Luciano Otaciano 12/12/2020
Livro excelente, uma obra comovente!
Olá caros leitores e caríssimas leitoras, preparados para mais uma resenha literária. Venham comigo descobrir minhas impressões à respeito da obra.
Se precisasse definir Apátrida em uma palavra, sem dúvidas o classificaria como emocionante. Com destreza a autora nos apresenta a um contexto tocante, envolvendo-nos com a dor e o sofrimento daqueles que presenciaram a segunda guerra mundial. O fato é que, esse, por si só, já é um tema comovente, é difícil não se deixar emocionar com as perdas e o sofrimento que afligiram a humanidade nesse período, ainda mais quando paramos para refletir sobre os motivos que levaram a tantas mortes. Será que a ânsia pelo poder justifica a necessidade de subjugar os desejos de seu próximo? Até que ponto algumas nações estão dispostas a ir para alcançar seus objetivos? O fato é que na guerra, ou no dia a dia, nossa sociedade, infelizmente, não se preocupa com as consequências de suas ações, o importante é a realização própria, independente do que isso possa causar aos seus semelhantes.
Assim, logo no início da leitura fui enlaçado pelas palavras e sentimentos presentes em cada página da narrativa. Eu, que faço o tipo de leitor que se emociona facilmente com o que lê, derramei um bocadinho de lágrimas fácil ao compartilhar das experiências de Irena, que como uma bibliografia, nos conta os detalhes de sua vida, partilhando conosco todas as suas lembranças, desde as mais felizes, até as que mais dolorosas.
Nascida na Polônia, em uma família simples, Irena ao nos apresentar suas memórias conta sobre as boas lembranças de sua infância, as brincadeiras, as amizades, os fortes laços que mantinha com seus irmãos e pais. Fala-nos também, de seu primeiro amor, das descobertas e dificuldades que esse sentimento causou, e então, de como a guerra chegou para tirar dela, aos poucos, os feixes de luz e paz que existiam em sua vida.
Partindo dessa premissa Ana Paula cria uma obra para lá de tocante, envolvente e muito comovente.
Como vocês já sabem a Polônia, por estar em meio à Alemanha e antiga União Soviética, foi considerada um ponto estratégico, de forma que por esse motivo, foi dominada pelas forças alemãs. Desta forma, subjugados à dominação das tropas de Hitler, os poloneses sofreram duramente com a guerra, sendo tratados como uma raça impura, muito inferior à raça ariana. Por isso, Irena e sua família presenciaram o que existe de pior na guerra, o medo, a dominação, as perdas, as mortes. Suas experiências são intensas, cada fato descrito por Irena nos assombra, a realidade, mesmo que indireta, de sua narrativa, é algo que nos envolve de uma forma inimaginável.
O ponto forte do livro é a forma com que Irena narra sua história de vida, ligando fatos do passado com seu presente, ou vice-versa. Isso permite que possamos compreender o quanto a personagem amadureceu e principalmente, o quanto a guerra deixou cicatrizes imensuráveis. Entretanto, de forma surpreendente, mesmo tendo passado por momentos muito difíceis, Irena ainda sorri para a vida, e de uma forma simples ensina-nos que, na guerra, não existe um lado vencedor, todos os envolvidos, independente de qual deles acredite ter saído vitorioso, sofre perdas. E que mesmo durante longos períodos de dor e sofrimento, sempre existe a esperança de que um dia, a tristeza cederá lugar para a felicidade.
A escrita de Bergamasco é bastante dinâmica, o que dá a narrativa a fluidez necessária durante toda a diegese.
Apátrida é o tipo de livro que marca o leitor, que nos faz refletir sobre o passado, o presente e o futuro da humanidade. Afinal, o preconceito idealizado pelos que se denominavam a raça pura, é tão diferente, do preconceito racial ou cultural que ronda nossa sociedade? Outro ponto de reflexão é que, ao imaginar quantas pessoas existem no mundo que compartilharam das mesmas experiências que Irena, o livro nos faz pensar se todas elas foram tão fortes como ela, que foi capaz de dar uma chance a si mesmo, deixando o passado para trás.
Além de uma ótima trama, o livro conta também com uma narrativa dinâmica, prendendo-nos aos detalhes da vida de Irena. Sendo assim, o livro me conquistou por completo. O trabalho que a autora teve de pesquisar nomes e fatos históricos referentes ao período narrado, tornou a obra ainda mais legítimo, misturando de uma forma quase imperceptível, ficção com realidade. Diante dos aspectos por mim mencionados, não posso deixar de indicar o livro. Posso afirmar que,
sem dúvida, é um dos melhores livros nacionais que já li. Em resumo, Apátrida é uma obra que mexerá completamente com o emocional do leitor, portanto esteja preparado para derramamento de lágrimas. Finalizo por aqui, espero que tenham gostado da resenha e até a próxima!