Clara 25/08/2022
A sinfonia do meu ódio
A sinfonia das flores é um livro de 2020 escrito pela autora Luísa Ortiz. O livro conta a história de Lisbeth, ou Lis, como gosta de ser chamada; estudante de direito, recém-desempregada e se recuperando de uma desilusão amorosa, Lis segue os dias monótonos alternando sua vida entre os afazeres universitários e os cuidados com o irmão mais novo e a mãe alcoólatra. E é então que Ezra surge, o primeiro mocinho do triângulo amoroso, o qual estuda medicina na mesma universidade que Lis e cuida de sua avó com alzheimer. Em certo ponto da história surge Hector, o segundo mocinho, que balança o coração e a vida, até então tranquila e sem muitos agitos, de Lisbeth. O resto fica por conta da imaginação e leitura rs.
Esse livro começou bem morno para mim, apesar de ter gostado de como as coisas estavam se encaminhando nos primeiros trinta por cento da história. Inclusive, a escrita fluida da autora foi um fator muito importante para me fazer querer dar prosseguimento na história. O problema mesmo foi quando o triângulo amoroso começou. Eu tenho problemas com triângulos amorosos, mas sigo tentando encontrar uma história que me agrade nesse sentido; infelizmente, esse livro passou bem longe do agrado.
Em primeiro lugar, a coisa que já me deixou com o pé atrás da orelha foi a caracterização da Lisbeth. A personagem não foi bem descrita e sua caracterização foi rasa, mas o que realmente não pude deixar de notar foi o típico estereótipo de garota “diferente” por não gostar de certas “futilidades típicas de jovens”, introspectiva e que gosta de coisas “adultas” para alguém de 20 anos, como música clássica e ficar em casa lendo um livro clássico da literatura russa. Detesto quando a personagem feminina é descrita desse jeito, porque faz parecer que existe uma certa superioridade em ser “diferente” das outras garotas que têm outros interesses. É como se existisse um tipo certo de garota, o que apenas alimenta uma rivalidade feminina que acaba surgindo implicitamente. Mas isso também não significa dizer que uma personagem feminina não pode ser como a Lisbeth, mas é que a forma como ela foi descrita me deixou realmente incomodada por esbarrar em estereótipos de gênero que já estão pra lá de batidos.
Agora com relação aos protagonistas masculinos: o primeiro mocinho, o Ezra, é o típico personagem galã de novela da Globo que sente uma necessidade absurda de salvar a tudo e a todos, sempre querendo ser o herói da bagaça toda. Não preciso nem dizer que, apesar de preferir ele em relação ao Hector, esse personagem passa bem distante do tipo que eu costumo gostar. O Hector, por sua vez, é uma figura controversa, que é meio galinha e tem problemas com o álcool, mas que é bem humorado (às vezes). Como o Hector só veio aparecer lá pros quarenta por cento do livro, sinto que algumas coisas ficaram muito superficiais em relação ao passado complicado dele com a mãe e outras questões. No geral, não simpatizei dos mocinhos, e em muitos momentos eu só quis que a protagonista colocasse o nome de ambos na boca do sapo rs.
Os outros personagens foram pincelados bem por cima, e seus problemas também foram tratados de modo muito superficial. O autismo do Miguel - irmão da Lis -, o alcoolismo da mãe da protagonista, o transtorno borderline do Hector, o alzheimer da avó do Ezra… tive a impressão de que esses aspectos foram colocados na história apenas pra dizer “olha, aqui têm transtornos mentais e pessoas com uns problemas aí”. As questões levantadas não foram bem desenvolvidas, o que apenas me passou a sensação de superficialidade.
Por fim, o final. Além de extremamente apressado, o plot twist foi muito sem sentido pra mim, sem contar que o que rolou foi muito aquele meme das interrogações kkkkk não vou entrar em detalhes para não dar spoiler, mas me estressei muito lendo os últimos quinze por cento. Parece que tudo aconteceu certinho pro casal ficar junto e pronto, o resto foi deixado meio que lado. No geral, achei o livro bem mal desenvolvido e muito preso a certos padrões esperados em livros de romance.