Mariana Sousa 06/07/2021Perfeito para ler Iniciei esse livro sem a menor pretensão, uma conversa entre amigas uma sugestão e eu resolvi ler para dar uma chance, a sinopse me prometia uma boa comédia romântica no maior estilo cão e gato, uma daquelas leituras despretensiosas para relaxar. Contudo, que bela surpresa! O livro é sim uma comédia romântica, mas a leitura é tudo, menos despretensiosa.
Como o resumo nos revela o romance é entre Flint, advogado, pai solteiro, bem sucedido e turrão e Ellen uma linda musicoterapeuta, cheia de vida e de sorrisos. O que a sinopse não nos diz é que ambos possuem mágoas, e que precisam lidar com suas histórias cheias de danos e perdas, o interessante é que cada um aborda de um jeito diferente os problemas que tem. Ellen não quer mais se enterrar em vida, cansou de se negar o direito de sentir emoções e prazer, já Flint se enterrou em vida, não se acha merecedor de viver qualquer felicidade, pois cometeu um erro imperdoável e que o modificou para sempre.
Até então nós temos os ingredientes de um grande clichê, mais uma história com potencial para ser boa e nada mais. No entanto, Perfeito para o papel trabalha de maneira primorosa as vulnerabilidades de seus protagonistas, tecendo uma narrativa envolvente, engraçada, comovente e realista. Nós vemos o lado bom e o lado ruim dos dois personagens, a história não faz com que tudo se resolva magicamente, pelo contrário a todo instante somos lembrados que aqueles dois estão lutando muito para serem as pessoas que são, nada vem de graça, a vida pode ser injusta, você vai se magoar e magoar as pessoas, mas o que define o fracasso da vitória é o esforço colocado para melhorar o que temos de ruim, mudar aquilo que nos incomoda e reparar os erros que cometemos.
A presença de Harrison é outro ponto chave, o menino de 12 anos filho de Flint é autista, inteligente e extremamente sincero, ele é o elo que promove a aproximação entre os adultos, o protagonista das cenas mais engraçadas, e suas interações nos revelam as muitas facetas de seu pai como um homem penitente, cuidadoso, paciente e dedicado e o lado brilhante de Ellen, como uma profissional sensível as necessidades daqueles que a cercam, acolhedora, perspicaz e intuitiva.
A inimizade entre Flint e Ellen não ocupa muito do enredo, seus desentendimentos estavam mais para pequenas provocações bem-humoradas, e em pé de igualdade. O que eu mais gostei foi justamente que a história não ficou focada no clima de ódio e atração, mas a aproximação deles que primeiramente se inicia por causa da atração se concretiza pela amizade, pela sinceridade com que cada um expõe ao outro as suas cicatrizes, que não são amenizadas ou tratadas como irrelevantes, mas que mostram que um tem, justamente o que o outro precisa. Flint se mostrou um dos melhores protagonistas, pois ao mesmo tempo que ele racionaliza muito o que vai fazer, as consequências e a culpa, ele também é um homem de ação, consciente de suas falhas e disposto a lutar pelo que quer ou pagar pelo seu erro.
A Ellen é o par perfeito, uma representação de delicadeza e força, uma mulher que foi castigada sem merecer e que ainda assim se manteve integra e esperançosa, ela é boa, mas não é boba, compreensiva e não santa. É impressionante como ela é vívida dentro da história por meio de gestos, sons e toques. São dela, as melhores palavras e as reflexões que mais nos tocam “às vezes...esquecemos que as maiores experiências que temos como humanos acontecem uns com os outros”.
Por tudo isso, só leiam esse livro, ele é muito mais do que o título entrega, e por falar nisso a explicação para o título e o uso da frase nas cenas são adoráveis. Se você quer uma leitura que equilibra o engraçado e o comovente, o sexy e o romântico, leia!