Paulo Silas 10/12/2017Uma obra pontual, objetiva e direta que intenta (e consegue com notório acerto) dirimir questões controvertidas acerca da filosofia de Nietzsche e do próprio filósofo. Autoridade nos estudos nietzschianos, Scarlett Marton estabelece alguns critérios sobre as leituras que são feitas sobre os escritos de Nietzsche, buscando evidenciar que aquelas mais rasteiras e apressadas, que acabam levando aos diversos equívocos interpretativos acerca de Nietzsche, devem ser afastadas, a fim de que o diálogo, o debate e as interpretações possíveis sobre o filósofo sejam concretas e escorreitas.
A obra elucida controvérsias que, por mais que superadas, ainda insistem em permanecer nas discussões sobre Nietzsche e sua filosofia. Daí a importância da escrita da autora ao colocar um ponto final naquelas questões que nunca fizeram razões de o ser, uma vez que fruto de tropeços do leitores, muitas vezes rasos, de Nietzsche. Alguns desse equívocos possuem explicações mais robustas sobre a sua origem, como por exemplo aquelas que decorreram da deturpação da obra do filósofo por sua irmã, levando muitas a interpretar de forma errônea as mensagens de Nietzsche. Outros erros, entretanto, são frutos de ingenuidade ou até mesmo pura má-fé do leitor. Seja quais forem os tipos de incompreensões surgidas pela leitura de Nietzsche, Scarlett Marton, de modo simples, porém, robusto, escancara-os e apresenta as elucidações devidas.
Conforme pontua a autora, "quem julgou compreendê-lo equivocou-se a seu respeito; quem não o compreendeu julgou-o equivocado". Eis um dos motes que deu ensejo as várias controvérsias sobre o filósofo, o que foi ampliado com o fenômeno do "modismo Nietzsche", já que todos querem falar sobre o autor, mesmo sem muitas vezes tendo estudá-lo.
Enfim, o livro traz à tona elucidações sobre as mais conhecidas e polêmicas discussões sobre Nietzsche, tais como as suposições equivocadas do nacionalismo exacerbado do filósofo, seu inexistente antissemitismo, seu peculiar niilismo, sua forma de escrita e alguns outros temas ligados a sua filosofia. A preocupação da autora, portanto, é a de sedimentar que algumas leituras sobre Nietzsche são equivocadas, não comportando espaço para esses tropeços nos debates e interpretações sobre sua obra.
O livro é ótimo. É uma obra que, mesmo dizendo pouco, diz muito para aqueles que pouco conhecem ou acham que conhecem a filosofia de Nietzsche. Não se trata de uma análise crítica profunda sobre os escritos de Nietzsche. Longe disso. Mas ao mesmo tempo, ganha espaço enquanto uma produção séria que contribui, e muito, para o debate.
"Nietzsche, Filósofo da Suspeita" é um pouco um livro introdutório e um pouco um livro de comentário, servindo assim aos já iniciados na filosofia nietzschiana e também aos iniciantes. Válido, portanto, para todos.
Leitura necessária. Recomendo!