Best-Seller: a literatura de mercado

Best-Seller: a literatura de mercado Muniz Sodré




Resenhas - Best-Seller: a literatura de mercado


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Ive Brunelli 17/09/2012

Por uma reinterpretação conceitual
Publicado em 1985, as questões expostas neste livro permanecem atuais. Considero procedente a discussão sobre o conceito best-seller sob os pontos de vista histórico, mercadológico e literário, em especial porque, de maneira geral, há uma crença mais ou menos disseminada de que best-seller é uma forma menor de literatura. Essa “minoridade” pode ser atribuída em contraposição ao conceito de “alta literatura”, “literatura clássica” ou “literatura culta”.

Mas, afinal, o que é best-seller? É tão-somente um livro destinado ao consumo do grande público? É simplesmente um livro que vende muito, ainda que seus editores não suspeitassem que isso fosse acontecer? Um livro feito intencionalmente para ser comercializado, independentemente de suas reais qualidades artísticas? Um livro popular, incapaz de agradar a pessoas cultas?

Este texto permite uma reinterpretação do conceito: sim, best-seller pode ser tudo isso e muito mais: não depende nem da qualidade nem da intenção dos editores em torná-lo um sucesso de vendas. Inclui literatura ruim feita com intuitos puramente mercadológicos, literatura boa produzida para esses mesmos fins, literatura que se tornou grande sucesso independentemente da qualidade que a crítica ou a academia atribuíram à obra, tudo distribuído em qualquer gênero, seja filosofia clássica, romance policial, comédia romântica ou autoajuda.

Antes de darmos asas ao preconceito, é preciso entender que, vendendo muito ou pouco, há livros bons e ruins, públicos-leitores com interesses diversos e, claro, um mundo editorial interessado em ganhar dinheiro com um produto chamado livro.

A seguir, apresento um resumo comentado dos pontos altos do texto:

Duas literaturas – O autor apresenta a dicotomia entre “literatura clássica” e “literatura best-seller”. A primeira ganha esse status a partir de um reconhecimento, geralmente por parte da academia e da crítica, de seus elevados valores artísticos. A segunda tem seu estímulo de produção apoiado puramente no jogo de oferta e procura do mercado leitor.

Como surge o conceito de best-seller – O termo “best-seller” também é conhecido como “literatura de massa”, “literatura de mercado”. Deriva do folhetim, primeira forma de grande sucesso encontrado pela literatura publicada serialmente nos jornais.

Elementos clássicos do best-seller, encontrados já nos “Mistérios de Paris” de Eugène Sue, folhetim pioneiro da primeira metade do século XIX: arquétipos míticos, elementos jornalísticos, intenção de “ensinar alguma coisa” e uso de elementos retóricos já consagrados. Esses elementos persistem até hoje nas obras de grande sucesso de vendas, guardando-se algumas proporções.

Como surge o conceito de “literatura clássica” – É com Gustave Flaubert que o escritor (folhetinista ou não) passa a ganhar status de artista. Ele deixa de escrever por uma causa externa (mercadológica ou não) e passa a valorizar fortemente o ato de escrever. A arte da escrita passa a ser mais importante que a história contada. Em contraposição à ideia de entretenimento e sensação, o texto passa a abrigar sentidos de história, psicologia e metafísica, por exemplo.

Diferenças importantes entre literatura de mercado e literatura clássica: a segunda requer participação do leitor para produzir sentidos, enquanto a primeira apresenta conteúdos prontamente decifráveis. Na literatura culta, a passagem para outras mídias (o cinema, por exemplo) “a transposição do livro para um outro meio altera a natureza da obra original porque esta se acha comprometida com a língua escrita”. Por sua vez, na literatura de mercado, “a passagem para outros meios implica outros códigos (regras de organização dos conteúdos), mas não muda a estrutura básica (...) No cinema ou no livro, uma história permanece fundamentalmente a mesma porque o mais importante são os conteúdos”, não uma reflexão sobre eles.

Alguns mitos presentes no best-seller – Os conceitos de herói e epopeia. A luta contra o monstro, a solaridade, a soberania, a paródia, a vitória do bem contra o mal, a verossimilhança, o lirismo, o drama, a narrativa.

Gêneros que podem vender muito – Romance policial, ficção científica, romance de terror, romance sentimental, história de aventura, telenovela, filme de gângster, thriller, história de detetive, romance de espionagem.

Todos esses gêneros são ricamente exemplificados: as obras de Agatha Christie, Edgar Rice Burroughs, Harold Robbins, Isaac Asimov, Barbara Cartland, Bram Stoker, John Le Carré, Frederick Forsyth e muitos outros autores são discutidas no texto.

Sim, existem “fórmulas de sucesso” – A partir do uso de arquétipos mitológicos, informação jornalística, pedagogismo e retórica, a indústria livreira tem projetos para financiar autores que consigam combinar elementos para o sucesso da obra. Ele cita o caso de Tubarão, de Peter Benchley, cuja história foi totalmente encomendada como um caso homólogo ao clássico Moby Dick, e tudo terminou em milhões de dólares tanto na literatura como no cinema.

Esta é a segunda releitura que faço deste ensaio. Embora antigo, constato que o texto continua atual e que cabe a nós, leitores, com bom senso e perspicácia, escolhermos aquilo que realmente vale à pena entre a imensa diversidade de produtos que o marketing da indústria editorial nos oferece todos os dias nas livrarias. Esse marketing às vezes nos engana. E feio.
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Wlange 04/06/2021

Best-seller: a literatura de mercado
Livro curtinho e antigo sobre a origem e as características da "literatura de massa". Li pra minha pesquisa do mestrado. Achei meio fraco em alguns pontos, mas em geral acrescentou bastante.

Um livro mais recente que complementa bem esse é O segredo do best-seller, de Jodie Acher e Mathew L. Jockers.
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Fabiana.Keller 01/09/2016

Interessante
É muito interessante. O livro me ajudou a compreender o mercado e os seus interesses.
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Sarah 30/03/2019

Best-seller
Um ótimo livro sobre um tema geralmente considerado pouco importante.
Muniz Sodré trata o best-seller como literatura de fato, não subliteratura, como geralmente é rotulado.
Um livro muito interessante que pode ser lido em poucos horas e nos faz pensar bastante no que caracteriza esse gênero, como ele surgiu e a partir do que.
Ele também explica um pouco dos subgêneros dessa categoria como: romance policial, romance sentimental, thriller e vários outros.
Apesar de ser um livro de 1985 ainda se mantém bastante atual embora fosse ser ótimo ter uma versão com alguns exemplos mais recentes.
No final, ele trata bastante sobre telenovelas e como elas podem ser consideradas best-sellers brasileiros.
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