são muitos quilômetros de estrada e mar, e ele vai se deixando ficar.

Dr Winter sempre pensa em Trude (amor da juventude que se casou com outro) e na escolha que fez de não se prender a nada (nem trabalho fixo, nem propriedades, nem relacionamento) para manter sua liberdade.

Mas voltando aos Terra Cambará, no Continente II tive vontade de esganar a Bibiana durante o livro todo! Seu apego aos bens materiais foi tão grande a ponto de destruir a vida do próprio filho ao incentivá-lo a se casar com Luzia, a herdeira do Sobrado. Este foi construído sobre o terreno onde antes ficava a casa da família de Bibiana e que foi tomada pelo avô de Luzia quando Pedro Terra não conseguiu pagar as dívidas.

Luzia (ou Teiniaguá) é uma moça linda, mas cruel e com traços de uma personalidade um tanto psicopata ou algo do gênero.

Não feliz em praticamente jogar o filho nos braços de uma esposa louca e má, Bibiana também vai morar no Sobrado e faz questão de viver em pé de guerra com a nora, colocando o filho na difícil posição de, constantemente, ter que escolher entre as duas.

Por si só, Bolivar já tem seus problemas, pois parece um tanto bipolar: num momento que está eufórico, no seguinte cai em profunda depressão por nada. Logo no início do livro, durante uma conversa sob a figueira da praça, ele próprio reflete sobre seus altos e baixos de humor enquanto inveja a calma do primo Florêncio, que não se exalta por nada.

Claro que esse casamento só poderia dar ruim. E deu! Culpa da Bibiana, em primeiro lugar.
Aliás, essa Bibiana representa claramente a mente retrógrada e apegada ao passado, pois em mais de uma passagem ela rejeita veemente qualquer progresso. Quando se fala em telégrafo ou trem de ferro, ela só deseja que essas novidades não cheguem ou demorem pra chegar a Santa Fé.

E também foi ela quem despertou um gatilho em mim.

Já quase no final do livro, Licurgo, neto de Bibiana faz uma festa na qual alforria 30 escravos. O livro mostra bem que o interesse é meramente a promover o "clube republicano". Os escravos estão ali apenas como objeto político, ficam o tempo todo no quintal e não participam da festa "dos senhores". O único momento que entram no Sobrado é ao serem chamados para receber a carta de alforria. E por sinal é um momento de constrangimento. No fim da cerimônia, a primeira palavra vem da boca atrasada de Bibiana que exclama para abrirem as janelas para "deixar o bodum sair".

Isso me doeu, pois lembrei da vó de minha avó, negra.

A festa se passa em 1884 e mais ou menos nessa época, em algum lugar do Rio Grande do Sul, Maria da Glória, com apenas 12 anos, era obrigada a se casar com um branco (agora não é do livro, é minha história de família), do contrário ele mataria sua mãe. Imaginem o que essa criança passou. Cresci ouvindo minha avó contar a vida da avó dela e essas memórias verdadeiras ficaram bem gravadas na minha alma. Por isso festa no Sobrado mexeu comigo. Mas o livro não é desrespeitoso, apenas mostra a história como foi de fato. A vida dos negros foi doída, assim como a de todas mulheres (independente da cor), pois eram também tratadas como propriedade, primeiro dos pais, depois dos maridos.

Mesmo a cruel Teiniaguá (Luzia), apesar de seus encantos e da riqueza, jamais foi dona de sua vida. Ela dizia que viver em Santa Fé era o mesmo que estar morta e, mesmo assim, nunca conseguiu ir embora, nem depois de ficar viúva.

Aliás, o mesmo aconteceu com o Dr Winter, que no final do livro, já velho, repensa a vida e conclui que foi inútil não ter se apegado a nada, pois ele manteve sua liberdade, mas nunca a utilizou para nada. Essa consideração foi tocante para mim.

Agora pensando na “alforria pra inglês” ver dada aos escravos durante aquela festa, no destino traçado para as mulheres já ao nascer e na liberdade nunca utilizada pelo Dr Winter, concluo que ninguém era livre de verdade em Santa Fé. Mas e nós? Somos livres?

