spoiler visualizarDanielle.Zische 26/12/2022
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Não tenho o costume de ler ensaios, mas este gostei bastante, apesar de ter demorado muito para finalizar a leitura.
É uma leitura gostosa e instrutiva.
Publicado em 2013, o livro nos traz um ensaio cuja proposta é a análise cultural, mostrando as mudanças do que se considerava como cultura na época de Llosa e nos dias atuais.
Logo no início, o autor já nos traz o conceito que deu origem ao título, a civilização do espetáculo.
"O que quer dizer civilização do espetáculo?
É a civilização de um mundo onde o primeiro lugar na tabela de valores vigente é ocupado pelo entretenimento, onde divertir-se, escapar do tédio, é a paixão universal. Esse ideal de vida é perfeitamente legítimo, sem dúvida.".
E continua, incluindo a sua crítica na explicação, com a qual finalizo essa resenha.
"Mas transformar em valor supremo essa propensão natural a divertir-se tem consequências inesperadas: banalização da cultura, generalização da frivolidade e, no campo da informação, a proliferação do jornalismo irresponsável da bisbilhotice e do escândalo.".
(...)
"A liberdade é um bem precioso, mas não está garantida a nenhum país e a nenhuma pessoa que não saiba assumi-la, exercitá-la e defendê-la.
A literatura, que respira e vive graças a ela, que sem ela asfixia, pode levar a compreender que a liberdade não é uma dádiva do céu, mas escolha, convicção, prática e ideias que devem ser enriquecidas e postas à prova o tempo todo.
E, também, que a democracia é a melhor defesa já inventada contra a guerra, como postulou Kant, algo que hoje é ainda mais verdadeiro do que quando o filósofo escreveu, pois quase todas as guerras do mundo há pelo menos um século ocorreram entre ditaduras ou foram desencadeadas por regimes autoritários e totalitários contra democracias, ao passo que quase não há casos ? as exceções precisam ser procuradas como agulha em palheiro ? de guerras em que se confrontem dois países democráticos.
A lição é claríssima. A melhor maneira que as nações livres têm de obter um planeta pacificado é promover a cultura democrática. Em outras palavras, combatendo os regimes despóticos, cuja simples existência é ameaça de conflito bélico, quando não de promoção e financiamento do terrorismo internacional. Por isso, faço meu o chamamento de Wole Soyinka para que os governos do mundo desenvolvido apliquem sanções econômicas e diplomáticas contra os governos tirânicos, que violam os direitos humanos, em vez de ampará-los ou de fechar os olhos quando eles perpetram seus crimes, com a desculpa de que assim garantem os investimentos e a expansão de suas empresas. Essa política é imoral e também inviável, no médio prazo. Porque a segurança oferecida por regimes que assassinam seus dissidentes (como o do general Abacha, na Nigéria, ou a China que escraviza o Tibete, ou a tirania militar da Birmânia, ou o Gulag tropical cubano) é precária e pode desintegrar-se em anarquia ou violência, como ocorreu com a União Soviética. A melhor garantia para o com ércio, o investimento e a ordem econômica internacional é a expansão da legalidade e a liberdade por todo o mundo. Há quem diga que as sanções são ineficazes para impulsionar a democracia. Acaso não funcionaram na África do Sul, no Chile, no Haiti, para acelerar a derrubada da ditadura?"