Luis842 27/03/2024
Livro de criança feito para educar adulto
Como nasce um poeta? José Mauro de Vasconcelos nos permite observar através desses olhos quando conhecemos Zezé, o personagem principal do livro.
Essa história coloca a falta e o excesso em uma batalha e conseguimos ver a dor deixada por essa luta. Incompreensão, falta de atenção, a ausência de carinho e ao mesmo tempo o excesso de injustiça, agressividade, a crueldade e principalmente a realidade.
A história do poeta Zezé de 6 anos que precisou crescer rápido demais, com o estado ?precoce? de sua mente. Fala sobre a sua vontade de ser poeta e também da morte não só física, mas da morte de pensamento e imaginação.
A história se transforma quando Zezé começa entender a realidade em que vive, se tornando quieto convém e agressivo quando é preciso, porém o que grita é uma vida de pobreza, falta de amor e muita pancada.
Temos vários personagens complexos: O pai desempregado e viciado; a mãe castigada pelo trabalho excessivo; a irmã mais velha totalmente negligente juntamente com o irmão também mais velo que Zezé; mas temos os personagens que o ajudam como a irmã Glória e o irmãozinho caçula Luís.
O poder de percepção de Zezé é tão gigante que em vários momentos conseguimos entender sua tentativa em tornar a ideia de mundo do irmão mais novo em uma ideia mais fácil, doce e sem dores.
Na sua busca por fugir da sua realidade, o que faz externando seus desejos mais íntimos, veremos ele sempre se voltando para a ideia de amizade. É uma constante procura por alguém que seja seu confidente e, ao mesmo tempo, demonstre um mínimo de carinho por ele. É assim que surge outro personagem extremamente importante para a história: o Minguinho. uma projeção criativa de si mesmo, em que os dois nunca discordam, sabem tudo um do outro. O confidente perfeito. Um pé de laranja lima.
O livro vai permear temas importantíssimos que precisam ser discutidos até hoje: abuso infantil, espancamento, linchamento público, extrema pobreza, agressividade e até suicídio ? tudo isso partindo de um menininho mirrado de cinco anos. Trata-se, a meu ver, da boa (e hoje clássica) literatura infantil ? aquela que, na verdade, deveria ser lida por adultos e para adultos.