Bem, como vocês podem ver, esse é um livro que mexeu demais comigo e eu amei. Fiz uma viagem na história, nos costumes e no meu interior.

É por isso que O Continente II é mais que uma obra de ficção, ele se consagra como Literatura Arte, um clássico sem sobra de dúvida.

Já estou ansiosa pelo próximo livro da Saga: e que venha O Retrato I.
Gleidson 10/04/2024minha estante
Excelente, amiga!! Livro marcante mesmo! ?


Pri.Kerche 10/04/2024minha estante
Mto marcante, Gleidson! Ótima leitura!


Gleidson 10/04/2024minha estante
Ótima mesmo! Principalmente com a companhia de vcs. ?


Pri.Kerche 10/04/2024minha estante
Companhia maravilhosa ?


Elton.Oliveira 10/04/2024minha estante
Parabéns pela resenha Pri !!! Tenho vontade de embarcar nessa obra ... Mas é muito extensa ! ... Tenho que me programar...


Pri.Kerche 11/04/2024minha estante
Elton, eu enrolei por anos kkk só tomei coragem qd a Michela falou q ia ter a LC. Mas a linguagem é super fluída, a leitura vai rápido.


Elton.Oliveira 11/04/2024minha estante
Eu imagino, pelos comentários que vejo dele !!! De Érico eu só li Incidente em Antares e foi muito bom !


Pri.Kerche 11/04/2024minha estante
Ah! Já li Incidente em Antares! Adorei, mas achei a primeira parte (histórica, antes dos defuntos) meio cansativa. Já o Tempo e o Vento nao é nada cansativa. A leitura flui mesmo como um vento kkk


aline 12/04/2024minha estante
Resenha incrivel, Pri! ??


Pri.Kerche 13/04/2024minha estante
Obrigada, Aline?




Clio0 01/04/2024

O segundo volume de O Continente apresenta a supremacia da família Terra-Cambará e a chegada de novos povos e costumes que confrontam a mistura de portugueses, espanhois e indígnas no sul.

A frente formada pelos pilares de matriarca e patriarca são também postas em cheque não apenas pela modificação no papel da mulher, mas pela formação de algo que é comum até hoje na família brasileira: a mulher para casar e a mulher para farrear - para não usar outro termo.

Licurgo, o último bastião dos gaúchos dos pampas, apresenta essa formação com sua esposa "de casa" e sua "amancebada" na figura de Ismália Caré. A família Caré, também descendentes de indígenas, aparece como a camada mais baixa da população, usada e abusada pelas elites locais.

É um ótimo fechamento para essa primeira parte. O Continente Familiar está completo.

Recomendo.
Marco 01/04/2024minha estante
parece bom


Pri.Kerche 05/04/2024minha estante
É ótimo!!


Pri.Kerche 05/04/2024minha estante
Excelente resenha, Pri!




Flávia Menezes 12/03/2024

?SOSSEGA, ALICE. É O VENTO...?
?O Continente ? volume 2? completa e fecha o primeiro Tomo da trilogia de ?O Tempo e o Vento?, do escritor e tradutor gaúcho, Érico Veríssimo, um homem que possui ascendência portuguesa tanto da parte de pai como de mãe, e cujo avô paterno era o Dr. Franklin Veríssimo, um homem de Cruz Alta que possuía um Sobrado, que era chamado de ?a sede do clã dos Veríssimo?.

Neste volume, o médico e amigo da família Terra-Cambará, Carl Winter, será os nossos olhos em Santa Fé pela maior parte da história, que aborda um período que vai de 1850 a 1895, e onde o fio condutor desta obra o liga a primeira parte do primeiro volume de ?O Continente?, também intercalando os capítulos intitulados de ?O Sobrado? com os demais, onde o autor vai tecendo as histórias dos descendentes dos Terra-Cambará através dos três novos capítulos ?A Teiniaguá?, ?A Guerra? e ?Ismália Caré?.


