joskegshikta 29/09/2022
Me senti vazio após terminar esse livro, sério, muito vazio.
Este é meu primeiro contato com esse autor e não poderia ter escolhido um livro melhor para começar! Estou certo de que daqui um tempo ele se tornará meu autor favorito.
Segui o narrador com tanto afinco, acabei me identificando com o Hajime, mesmo não sendo filho único temos muitos em comum. As complexidades dele são tão reais que me senti como um amigo próximo que estava a ler cartas deixadas para atrás após sua morte. Ele tem seus milhões de defeitos e eles não se resolvem apenas com um estralar de dedos, isso foi muito bem desenvolvido na história o quanto ele é humano é de encher os olhos de alegria ? o que eu já esperava pois já vi muitos elogios para esse autor em questões de personalidade dos personagens.
É simplesmente lindo, calmo e apaixonante. Não o li procurando por defeitos nem nada parecido, li imerso em sua história, e quando o acabei me senti vazio, solitário por completo. Me vi refletindo sobre certas ações que cometi quando mais novo e como poderia ter sido diferente se tivesse a mentalidade de hoje em dia, mas o que posso fazer não é mesmo? todo mundo erra ao menos uma vez na vida, não há nada que possamos fazer, apenas lamentar e tentar se redimir. A vinda e ida de Shimamoto foram com certeza os momentos mais importantes da leitura, o descobrimento das situações diante desse acontecimento foram de outro universo.
Nota: 4,8 ?
[ Quotes favs ... ]
E todas as vezes eu pensava que o que ela estava manuseando não devia ser apenas um disco, mas um vidro contendo a alma delicada de alguém.
----------------
Um redemoinho surgia e, a partir dele, brotava mais um, que depois se conectava a mais outro.
----------------
E eu também não sabia se valia a pena tentar explicar para outra pessoa essas coisas que eu sentia.
----------------
Pretend you?re happy when you?re blue
It isn?t very hard to do?
Hoje em dia eu entendo o que elas querem dizer, é claro: ?Finja estar feliz quando estiver triste. Não é tão difícil assim?.
----------------
?Eu, do jeito que existo hoje, cresci sem irmãos. Se eu tivesse irmãos, teria me tornado alguém diferente de quem sou hoje. Então, não faz sentido tentar pensar como seria se eu, como existo hoje, tivesse tido irmãos?. Por isso, a pergunta feita pela minha mãe era incoerente.
----------------
Quando voltei para casa, sentei diante da escrivaninha no meu quarto e fiquei encarando, por muito tempo, a mão que Shimamoto havia apertado. Eu estava muito feliz por ela ter feito isso. Essa sensação agradável aqueceu meu coração por vários dias. Mas, ao mesmo tempo, me deixou confuso, perdido, triste. Pois eu não sabia o que fazer com esse calor, para onde direcioná-lo.
----------------
Eu devia ter continuado bem próximo de Shimamoto. Eu precisava dela, e acho que ela também precisava de mim. Mas era inseguro demais, tinha muito medo de me machucar. Depois disso só voltei a vê-la muito mais tarde.
----------------
Até hoje, quando me lembro dela, o que me vem à mente é uma manhã calma de domingo. Um domingo tranquilo, ensolarado, que acabou de começar. Você não tem lição de casa e pode fazer o que quiser. Ela fazia eu me sentir em uma manhã assim.
----------------
Às vezes, um lugar novo pode mudar os sentimentos e o modo como o tempo passa.
----------------
Se ficasse ali, algo dentro de mim desapareceria.
----------------
Izumi não compreenderia. O que ela buscava naquele momento eram outros sonhos, outros mundos, lugares diferentes dos meus. Mas, no fim, antes mesmo dessa minha nova vida começar de fato, meu relacionamento com Izumi teve um final inesperado e súbito.
----------------
Mas, olhando para trás, muitos anos mais tarde, o que eu tirei dessa experiência foi uma única verdade fundamental: ao fim e ao cabo, eu era um ser humano capaz de fazer o mal. Nunca foi minha intenção fazer mal a ninguém. Mas, quaisquer que fossem meus motivos e minhas intenções, conforme a necessidade eu podia ser egoísta e cruel. Eu era uma pessoa capaz de tecer várias justificativas e ferir de forma irreparável alguém de quem eu gostava.
