Missy 23/04/2024Tocou em feridas e virou um favorito da vidaUm dos melhores do ano com certeza. Eu demorei pra ler esse livro porque eu sabia que ia doer? e como doeu. Mas valeu a pena cada momento dessa leitura, dessa imersão. A escrita começa em segunda pessoa, bem diferente do que eu estou acostumada a ver, mas varia entre terceira e segunda também.
Toda pessoa devia ler esse livro e tentar entender pelo menos um pouco do que nós, pessoas pretas, passamos com o racismo. Eu me emocionei muito, muito mesmo por me identificar tanto. Uma dor que entendemos tão bem e que infelizmente, nem tem previsão de acabar.
O livro também mostra relatos tão crus de escola no interior da cidade, a falta de investimento, como os professores tão cansados, sobrecarregados, e ainda são mal remunerados, tentando fazer sua parte, mas o sistema é totalmente contra eles.
Achei a trajetória do seu Henrique tão interessante e importante de acompanhar, como ele percebeu o racismo, e como as pessoas ao redor acham que é brincadeira, que não existe tudo isso, que é exagero. A própria mãe do Pedro, achava que o problema era justamente falar sobre isso toda hora, que todo mundo era igual, logo ela uma mulher preta, que foi inferiorizada e sexualizada a vida toda. Achei necessário essa discussão de duas pessoas pretas sobre o racismo e suas diferentes perspectivas, que toda pessoa preta já passou na vida real também.
Só fiquei meio assim em relação as mulheres desse livro, uma hora achei que todas foram retratadas meio que mal sabe ? Talvez seja coisa da minha cabeça.
Agora a morte do Henrique, doeu demais e me emociono toda vez que lembro. Saber que nunca estamos a salvo, que sempre somos alvejados apenas pela cor da pele. A construção foi muito bem feita, e justo quando ele tava todo feliz por ta levando a leitura que ele tanto amava pros alunos? o mundo é um lugar injusto. Que dor saber que não vai ser o último caso.
Eu sempre vou lembrar desse livro, porque foi como se eu tivesse me vendo de novo descobrir como o mundo ao redor é racista, como a gente tá mais sujeito a tudo de ruim primeiro. Como o mundo é branco. Me destruiu, tocou em lugares dolorosos pra mim, abriu mais ainda minha mente, me fez incomodo, mas de certa forma me abraçou, porque me senti tão entendida e representada.
Um livro que vou levar pra vida com certeza.