?Por que não me vou daqui? Por quê? Não sei. Alguma coisa me prende a esta terra. Não é propriamente afeição, não é amor. É hábito, e o hábito é como uma esposa que cessamos de amar e que já aborrecemos, mas à qual estamos apegados pela força... do hábito, e por preguiça. A inércia, Carl, tem muita força. A rotina é uma balada insípida de rimas óbvias?.


Mas se o Dr. Winter se prende a esta terra pelo simples hábito, isso não é o que eu senti como leitora. Especialmente porque os laços que vão sendo criados entre leitor e personagens é tão intenso, que começamos a nos sentir parte da família Terra-Cambará. Afinal, ?se um Terra é teimoso, um Terra com sangue de Cambará é uma mula, e uma mula coiceira?, e é essa personalidade difícil deles, combinada a tantas boas virtudes, que indiscutivelmente vai nos conquistando.

E falando em Licurgo Cambará, enquanto nos capítulos ?O Sobrado V, VII e VII? continuamos acompanhando os dias de junho de 1895 quando o Sobrado é todo cercado, e Licurgo precisa lutar não somente para enfrentar seus inimigos, mas contra a precariedade de alimentos, em ?A Teiniaguá? somos apresentados a sua mãe, a misteriosa e geniosa Luiza, que se casou com Bolívar Cambará, o filho de Bibiana e do Capitão Rodrigo Cambará.

Luiza muito me lembrou da personagem Cathy/Kate de ?A Leste do Éden?, de John Steinbeck, que assim como ela é essa figura atormentada por um passado obscuro que a faz ser essa mulher-feiticeira, que ao mesmo tempo que atrai e seduz, provoca medo.

O que particularmente é exatamente o que ela consegue fazer com Bolívar, que assim como seu pai, o Capitão Rodrigo Cambará, era um homem tão valente quanto era cheio dessa paixão que lhe corria pelas veias. Muito embora esse amor que o fez escolher Luzia, ande muito mais no caminho para o adoecer do que o satisfazer.

Mas é exatamente através dessa maga sedutora comparada a lendária figura da Teiniaguá, que conheceremos a origem do Sobrado, e qual a sua ligação com a família Terra-Cambará, que faz com que Bibiana fique tão obcecada por casar o filho para o quanto antes tomar posse do local.

Deixando os bons tempos de mocinha para dar contorno às implacáveis linhas da idade que chega, e se tornar a matriarca da família, a fala dura e bastante ácida de Bibiana é que acaba por abrandar um pouco essa personalidade intempestiva de Luzia.

Como cenário temos a Guerra do Paraguai (muito embora esta não seja a única guerra que será narrada), e é entre os pequenos e os grandes conflitos que Licurgo vai se tornando adulto, assumindo um importante papel de líder político de Santa Fé, motivado pelos ideais republicanos que guiam o Brasil desde 1889, não deixando de lado essa antiga faísca da rivalidade com a família Amaral, que aqui se engaja nas forças federalistas que opõem os chimangos dos maragatos.

Recheada por amores platônicos, guerras e conflitos, desavenças, e paixões ardentes proibidas, os momentos finais deste volume são tão intrigantes, que me fizeram questionar: mas qual será o destino dessa família?

Mas, como diz o próprio Érico nesta história: ?Não adianta a gente se preocupar. O que tem de ser traz força? (aliás, que frase cheia de poder essa!).

Terminar o tomo de ?O Continente? me faz perceber o poder de uma narrativa que vai além de apresentar fatos históricos tão importantes do sul do nosso país, e de nomes reais de homens e heróis que fizeram parte de momentos marcantes que estão escritos nos nossos livros de História, para ser este romance que, com seus monólogos interiores entrelaçados às cenas de ação e aos ricos diálogos desses personagens icônicos, se torna uma verdadeira aula de escrita!

Entre frases e parágrafos, é neste ínterim que o tempo e o vento vão se encontrando, se misturando, se enamorando e nos envolvendo de um jeito, que vai inflamando essa necessidade avassaladora que já não podemos mais ignorar, e que só será acalmada no instante exato em que o próximo tomo for iniciado.

