João Bruno 24/08/2020
No ensino médio, todos somos obrigados a ler, diria até socados goela abaixo, a maioria dos clássico brasileiros, e por causa destas circunstâncias, eu por muito tempo amaldiçoei a existência da maioria dos autores nacionais.
Dentre eles, Rachel de Queiroz, que eu me lembro de ter lido O Quinze nessa época, mas tamanho era meu desgosto e minha raiva, que sequer lembro do que fala o livro.
Mas, assim como muitas coisas da juventude são deixadas pra trás ou aprimoradas com o passar do tempo, hoje indico e garanto que a literatura brasileira é uma das mais importantes e mais belas do mundo, já li, reli e conheci muitos desses autores tão odiados anteriormente, e hoje são meus preferidos.
Infelizmente, ainda tenho um resquício desse meu modo de pensar antigo, que ainda me atrapalha, tenho um certo preconceito com autores que não brilham sob os mesmos holofotes de por exemplo, Machado de Assis ou Guimarães Rosa, e ao meu ver, Rachel de Queiroz faz parte desses autores que não possuem o mesmo hype de alguns outros.
Mas, mais uma vez, eu me enganei ....
A forma como esse livro foi escrita é genial, acompanha a Maria Augusta desde sua infância até sua idade adulta, e nós não percebemos onde essa mudança acontece, simplesmente acontece, mais ou menos como a nossa vida, quando deixamos de ser criança e passamos a enfrentar o dia-a-dia da vida adulta? Quando terminamos os estudos? Alguns, sim. Quando casamos? Geralmente. Mas alguns idosos continuam crianças ao cuidar dos netos ... Então, essa transformação, essa mudança na vida, é sutil e subjetiva, exatamente o que acontece no livro, quando percebemos, aquela criança de outrora, agora lida com amores fracassados, com a depressão, com a morte ...
"Deixei de olhar para o mundo, que sempre me parecera tão bonito antes - o céu, as paisagens, as flores. Tomei horror a rosas - flores de enfeitar mortos, flores de enterro, feitas para cheirar dentro de caixões e por cima de túmulos."
Rachel de Queiroz me mostrou acima de tudo o poder que tem um livro, o poder que tem a escrita, um poder de transformação, de esclarecimento, e de dúvida também, incredulidade.
Pra mim o livro tem que ser assim, não apenas uma história "era uma vez" e "viveram felizes para sempre", isso é passatempo, mas o livro tem de ser, nem que seja nas entrelinhas, no inconsciente, um instrumento de transformação, um mapa, um professor.
Livro indicadissimo, uma história quase que real, que me fez refletir sobre como a vida passa e não nos damos conta, como damos valor ao que não deveríamos e negligenciamos o mais importante.
E reforçou ainda mais minha impressão de que a literatura brasileira é uma das mais incríveis do mundo.