Thiago Barbosa Santos 16/01/2018
Meninos, um primor
O primeiro livro que li do autor baiano, radicado no Rio e membro da Academia Brasileira de Letras. “Meninos, eu conto” é curto, formado por três contos que trazem a história de três meninos diferentes, mas que poderiam ser um só, pois de certa forma as histórias deles se completam, eles têm características similares também. Moram em povoados distantes, nos rincões do Brasil, no meio rural, onde ainda não chegaram os recursos tecnológicos que são tão comuns na nossa sociedade. Parece um outro universo, que ficou lá atrás, num passado distante, do qual quase não nos lembramos.
Em “Segundo Nego de Roseno” Antônio Torres traz um menino que se esforça ao máximo para orgulhar o pai, severo. Ele ganha um dinheiro do padre, o qual ele ajuda durante as missas, e negocia com Nego de Roseno, comerciante da cidade, a compra de uma camisa nova, moderna, chega todo orgulhoso em casa mas o pai se desagrada, bota defeito na camisa e o manda desfazer o negócio. O garoto sai de casa vivendo aquele dilema, não queria desobedecer ao pai mas ao mesmo tempo morreria de vergonha de desfazer um negócio, voltar atrás na palavra. No fim do conto, o garoto ouve o pai comentar que estava orgulhoso do filho, pois ouviu Nego de Roseno dizer que o menino “É um homem”. O que na região significava que ele era maduro, já agia como um adulto.
“Por um pé de feijão” mostra um raro momento de prosperidade no sertão, chuva em abundância, terra fértil e alta produtividade, “um ano bom”. Porém, um incêndio, de origem desconhecida, destruiu a plantação de feijão da família do segundo menino. Para quem acho que a desesperança viria em seguida, não conhece a alma briosa do sertanejo, que no dia seguinte já espera o tempo bom, uma nova oportunidade, aquele pedacinho de terreno que não foi danificado pelo fogo para iniciar um novo plantio.
O último conto é o melhor de todos. “O dia de São Nunca” narra a história de três forasteiros que chegam a uma pequena cidade e mudam a rotina do vilarejo, que passa a elaborar uma série de teorias sobre aqueles três, de onde vieram, para onde foram, o que foram fazer na cidade. Os três visitam um menino órfão de pai, que vive entrevado em uma cadeira de rodas, e estava sozinho em casa na hora do encontro, a mãe, que é rezadeira, estava trabalhando na roça. Os forasteiros tiram muitas fotos do menino, levam um santo de madeira feito pelo tio do garoto e saem prometendo voltar com presentes. A mãe se revolta com o que roubo, cobrou das autoridades porque deixaram os forasteiros entrarem na cidade, agirem à vontade. É um conto que fala sobre crenças e o respeito pela fé alheia.
É um livro primoroso, muito bem escrito, tem muita poesia em cada linha. “Meninos, eu conto” me deixou muito curioso para conhecer os romances de Antônio Torres.