Então? a mim? só me resta dizer: e que venha ?O Retrato?!
Marcio.Caten 12/03/2024minha estante
Dois estranhos em Santa Fé, Winter e Luzia. Mas o médico se perdia contemplando o horizonte, o pôr do sol, e foi ficando. Se não me engano ele gostou bastante da mistura de pinga e mel também. Mas Luzia não podia ficar, era uma incompatibilidade diferente.


Flávia Menezes 12/03/2024minha estante
Verdade, Márcio! E eu também senti o mesmo que você. O Dr. Winter, apesar de não amar de paixão Santa Fé, ainda se sentia acolhido pela cidade. Agora a Luzia? Ela era um ser sem morada? Mas é interessante como ela foi importante pra história, e mudou muito o rumo das coisas! Foi incrível esse final dessa volume!




Alê | @alexandrejjr 20/04/2021

Crônica sobre um épico

Que tarefa árdua, Erico. Como eu vou fazer isso? Como posso convidar desconhecidos para conhecer a mente de outra pessoa, no caso, a sua, Erico? Complicado…

Mas eu vou tentar. Posso começar pela galeria inesquecível de personagens irretocáveis, citando o doutor Carl Winter - que, cá entre nós, era a sua voz dentro do romance, certo, Erico? Quem sabe o embate estranhamente real entre Luzia Silva e a agora temida Bibiana Terra, uma personagem que, nada me tira da cabeça, será, graças à sua literatura, imortalizada como uma mulher de carne e osso nos becos da minha memória, parafraseando esse título maravilhoso de um livro da escritora Conceição Evaristo. Devo citar também o filho de Luzia e neto de Bibiana, o homem que carrega o sangue do capitão Rodrigo, Licurgo Cambará. O que será que o futuro reserva a ele nos próximos tomos? Bom, isso eu irei descobrir em seguida, sozinho.

Não, é pouco o que estou oferecendo. Talvez o caminho para convencer alguém a ler os dois primeiros tomos de “O tempo e o vento” seja argumentar sobre o ritmo hipnotizante da sua prosa. É uma boa opção, certo? Muitas dúvidas e poucas certezas sobre o que falar, Erico, como a boa literatura demanda.

A verdade é que qualquer tentativa de digitar palavras que expliquem a sensação de virar as páginas do segundo tomo do seu épico me parece inócua, Erico. Como explicar aqueles momentos em que, ao pegar o livro, eu fugia da minha limitada realidade entre as quatro paredes do meu quarto para um mundo onde a imaginação não tem limites? Como explicar essa viagem proporcionada pelas tuas frases e diálogos? É possível? Acho que sim, certo, pois é nisso que você acreditava. E eu também acredito.

Acreditei que tomava meu amargo (chimarrão, para os “estrangeiros”) enquanto os gaudérios puxavam fumo. Participei como um convidado vip das intrigas da família Terra Cambará. Estive nos corredores desse personagem à parte chamado Sobrado e acompanhei as andanças do tempo e as preocupações do metafórico vento dos acontecimentos através das reflexões das personagens secundárias e, é claro, do alemão, do estrangeiro Carl Winter. Vi o nascimento rasteiro de uma República pelos olhos das intenções ambíguas de quem queria o poder, enquanto os negros escravos eram alforriados e jogados à incerteza de viver algo que desconheciam devido à desumanidade de seus donos: a liberdade. E tudo isso aconteceu de um ponto de vista privilegiado, reservado especialmente para nós, leitores.

Obrigado, Erico.
Giovanna.Gregorio 20/04/2021minha estante
vou ler e a culpa é toda sua


Carolina.Gomes 20/04/2021minha estante
Ah! Essa intimidade que criamos com o autor qdo estamos embevecidos com sua obra... Adorei!


Amanda 20/04/2021minha estante
fiquei doida de vontade de ler, acho que aceitei o convite


Alê | @alexandrejjr 21/04/2021minha estante
Giovanna, eu posso arcar com essa culpa. ?

É mágico quando isso acontece, né, Carolina?!

E Amanda: não vais te arrepender!


Erika 21/04/2021minha estante
Amo O Tempo e o Vento, amo Erico com todo o meu coração. Excelente resenha!


