Dudu Menezes 12/03/2024
Comecei sem me envolver e terminei querendo mais
Eu fui com uma grande expectativa para esta leitura e, de início, acabei me frustrando. Não pela qualidade da escrita, óbvio, mas pela atmosfera dos contos, que se mostrava muito focada nos dilemas e contradições da burguesia de sua época, como no conto que abre o livro, "Os objetos". Fiquei chateado. Não com a autora, mas comigo.
Segui a leitura. E, ainda nos contos seguintes, não me sentia completamente envolvido com as narrativas. Mas comecei a perceber elementos que me chamaram a atenção e que gosto demais: o humor, as mudanças súbitas da atmosfera e os finais, muitos deles, em aberto, como um convite ao leitor para tirar suas próprias conclusões.
Bom, daí a coisa começou a mudar mesmo. E, quando cheguei ao conto "Antes do Baile Verde", encontrei o que procurava. Uma autora que, além de ironizar os valores burgueses, a partir do inesperado e do fantástico, também revela sua preocupação com aspectos sociais muito importantes sobre o comportamento humano.
O que só veio a ser reforçado em "Natal na Barca", que foi um dos que mais gostei, devido à preocupação em escancarar a problemática da vida e da morte por meio de uma leitura atenta da condição social.
Depois, me defrontei com "Venha ver o pôr do sol", já envolvido com essa escrita, e vi que a forma como a sua narrativa se move, entre os diferentes tipos de opressão, tem a perspicácia de quem sabe dar os verdadeiros contornos psicológicos à narrativa. Aqui, ao meu ver, um conto que flerta com o terror psicológico, inclusive.
Ao finalizar o livro, com o conto "O menino", encontrei ainda mais do que procurava. De situações corriqueiras, passamos pelo que está por trás das aparências e nos defrontamos com os dilemas humanos; todos eles, para além das inquietações e dos valores da classe média alta dos grandes centros urbanos.
Indico muito a leitura!