Resenhas - Antes do Baile Verde

Alê | @alexandrejjr 07/01/2022

A indispensável sombra das intenções

Como fazer jus, em um espaço tão pequeno, à grandeza da literatura de Lygia Fagundes Telles?

Lygia Fagundes Telles. Lygia. Fagundes. Telles. Esse nome precisa ser repetido inúmeras vezes para que as pessoas compreendam o peso que ele carrega. Compreendam que a ficção não é distração. Compreendam que ficção não é (apenas) entretenimento. Compreendam que ficção não é desperdício de tempo.

Lançado em 1970, "Antes do baile verde" é, ao lado do romance "As meninas", a principal obra de Lygia. Este volume, hoje composto por 18 contos a pedido da autora, é monumental. Não há outra maneira de classificá-lo. Aliás, faltam palavras que dimensionem o tamanho do impacto das narrativas breves presentes neste livro.

Lygia aborda, com lucidez espantosa, as contradições da condição humana. Amor, inveja, ciúme, horror, adultério, violência. Cada narrativa breve de "Antes do baile verde" tem a força de despertar em seus leitores as mais variadas sensações.

Os sentimentos são expressos nas pequenas coisas. Eles podem estar presentes nos objetos que aparecem gradativamente para compor a narrativa em "Os objetos"; na revelação que desperta os sentimentos mais sórdidos de um irmão em "Verde lagarto amarelo"; na descoberta de um passado escondido (e teneboroso) em "Helga"; na reflexão sobre a natureza do sexo em um momento congelado no tempo de "O moço do saxofone"; em uma decisão sobre o pai moribundo antes de um bailinho de carnaval, em "Antes do baile verde"; no fantástico assombroso e absurdo de um homem sugado para a sua obsessão em "A caçada"; no tratamento indecente de um servo que pode resultar em consequências inesperadas em "Meia-noite em ponto em Xangai"; na descoberta da loucura em "A janela"; na dúvida incessante de um assassinato em "O jardim selvagem"; no diálogo intenso e sombrio numa noite de Natal em "Natal na Barca"; no desfecho inesperado de um encontro entre antigos namorados em "Venha ver o pôr-do-sol"; no jantar com gradações de humor e confissões entre amantes em "A ceia"; na simples e terrível descoberta do adultério e a consequente perda da inocência em "O menino". Não importa: a dama da literatura brasileira dá aos detalhes o grande protagonismo de suas histórias. E olha que aqui eu só coloquei os meus destaques...

A autora busca, portanto, compartilhar a responsabilidade da imaginação com os leitores, tornando-os 🤬 #$%!& mplices de sua genialidade. É através da indispensável sombra das intenções, nessa zona nebulosa que nega respostas simples e prontas, que Lygia ganha seus leitores. É na cinzenta relação entre o real e o irreal que a literatura perdura. E que a leitura de "Antes do baile verde" torna-se incontornável.

Afonso 02/11/2009

Final com fim não é importante.
Muitas das pessoas que eu converso sobre esse livro reclamam porque os contos não têm final.

Mas a autora consegue fazer exatamente o que os preceitos básicos de um conto pedem: história cativante em tempo curto. Uma história não tem a necessidade de um final com resposta - podemos citar Dom Casmurro - e às vezes isso a torna também mais intrigante: o que Lygia faz com perfeição, nas suas histórias com uma boa dose de perturbação.

Eu sou particularmente um fã de contos, e 5 estrelas é o mínimo que esse livro merece.

Michela Wakami 30/12/2022

Esse livro contém 18 contos, nos quais gostei somente de 6.


A chave

Um chá bem forte e três xícaras

O jardim selvagem

Venha ver o pôr do sol

Eu era mudo e só

As pérolas

Ana Sá 29/04/2022

"Garras de veludo"
Contos podem ter diferentes temas e estilos, mas o meu tipo favorito faz parte do grupo dos primos de primeiro grau das crônicas. Se estas colocam graça no cotidiano, os contos "crônicos" de que eu falo colocam uma lupa. Contos que emprestam uma lupa à banalidade, mas que ao ampliarem a imagem do detalhe, a desfocam. E cabe ao leitor imaginar o resto. Muitos textos de "Antes do baile verde" são assim.

Lygia é brilhante também naquilo que não nos entrega, ou sobretudo nisso. Uma autora que será eternizada também por aquilo que escondeu, sugeriu, sussurrou. Antonio Dimas não poderia ter acertado mais no título do posfácio: Lygia tem mesmo "garras de veludo".

calie 29/11/2020

aquele que me deixou duas vezes nostálgica
Há algumas semanas eu acordei com um trecho/enredo na cabeça de um livro que eu não sabia QUAL, mas que tinha lido em alguma das leituras obrigatórias do ensino fundamental. Para minha surpresa, depois de procurar loucamente pela internet quais poderiam ter sido as escolhas literárias da escola aquele ano, enfim encontrei "Venha ver o pôr do sol e outros contos", que li pela primeira e única vez anos atrás e ficou na minha memória sem que eu percebesse. A história que lembrei era justamente a que dá nome ao título, sobre o passeio de um ex casal no cemitério ao pôr do sol. Essa notalgia me afetou tanto que tive que buscar os contos da Lygia, e agora preciso dizer: foi MUITO interessante ler os que eu já conhecia e interpretá-los de verdade (coisa que imagino não ter feito aos 12 anos). Que contos impactantes e deliciosamente reflexivos sobre comportamentos humanos! Nem todos tiveram um início ou final claros, e os que terminaram em aberto me deixaram absorta na minha própria imaginação e interpretação. A autora não usou floreios e soube manter perfeitamente a fluidez da leitura, parecendo até que sua escrita é simples (embora eu ache que afirmar isso é apenas passar um olhar auperficial por suas obras). Lygia me fez suspirar em certos desfechos, e em outros, me deixou espantada diante de uma trama tão bem construída.

