Toni 16/11/2020
Elefantes barrem [2020]
Beatriz Leal Craveiro (SP, 1985-)
Penalux, 2020, 196 p.
“Há pessoas que preenchem o espaço e quando vão embora não sabem que apagam a luz” diz o novo romance de Beatriz Leal Craveiro. E é assim mesmo que nos deixam seu estilo fragmentário, suas personagens ambivalentes, sua intrincada costura de passados-presentes e presentes-passados. Construída a partir de diferentes pontos de vista, a narrativa se concentra em uma família brasiliense marcada por uma sintaxe de extravios e dissoluções, renúncias e transcendências, ansiedades e manias. As gêmeas Lívia e Lavínia, os pais Orlando e Cristina, e mesmo o namorado “anagrama do pai”, Ronaldo, são vozes que atravessam angústias de gerações e encontram, cada uma à sua maneira, formas precárias de resiliência ou liberdade.
‘Elefantes barrem’ trata de transtornos psicológicos e depressão de maneira sensível e com originalidade—um livro que engatilhou uma bad na primeira leitura, trouxe conforto na segunda e me deixou encantado nesta terceira. A economia narrativa de Craveiro revela um estilo preciso em que cada peça do romance tem sua importância e razão de ser, encobrindo e revelando sentidos que se comunicam até mesmo (ou sobretudo) através do silêncio. Do título à arte de capa, das referências pop-culturais à playlist no Spotify, há uma engrenagem social e psíquica em movimento nas entrelinhas que nos coloca diante dos pedaços dos outros que formam nossas identidades, ou, nas palavras da autora, daquele “fio das pessoas se afogando em si mesmas” no qual nos tornamos.
Barrido é o nome que se dá ao barulho dos elefantes. Um sopro agônico, que irrompe com violência como os sopros de vida de Lívia e Lavínia, gêmeas em tudo opostas, herdeiras do caos e da melancolia que determinarão seus destinos. ‘Elefantes barrem’ é o segundo romance de Beatriz Leal Craveiro, que também publicou em 2015 'Mulheres que mordem' (já recomendado na série ‘Literatura e Ditadura’ nos meus destaques). Fiquem atentos que logo-logo conversaremos sobre este lançamento numa Live.