Carlos.Vergueiro 01/03/2022
UM MARCO PARA O ENSINO DAS ÁFRICAS
Se Leila Leite Hernandez com sua obra foi fundamental para a introduzir o ensino de história e cultura da África após a implementação da lei 10.639/03 nas escolas brasileiras, Muryatan com uma obra didática para o grande público consegue apresentar e debater temas essenciais para nortear o estudo sobre as Áfricas pós-independência, tornando sua obra um marco histórico para os quase 20 anos da lei .
O "lugar-comum" que muitas vezes é apresentado o conhecimento sobre as Áfricas fincado em um passado mítico é problematizado a partir da leitura de diversas correntes africanistas do século XX. Percorrendo caminhos já traçados por africanos (Mudimbe e Ngoenha, por exemplo), uma obra brasileira com a leitura do processo de construção do conhecimento sobre a África - mesmo que panorâmica - é necessária para que os currículos das escolas brasileiras passem a construir conhecimento e não só desconstruir estereótipos.
Além disso, tem a ousadia de recolocar os marxistas africanos no debate ao levantar a bola de Padmore, Richard White, Nyerere, Walter Rodney, Samir Amin, Amílcar Cabral, muitas vezes negligenciados nos estudos africanistas brasileiros. Vibra com autores como Hountondji, Boulaga e Towa para assumir o risco de criticar Appiah e Mbembe, queridinhos dos estudos africanistas brasileiros.
É uma obra panorâmica crítica que aponta caminhos para as pesquisas em África, mas também para brasileiros que estudam as Áfricas. Jogar luz aos "saberes endógenos" para cada cultura e nação africana talvez seja, para quem ousa estudar a fundo as Áfricas, uma forma de não cair nas iscas de conceitos vazios do pós-estruturalismo ou do afro-diasporico.
SIA-VUMA!