Gi Carvalho 21/04/2021minha estante
Ótima resenha :)


Alê | @alexandrejjr 21/04/2021minha estante
Erika, ele é fantástico mesmo, dos melhores do nosso país. E obrigado pelo elogio, Gi.




Rosangela Max 13/01/2021

Excelente!
Concluiu com louvor a primeira parte desta trilogia maravilhosa de Érico Veríssimo! Sentirei falta de ler sobre como era a vida naquela época.
Marcia 14/02/2021minha estante
Um livro arrebatador! Li e reli vezes sem conta, totalmente encantada por personagens como Ana Terra e Bibiana Terra Cambará. Mulheres fortes e imprescindíveis para a história.


Rosangela Max 14/02/2021minha estante
Sim!!! Muito amor por essa série! ?




Michela Wakami 05/04/2024

Bom
Gostei, mas não amei. Faltou emoção e mais personagens cativantes, que na minha opinião, só tinha um, o doutor Carl Winter, que espero encontrar no Retrato, já que o autor faz alguns personagens desaparecer em um passe de mágica, que é algo que não me agrada.
Estou apostando na Maria Valéria, torcendo para ela ser a personagem de destaque no próximo livro.
Vanessa.Castilhos 05/04/2024minha estante
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Michela Wakami 05/04/2024minha estante
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Everton Vidal 23/04/2021

Segunda parte de “O Continente”. Continua a história da família Terra Cambará, protagonista da narrativa. Os capítulos retrospectivos são intercalados com os trechos do Sobrado, que correspondem ao tempo atual do livro (1895).

O foco da primeira parte é Luzia, mulher de Bolívar. Forasteira, bela, rica e musicista, que causa furor ao aparecer na pacata Santa Fé. Simboliza a quebra de regras sociais estabelecidas para as mulheres. O choque principal se dá com a sogra, Bibiana Terra, determinada a recuperar os bens do clã e controlar seu futuro através do neto.

O sobrado é o campo de guerra dessas duas mulheres antagônicas. O principal descritor é o alemão Dr. Winter, personagem criada para mostrar a cultura gaúcha a partir do olhar iluminista europeu, e que funciona ora como mediador, ora como confrontador do pensamento dominante eclesiástico e patriarcal.

A última parte se centra em Licurgo, que apesar de manter uma relação com Ismalia Caré, precisa se casar com uma “mulher de família”, escolhendo sua prima Alice. O clã Caré está presente em toda trilogia, frequentemente massa de manobra do campo e da guerra. São párias dessa sociedade, sobretudo as suas mulheres, que são sempre exploradas, em todos os sentidos.

Mais lento que o primeiro tomo, menos pitoresco por estar ancorado em Santa Fé, o livro ganha mais complexidade nos diálogos que tratam sobre diversos temas, políticos, religiosos, sociais e que giram principalmente ao redor da guerra. Um detalhe interessante está na questão dos símbolos que permeiam a obra: o tempo, o vento, os objetos que atravessam as gerações carregando significados (o punhal, o crucifixo, a velha tesoura de podar, a roca, a figueira e o próprio sobrado).
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gabriel2752 10/02/2024

É a continuação de uma história simplesmente heroica, única, regional, linda e tão bem contada e explorada pelo Érico, que me faz não saber como começar a falar sobre.
É incrível como sinto um real orgulho ao saber da história da minha própria região, que foi puramente banhada em guerras, revoluções. E acompanhar esses personagens tão vivos e reconhecíveis é uma experiência absurda. A reação dos personagens a cada situação é tão característica e é tão incrível acompanhar cada embate de pensamento, principalmente nesse ponto da história que se aproxima tanto da Proclamação da República e da Abolição da Escravidão. Esses pontos divergentes e, por vezes, que se repulsam como a descrença na revolução, ainda que sentida a necessidade de mudança mas que não parece se fazer possível, e a idealização da revolução, que por mais que leve para frente questões, acaba por ofuscar-se nela.
É incrível o destaque dado a Dona Bibiana e ao Doutor Winter. A própria escolha de destaque desses dois personagens para esse ponto da história é simplesmente genial.
É um livro que muitas coisas acontecem e tudo se desdobra de uma forma tão bem trabalhada. Eu sou apaixonado completamente por essa história.
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Thalita Souza 05/03/2023

Impecável!
Encerro a leitura do 2 volume (O continente part.2) de o Tempo e o Vento e vou afirmar, é a melhor saga épica brasileira que já li até agora. Devo confessar que tinha muito medo dessa leitura por ser uma série bem longa (7 livros), pensei que teria muita dificuldade para entender o linguajar e que seriam livros muito cabeça pra mim, estou feliz e impressionada em como estava errada a respeito dessa leitura.