----------------
Era como se eu estivesse ocupando um lugar que pertencia a outra pessoa, vivendo de uma forma determinada por outra pessoa. Até onde este que está aqui sou eu mesmo, e quando deixa de ser? Essa mão que segura o volante é minha mesmo? Esta paisagem que me cerca é parte do mundo real? Quanto mais eu pensava sobre o assunto, menos sabia responder.
----------------
?Tudo vai desaparecer?, pensei. Algumas coisas desaparecem de uma vez, numa ruptura clara. Outras levam tempo, vão ficando cada vez mais difusas até desaparecerem por completo. ?E no fim sobra apenas o deserto.?
----------------
Às quatro da manhã, a cidade era miserável e suja. Sombras da decomposição e da ruína espreitavam de todas as frestas. E minha própria existência era parte disso. Como uma sombra queimada contra a parede.
----------------
Sentei ao lado dele e fechei os olhos. Aos poucos, o som da música foi se afastando, e eu fiquei sozinho. Nessa escuridão macia, a chuva continuava a cair.
----------------
É porque todo mundo busca, em maior ou menor grau, um lugar imaginário.
----------------
Tudo o que tem forma física desaparece, cedo ou tarde. Yukiko, o cômodo onde estávamos, as paredes, o teto, as janelas, tudo isso poderia sumir antes que eu me desse conta.
----------------
Depois do sumiço de Shimamoto, às vezes eu me sentia na superfície da lua, sem oxigênio. Agora que ela não estava mais lá, não existia um lugar no mundo onde eu pudesse abrir meu coração.
----------------
? É uma bela composição.
Eu concordei.
? Sim, é linda. Mas não só isso. É bem complexa, também. Escutando várias vezes você vai percebendo. Não é qualquer um que consegue tocar ? falei.
? Chama ?Star-crossed Lovers?, uma composição antiga de Duke Ellington e Billy Strayhorn. Acho que é de 1957.
?Star-crossed Lovers? ? repetiu Shimamoto. ? O que quer dizer isso?
? É uma expressão em inglês para um casal que nasceu sob uma estrela ruim, um casal desafortunado. Nesta música, estão falando de Romeu e Julieta. Ellington e Strayhorn compuseram uma suíte para apresentar no Festival de Shakespeare de Ontário, e essa canção era parte dessas obras. Na apresentação original, o sax alto de Johnny Hodges fez o papel de Julieta, e o sax tenor de Paul Gonçalvez, o papel de Romeu.
? Um casal que nasceu sob uma estrela ruim ? disse Shimamoto. ? Parece uma música feita pra gente, não parece?
? Somos um casal?
? Você acha que não?
----------------
? Quando olho pra você, às vezes me sinto olhando para uma estrela distante ? falei. ? É uma luz muito nítida, mas foi emitida há dezenas de milhares de anos. Pode ser o brilho de um corpo celeste que já nem existe mais. E mesmo assim às vezes é mais real do que qualquer outra coisa.
Shimamoto continuou em silêncio.
? Você está aí ? falei. ? Parece estar aí, mas pode ser que não esteja. Pode ser que isto seja apenas sua sombra. Que você de verdade esteja em outro lugar, ou já tenha desaparecido há muito tempo. Fica cada vez mais difícil, para mim, saber o que é real. Mesmo quando eu estendo a mão e tento tocar, você se esconde atrás de palavras como ?talvez? e ?algum tempo?. Até quando as coisas vão continuar assim?
----------------
Você fica lá, entra dia e sai dia, vendo o sol surgir ao leste, atravessar o céu, desparecer no oeste? até que, de repente, alguma coisa arrebenta e morre dentro de você, puff. E aí você larga o arado no chão e sai andando rumo a oeste, sem pensar em nada. Vai em direção a oeste do sol. E continua andando, sem parar, sem comer nem beber, como se estivesse enfeitiçado, até cair morto no chão. Isso é a histeria siberiana.
----------------
Quando Nat King Cole começou a cantar ?Pretend?, Shimamoto o acompanhou baixinho, como ela costumava fazer.
Pretend you?re happy when you?re blue
?It isn?t very hard to do?
(Finja que está feliz quando está triste
?Não é muito difícil de fazer?)
----------------
Ao sul da fronteira, pode ser que o talvez exista. Mas, a oeste do sol, não há talvez.
----------------
Fiquei pensando nesse mar até que alguém se aproximou e pousou de leve a mão nas minhas costas.