Ingrid249 31/08/2020Um livro ou um diário?As Três Marias acompanha a história de três amigas: Maria Augusta, Maria José e Maria da Glória, desde a época do colégio. A história é contada na visão de Guta, e na primeira parte da narrativa, temos lembranças dispersas da época do colégio, sem seguir uma linearidade. Eu senti uma ambiguidade nessa parte, uma relação de amor e ódio com o colégio. Viver naquele pequeno mundo, cercada das amigas, era bom, mas ao mesmo tempo, não era. Da pra sentir a angústia de ficar preso ali, anos e anos, sem ver o mundo o real, tendo a infância prolongada, sem crescer de verdade. Essa parte carrega uma crítica ao sistema educacional da época também.
Depois disso, acompanhamos Guta se adaptando ao mundo real, crescendo, caindo na realidade de uma forma que o colégio não pôde prepará-la. Tenho a impressão de que ela passa a história inteira perdida, tentando se encontrar, que seus amores são frutos da sua imaginação, que todos aqueles anos em que ela foi obrigada a viver apenas de sonhos no colégio deixaram uma marca permanente, pois agora as experiências continuam sendo mais parte da cabeça dela. Falando em amores, muito difícil para mim situar que na época um namorado mal pegava na mão! Tem um certo encanto, talvez, mas essa repressão é triste. Em certos momentos de reflexão da personagem, me peguei perguntando quanto daquilo ali era Guta e quanto era Rachel.
Eu me senti melancólica a maior do livro. É como ler as memórias de alguém, como ler um diário, e a vida e a morte são tratadas com uma delicadeza simples. Eu estou angustiada até agora, pensando no relato daquela vida que parou ali, mas a história continua e a gente não sabe o que aconteceu.
Gostei muito de conhecer essa escritora, pretendo ler outras obras dela! Sua prosa poética atemporal ainda encantará inúmeras gerações, tenho certeza.