spoiler visualizarLarissa 25/03/2022
A história de Mowgli, o menino lobo, está presente na minha vida desde a infância. Incontáveis foram as vezes que dancei e cantei com a animação clássica da Disney, que eternizou "Os Livros da Selva" para toda uma geração. Por esse e outros motivos, era pulsante a vontade de ter contato com a obra original de Rudyard Kipling e de conhecer todos aqueles personagens icônicos do modo como foram concebidos.
Porém, antes de falar sobre a experiência que tive com os contos de Mowgli, é preciso esclarecer que "Os Livros da Selva", de Rudyard Kipling, não contam apenas com as histórias do menino lobo, mas também com outros contos ambientados na selva indiana e em outras regiões do planeta. A informação da presença de outros contos que nada tem a ver com as famosas histórias de Mowgli e seus amigos me causou uma grande expectativa, que infelizmente esteve longe de ser superada. Salvo algumas exceções, os contos "extras" desta edição foram em sua maioria chatos e chegaram para mim em momento inoportuno.
Todo o carisma, a delicadeza e os detalhes presentes nas histórias de Mowgli parecem faltar nas demais narrativas que, sim, tem o seu valor, dependendo do que cada leitor espera encontrar, mas simplesmente não funcionou comigo.
Sobre os contos de Mowgli, seriam necessárias muitas linhas para dizer o quanto eu me encantei com a narrativa que Kipling criou para as origens do menino lobo e todo o desenvolvimento da sua dualidade. Mowgli cresce obedecendo às leis da selva, mas é sobretudo um filhote de homem e a sua humanidade se sobressai em muitos momentos, apesar de ele mesmo não reconhecer o seu pertencimento à raça humana durante boa parte da narrativa. Por exemplo, em um dos contos Mowgli descobre um grandioso e antigo tesouro que é guardado há muito tempo por uma Naja majestosa, mas não é capaz de compreender o valor dele para o homem. Para Mowgli, o tesouro é apenas um punhado de pedras bonitas, mas que não permitem a ele garantir nem o alimento e nem a sobrevivência na selva. Porém, no conto que narra o seu embate final com o tigre Shere-Khan, Mowgli utiliza de artimanhas e de um espírito caçador que apenas um homem seria capaz de ter. Entre outras coisas, a dualidade de Mowgli faz dele uma espécie de senhor da selva, temido e respeitado por animais, homens e nós, meros leitores deste século XXI.
A quem se interesse pelo tom da narrativa, posso dizer que ela muitas vezes se aproxima da adaptação em live action lançada pela Disney em 2016. No filme, não houve apenas uma reinvenção da animação clássica, mas uma verdadeira visita às páginas originais de Kipling. O lema da alcatéia, a trégua da água e a lenda da flor vermelha são alguns bons exemplos do tipo de coisa que você vai encontrar ao ler os contos de Mowgli, que são em minha opinião, carregados de ensinamentos sobre a importância da lealdade, da amizade e da preservação da natureza.
Por fim, esse contato com os originais de Mowgli, serviu também para aumentar o meu entusiasmo em torno dessa história que sempre foi tão querida por mim. Se você, assim como eu, sempre foi apaixonado pelas versões "enfeitadas" de Walt Disney, eu garanto que não vai se arrepender ao mergulhar de cabeça nessas páginas, pois mesmo em um contexto mais "cru" ou "adulto", o que não faltam às histórias de Mowgli são uma boa dose de humor e afeto! Vida longa à Selva! ?