Geórgia 20/02/2022

Contos
Uns muito bons outros nem tanto. Os contos de Lygia Fagundes Telles se ambientam na zona urbana e perpassam as relações de uma classe média materialista, adúltera e egoísta.

Gio 09/09/2020

Sensacional! A escrita de Lygia é simplesmente maravilhosa. Com um tom delicado e elegante, ela descreve os sentimentos e emoções dos personagens de uma forma incrível, onde cada detalhe descrito no começo vai amarrar a história no fim. Os contos giram em torno dos diferentes laços familiares que existem e mostram a emoção neles existentes de uma forma delicada e profunda.

Fabi 20/09/2021

Lygia Fagundes Telles é fantástica! Nesses 18 contos muito bem escritos, ela nos transporta a diversas situações de vida que, ao meu ver, focam num mesmo tema central: o egoísmo do ser humano. Não sei dizer qual conto foi o meu favorito, pois tenho vários. E o mais interessante é o fato de que ela finaliza cada conto sem concluí-lo totalmente, deixando a cargo do leitor refletir no desfecho. Adoro!

Arsenio Meira 20/08/2013

E DEPOIS


Lygia Fagundes Telles é uma contista ímpar. Escrevesse em outra língua, já teria arrebatado Pulitzers, Goncourts e que tais.

ANTES DO BAILE VERDE é um marco na literatura brasileira. Imprescindível. Não há um conto mediano.

Todos, todos são excelentes.

Ao evocar cenas e estados da alma e da adolescência, e imprimindo em cada um deles uma espécie de tensão interiorizada (os personagens não se dispõem a enfrentar o mundo pela ação: recuam, subjetivando os conflitos), Lygia alcançou os mais belos efeitos que um escritor pode almejar.

Para Mariana, a minha gratidão.

Marcele 02/08/2022

Visceral
Sempre ouvi falar da escrita da Lygia Fagundes Telles, já tinha lido um livro é abandonado outro, pois contos não são meu forte.
Mas resolvi tentar novamente e dar chance para outros livros e iniciei esse de conto!
Antes do baile verde é um livro de conto, cheio de histórias que parecem relatos do dia a dia, mas que se vc perceber tem sempre uma nuance de suspense e dúvida! Achei sensacional!

Luciano 13/01/2021

Sensacional.
Um dos melhores livros de contos que eu já li. Surpreendeu bastante.

isabel 12/09/2021

meu primeiro contato com a literatura da lygia. são diversos contos que narram experiências humanas do cotidiano, geralmente através de diálogos, trazendo uma certa inquietação e curiosidade. o suspense que ela cria é tão bom que nem me incomodo com os finais que quase sempre nem existem, dando margem à imaginação. e sempre que eu terminava um conto eu sentia a necessidade de contar a alguém pra poder falar sobre antes de partir pra outro. enfim, amei demais a escrita dela!
meus contos favoritos: "A Caçada", "Meia-Noite em Ponto em Xangai", "O Jardim Selvagem", "Natal na Barca", e "O Menino".

Renato375 05/01/2022

Universo novo
O livro é a reunião de vários contos. Dentre eles o mais famoso tem o mesmo título do livro.

Foi a primeira vez que li algo da Lygia e confesso que de início fiquei pisando em um terreno novo, sem entender bem o que tava acontecendo.

São estórias carregadas de simplicidade e cenas da vida cotidiana, sem grandes efeitos de cena. Mas algo é impressionante na escrita da Lygia... sua capacidade de produzir cheiro, sabor e textura. Com essa particularidade seus contos ficam acessíveis ao leitor comum, foi a partir dai que comecei a compreender como cada personagem vivia num inferno de dúvidas e medos.

Alguns contos são marcantes e vão ficar na minha memória.

Os textos complementares no final do livro são excelentes pra ajudar a compreender o trabalho e impotência de Lygia.

Livro: E-book.

Lizzie.Alice 24/02/2023

Absolutamente atemporal
Um livro tão curto que contém tanta coisa dita e, principalmente, não dita.
Tem temas pesados contados em histórias aparentemente leves.
Só não dei todas as estrelas possíveis porque não entendi várias coisas, se bem que isso tem mais a ver comigo do que com o livro...
Enfim, Lygia é tudo de bom.

Luan 31/05/2021

Um livro de contos muito intrigante, com vários finais abertos e situações que te deixam bem pensativo e reflexivo. A leitura fica martelando na mente mesmo após o fim. Os contos de Lygia Fagundes Telles vão mais para a atmosfera do que para a intriga e a ação, isso é muito interessante. Gostei muito desse livro. Gosto da forma como Lygia Fagundes Telles escreve.