Assim como o 1 livro, o 2 não decepcionou em entregar uma prosa tão cinematográfica, ágil, com abertura e fechamento de cenas impecáveis, transições temporais bem feitas, um equilíbrio de estrutura narrativa invejável.

A construção de personagem de Érico Verissimo são impecáveis e marcantes, assim como o entrelaçamento de monólogos interiores junto com ação e diálogos de uma maneira orgânica.

Os temas que Érico trás são universais e super-atuais; a brutalidade e futilidade da guerra, o sofrimento feminino em um mundo patriarcal, a busca pela liberdade de ser, a crueldade imposta pela sociedade ao prender as pessoas em categorias fixas dependendo de sua origem, cultura, cor de pele, etc.

É uma obra complexa em sua temática, apesar de leitura super acessível, daquele tipo de leitura que você tem cede e curiosidade para saber o que tem na próxima página, ou seja, mais um livro para recomendar sem medo, todo mundo vai tirar alguma coisa da narrativa.
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Luis 09/03/2011

Painel Literário da História Gaúcha.
Se o volume 1 de " O Continente", parte inaugural de "O Tempo e o Vento", são dominados por Ana Terra e pelo Capitão Rodrigo, quase toda a ação do volume 2 ocorre sob a influência de Bibiana,a submissa esposa do Capitão é a figura principal da sequência dessa obra seminal de Érico Veríssimo.
A trama central envolve a luta surda entre Bibiana e a nora, a enigmática Luzia Cambará, figura atormentada que atemoriza o frágil Bolívar, seu marido, que muito pouco lembra o Capitão Rodrigo, já que é um homem indeciso e sombrio.
A posse do neto Licurgo é o grande objetivo de Bibiana, que vê no menino a expressão máxima da continuação da saga familiar.
Talvez o livro decepcione um pouco aqueles que esperavam a atmosfera vibrante do primeiro volume. O ritmo é bem mais lento, marcado pelos embates psicológicos entre Luzia e a sogra, coadjuvadas por Bolivar. A narrativa é quase toda pontuada pelas reflexões do Dr. Carl Winter, que, através de seu olhar estrangeiro, traça um perfil dos personagens e das situações apresentadas.
O romance deslancha a partir da retomada da história do cerco ao Sobrado, iniciada no primeiro volume, quando Licurgo, já adulto, comanda a família na resistência dramática ao ataque dos Federalistas.
De qualquer forma, "O Continente", em ambas as partes, cumpre com louvor o papel de marco inicial do maior painel literário da história gaúcha.
Deividy 23/05/2018minha estante
Exata sua observação sobre o ritmo. ainda estou chegando na metade desse vol. 2 e reparei isso em relação ao vol. 1. claro q ainda assim é um livro muito bem escrito.
desde de incidente antares me tornei grande fã da escrita de Veríssimo.




caroukruger 15/02/2021

A escrita e forma de Erico conduzir essa história é incrível pra mim, cada detalhe bem estruturado independente da época e quem está envolvido no momento.
Podemos perceber como o passar nos anos nos mudam, mudam quem somos, quem queremos ser e como queremos nos parecer. O importante no início do 1º livro era ter uma grande estância e animais, já agora no final do 2º percebemos como a busca pelo status social, dinheiro, terras, rancho é muito mais relevante.
Começamos a ver o avanço da tecnologia, temos trens, carroças, carros e a energia elétrica sendo ponto de discussão.
Incrível o jeito que a história dos personagens e o tempo se desenrolam.
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Deco 23/03/2022

Fenomenal
A continuação de "O continente" é tão boa quanto o primeiro tomo. Érico verissimo conta a história do RS através da vida dos seus personagems. As sutilezas do autor ao descraver emoções e sentimentos, contrapondo-os as atitudes daquelas pessoas nos revela a alma de cada integrante da família Cambará.

