Vinicius.Dias 30/08/2020
Muito pesado
Se você está familiarizado com o nome Nikki Sixx, já sabe o que esperar desse livro. Se você já conhece a banda Motley Crüe, sabe que vai ser pesado, muito pesado. Pra quem não sabe, Nikki Sixx é um dos membros fundadores e baixista da banda de Glam Metal, Motley Crüe. Essa banda é uma das principais e mais perigosas desse gênero que se popularizou na década de 80 em Los Angeles e posteriormente no mundo todo.
O Glam Metal (conhecido como Metal "Farofa" aqui no Brasil) ou Hard Rock dos anos 80 é um gênero conhecido pelas canções grudentas e cheias de refrões para cantar junto, figurino extravagante, estética andrógina, letras exaltando o estilo de vida de sexo, drogas e rock'n'roll e muuuuuitas baladas românticas pra dar aquela preparada no terreno para momentos mais calorosos. Das principais bandas, podemos citar além do Crüe, Bon Jovi, Ratt, Twisted Sister, Poison, Warrant e a mais popular e conhecida delas, o Guns N'Roses.
Contexto dado, vamos ao livro. No Natal de 1986, Nikki estava em uma espiral de excessos. Excesso de drogas, de álcool, de sexo e de arrogância, ou seja excessos bem presentes no estilo de vida rocker. Em meio a tudo isso e sozinho em casa, ele decide começar a escrever um diário por 3 motivos:
1 - Se lembrar do que fez no dia anterior;
2 - Por se sentir sozinho e necessitar de um amigo;
3 - Para o caso de morrer, ser a sua carta de despedida/suicídio.
Ou seja, pesado! Muito pesado!
Aqui podemos conhecer as feridas do Nikki, os problemas de abandono que enfrentou na sua infância e as rebeldias da sua juventude que somados às facilidades trazidas pelo sucesso culminaram numa bomba relógio prestes a explodir. Seu pai o abandonou e ele nunca teve a oportunidade de conhecê-lo, sua mãe tinha problemas com a avó e viviam em um cabo de guerra para saber quem cuidaria dele. Isso, só pra exemplificar um pouco dos problemas que são abordados nessas páginas.
Nikki era uma pessoa depressiva e que usava drogas para fugir dessa realidade. Porém com as drogas a realidade dele não era das melhores. Sua rotina consistia praticamente em cheirar cocaína, surtar achando que estava sendo perseguido, se armar e ficar em guarda na casa como um verdadeiro Scarface e após a paranoia chegar num nível máximo de tensão, se trancava em seu closet para tomar um pico de heroína e apagar. E isso aconteceu praticamente por um ano inteiro.
Em meio a toda esse loucura temos um pouco dos relacionamentos que ele tinha na época, sejam amorosos, com a família, traficantes ou com a sua banda. Também acompanhamos o lançamento do álbum Girls, Girls, Girls e a turnê que o seguiu. Um ano bem movimentado.
Um retrato bem triste e doído de como as drogas te jogam no fundo do poço e da dificuldade de conseguir vencer os vícios. No caso do Nikki, ele precisou morrer para se reerguer e mesmo com um deslize ou outro já se encontra sóbrio a mais de uma década e completamente ativo criativamente, lançando músicas com sua outra banda Sixx:A.M. e com projetos de fotografia que abordam a beleza marginal das ruas.
Esse livro teve uma primeira edição em 2007 e em 2017 uma nova edição expandida que é a abordada nessa resenha. Para a maioria das transcrições do seu diário existem comentários feitos pelo próprio autor e por pessoas envolvidas. Isso engrandece ainda mais o publicação e dá a opção de termos uma segunda versão dos fatos. Vale comentar também a beleza do livro. As páginas são coloridas e repletas de pinturas e desenhos muito bacanas. Para quem comprou na pré-venda, vem acompanhado de um poster, marcador de páginas próprio e um bonequinho do Nikki para ser montado usando as técnicas de papel modelagem. Aquele padrão de qualidade que a Editora Belas Letras mantém em todos os seus lançamentos.
Acho que vale comentar uma coisa, esse diário foi escrito por um rockstar vivendo no fundo do poço em um momento de ascensão de sua banda na década de 80. Ou seja, é um livro muito machista e sexista e em um determinado momento existe uma agressão a uma mulher bem difícil de digerir. Não é passando pano quente pros problemas, mas a realidade na época era outra e infelizmente não temos como voltar no tempo para mudar, apenas aprender com esses erros, não cometê-los novamente e lutar para que mudanças nesses âmbitos ocorram.
Eu, particularmente sou um fã da banda, e gostei muito do livro. Ele me prendeu do início ao fim e acho que é um assunto bem importante e que escancara o inferno que é a vida de pessoas viciadas e que se encontram perdidas, mas também é um livro que traz esperança. Que mostra que mesmo no fundo do poço existem maneiras de se reerguer e coloca a figura do Nikki como um grande exemplo disso. Ele continua sóbrio e continua em uma reabilitação que durará até o final de sua vida. Espero que ele consiga com esse livro aquilo que almeja, ser a ajuda para pessoas viciadas e que faça a diferença na vida delas. Como ele disse, se ajudar uma única pessoa que seja, já valeu a investida. Eu concordo e torço por isso.
Se joguem e se permitam viver um pouco desse inferno caótico que foi o ano de 87 na vida dessa lenda do Rock'n'Roll. Vale muito a pena!
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