Fernanda631 05/07/2023
O Clube P.S. Eu Te amo (P.S. Te Amo #2)
O Clube P.S. Eu Te amo (P.S. Te Amo #2) foi escrito por Cecelia Ahern e foi publicado em 10 de outubro de 2019.
Antes de morrer, Gerry deixou para a esposa uma série de cartas que deveriam ser abertas mensalmente, de forma a ajudá-la a encarar o primeiro ano após sua partida. Agora, seis anos depois de Holly ter lido a última carta, ela é obrigada a reviver seu passado doloroso: ao participar de um podcast contando sua experiência com o luto, ela inspira um grupo de pacientes terminais a fundarem o Clube P.S. Eu Te Amo, a fim de prepararem mensagens para seus entes receberem-nas depois que eles morrerem. Eles pedem a ajuda de Holly, mas ela sente que, se aceitar, estará se arriscando a voltar para um lugar ao qual ela não mais pertence.
Diferentemente do primeiro livro, O Clube P.S. Eu Te Amo é narrado em primeira pessoa, fazendo com que eu me sentisse ainda mais próxima de Holly. Algo que me agrada nessa história é o fato da protagonista não ser idealizada, o que significa que ela nem sempre faz as melhores escolhas ou age da forma mais simpática. Ela sofre, erra, aprende e busca seguir em frente de acordo com o que é capaz de lidar em cada momento — e isso nos dá uma sensação de conforto enorme, já que é sempre positivo encontrar uma representação tão humana de alguém.
Claro que a vida não é a mesma após perder o marido, mas Holly de algum jeito conseguiu seguir com a sua e se estruturar. Agora ela trabalha com a irmã em um antiquário, pedala pela cidade de Dublin (exercício físico foi uma das “tarefas” deixadas por Gerry) e está quase se mudando para a casa de Gabriel, seu namorado há dois anos. Até que aparece o projeto do Podcast sobre luto e Holly descobre que as feridas não estavam tão curadas quanto ela pensava.
O mais legal é que Holly não é apresentada como uma super mulher que venceu o luto e está disposta a compartilhar sua experiência, tipo “olha pra mim, perdi o marido e tô de boa”. Ela é apresentada em toda sua humanidade, cheia de medos, dúvidas, conflitos, egoísmo x altruísmo, sua segurança em xeque para ajudar pessoas que ela nem conhece.
Ao receber um cartão intitulado Clube P.S. Eu te amo, Holly sente que até essa frase pertencia a ela e ninguém poderia usá-la. O conflito entre um marido morto e um namorado vivo demonstram bem o que se passa em sua mente: afinal, ela deve embarcar em um novo futuro ou se apegar a um passado imutável?
A morte e o luto ganham uma nova abordagem na escrita da Cecelia, tão simbólica e verdadeira quanto no primeiro livro. A morte não é um assunto novo na literatura (nem na vida, diga-se de passagem), no entanto, é algo pelo qual muitas pessoas não querem passar, mesmo sendo a certeza de que todos, independente de idade, classe social, país de origem ou o que quer que seja, um dia irá enfrentá-la.
Ao conhecer a experiência das cartas pós-morte do outro lado, Holly pode mergulhar no universo de Gerry e entender melhor o que estava na cabeça dele. E ao conhecer Gerry, ela se autoconhece e se abre para um mundo de possibilidades tão inimagináveis quanto surpreendentes. A narrativa em primeira pessoa torna tudo ainda mais emocionante.
Além disso, descobrimos mais fatos sobre o relacionamento de Holly e Gerry, o que é bem legal. Por exemplo, como eles se conheceram e quando a morte passou a “fazer parte” da história deles enquanto casal. E de um modo muito sutil e delicado, seguimos amando Holly e Gerry enquanto também seguimos amando Holly e Gabriel.
A autora mescla diversão e emoção na escrita com habilidade, trazendo passagens ora mais sensíveis, ora mais divertidas. O humor suaviza o tema do luto e torna a leitura mais leve, sem deixar de ser comovente e inspiradora.
A morte é tratada em O Clube P.S. Eu Te Amo sob um olhar cuidadoso. Cecelia Ahern aborda, sim, as dificuldades e dores, mas, para além disso, faz da morte um estágio da vida a que todos nós estamos sujeitos.
Eu adorei ver personagens diferentes lidando com o enfrentamento da morte a seu próprio modo. Dessa maneira, a autora conseguiu justificar a existência da continuação: a atitude de Gerry e, em consequência, a compreensão de sua morte, é ressignificada aos olhos de Holly.
Com isso, temos também o outro tema do livro, ligado às constantes mudanças da vida. Estamos nos transformando e sujeitos às transformações o tempo todo e, para cada final de ciclo, há um novo começo.
E é claro que, como toda boa continuação, O Clube P.S. Eu Te Amo também proporciona reencontros. Além de matar as saudades de um dos casais que mais gosto, pude também me encantar ainda mais por ele, já que Cecelia Ahern nos presenteia com mais memórias da vida conjugal de Holly e Gerry, inclusive de momentos da adolescência de ambos. Foram passagens que me fizeram sorrir, chorar e me sentir ainda mais apaixonada pela história dos dois.
Também, adorei reencontrar os demais personagens, especialmente pela passagem de seis anos em relação ao fim do primeiro livro. Dessa forma, o núcleo principal é mais velho do que o comumente encontrado em livros de romance, o que possibilita que sejam demonstrados temas e problemáticas mais típicos de uma fase da vida mais amadurecida.
Por fim, vale dizer que O Clube P.S. Eu Te Amo tem, sim, sua dose de um novo romance, uma vez que Holly está em um relacionamento — e que é afetado por tudo aquilo que ela vive ao longo do enredo. Porém, o foco da história está na protagonista, em seu amadurecimento e constante processo de superação. Assim, virei a última página completamente emocionada.
Além do livro ser delicioso de se ler, traz os ingredientes na medida certa para divertir e tocar, o que fez dessa uma das minhas leituras mais inspiradoras do ano.