A cena da festa no sobrado, durante o aniversário da cidade, comemorando a republica e a alforria dos escravo é o exemplo disso. Nas palavras, abolicionistas e republicanos defendiam a igualdade entre os homens, mas na realidade, tinham nojo, asco, raiva e até medo daquelas pessoas escravisadas, recém libertas. Enquanto os donos de santa fé comemoravam a manumissão dos cativos e os ideais republicanos comendo churrasco no sobrado, os probres ex-escravos, totalmente desamparados, foram relegados aos jardins, comendo batatas. A igualdade pregada pelos republicanos da época não passou do papel.
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Andrea.Rodrigues 19/04/2023

Continuação da saga
Neste volume seguimos acompanhando a saga da família Terra-Cambará. Ao longo do livro muitos personagens são apresentados, mas longe de causar confusão, pois o autor consegue criar uma personalidade pra cada um, ao mesmo tempo que por se tratar de uma família é possível perceber alguns traços se repetindo nos descendentes, as vezes parecem ciclos - lembrei de 100 anos de solidão quando Úrsula tem essa sensação de que parece que tudo se repete.

Acho algumas descrições de personagens até engraçadas, por exemplo - Luzia, moça que veio da cidade grande para vila de Santa Fé, os homens a descrevem como uma mulher bonita, mas ao mesmo tempo lhes causa um temor que só pode ser resumido em uma frase: "não nasci pra c0rn0 " ?

A qualidade da saga se mantém nesse segundo volume, a leitura flui e quando menos se espera já acabou, e esse volume tem um final excelente, esperar terminar os outros pra dizer se esse foi o melhor final da saga.
Natty 19/04/2023minha estante
Esperando a oportunidade certa pra ler essa saga. Érico Veríssimo foi um ótimo escritor ?????


Andrea.Rodrigues 19/04/2023minha estante
Eu decidi ler lentamente ao longo do ano os 7 volumes da saga e entendendo porque Érico Verissimo é considerado um dos grandes autores brasileiros ?


Natty 19/04/2023minha estante
Perfeito?????




Dani 17/10/2021

Minha própria saga - parte II
Mais uma tentativa de engatar o tempo e o vento frustrada.
É difícil de explicar: gosto da leitura e dos personagens, mas como aconteceu no fim do primeiro tomo, acabo a leitura meio q ?cheia? (no bom sentido) dessa família, tanto que preciso dar esse espaço.

Impressões:

- o primeiro tomo é o melhor!
- personagens que curti: Dr Winter e Luzia
- Bibiana me decepcionando
- legal acompanhar o momento histórico: república x monarquia e a questão da abolição
Alê | @alexandrejjr 17/10/2021minha estante
Tenho pra mim que o doutor Winter é um "Erico ficcionalizado". Que achas?


Dani 17/10/2021minha estante
Uiaaaaaa e minha mente agora ?


Alê | @alexandrejjr 17/10/2021minha estante
Pois é. É uma leitura minha, claro, mas pra mim ele é a voz do Erico entre as personagens, acho até que sugeri isso na minha resenha alguns meses atrás. ?


Dani 17/10/2021minha estante
Nossa achei isso muito interessante.
Vou lá ler o q escreveu e pegar o livro na mão pra ver se em alguma anotação pude ter percebido algo assim.


Dani 17/10/2021minha estante
Adorei o q vc falou lá sobre os personagens secundários. Eles são muuuuito bons!




Helô 25/01/2021

Mudanças...quantas mudanças!
Como diria Maneco Lírio: mundo velho sem porteira! Que história fascinante! termino a primeira parte de "O tempo e o vento" carregando a família Terra Cambará comigo. A disputa entre republicanos e federalista rendeu bons discursos e boas histórias. Coloco o Vento como personagem principal tanto do primeiro tomo quanto do segundo. Muitas mudanças são marcadas pelo Vento. De fato o Vento traz movimento...
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