Higor 15/11/2019
'Lendo Nobel': sobre lutas de classes e posicionamentos políticos
A pessoa mais velha a receber o Nobel de Literatura, aos 88 anos, Doris Lessing também tem uma vasta bibliografia, com mais de 80 livros, que se dividem entre os aclamados e os desprezados pela critica especializada.
Basicamente, a obra de Lessing se divide em três: a primeira, de cunho politico comunista, aborda temas sociais de maneira ácida. A segunda fase se concentra em temas biográficos, psicológicos e intimistas; já a terceira, a mais desprezada, foca na ficção científica. Curiosamente, a aclamação da crítica, e do Nobel, se concentra nos livros após a terceira fase, sem uma fase definida.
‘O sonho mais doce’, de 2001, começa com a morte do então presidente J. F. Kennedy, no final de 1963, década da chamada contracultura, em que movimentos sociais, a insatisfação da juventude e a liberdade sexual estiveram em alta. Frances, uma espécie de mãe postiça dos rebeldes, divide a casa com a sogra, Julia, logo após ter sido abandonada por Johnnie, o ex-marido comunista inveterado.
Não se concentrando em um personagem principal, ao menos na primeira parte, a autora foca na casa em que os personagens vivem, mais especificamente na longa mesa abarrotada de refeições. É ali, em meio às conversas sobre politica, meio ambiente, religião e sexualidade que conhecemos a opinião de cada um, assim como suas personalidades e aspirações para o futuro.
A história, no entanto, não se prende a década de 60, mas vai dando continuidade nos anos 1970, com vida alternativa, pregação do amor e das drogas. Não se demorando muito, mas se estabelecendo nos anos 80, especificamente no país fictício de Zimlia. É importante lembrar que houve na África uma crescente, na década anterior, de independência de colônias, gerando assim, o surgimento de vários países no continente, e com isso, o contato e conhecimento, além de novas culturas, lugares insalubres, degradantes e desumanos.
Além da própria busca pela independência do país, com suas dificuldades, enganações e protestos, um grande vilão assola a população daquele recém-nascido país: a AIDS, vulgarmente conhecida como Finura, uma doença que, à época, era inexplicável.
Embora recheado de assuntos e personagens, que poderiam pesar a mão e fazer com que o livro se tornasse ruim, Lessing escreve de maneira ágil e fluida, surpreendendo o leitor temeroso com as mais de 400 paginas. A prova de que, para ser um bom e aclamado livro, não precisa ser, automaticamente, original ou experimental, mas franco, consigo mesmo e com o leitor.
Este livro faz parte do projeto 'Lendo Nobel'. Mais em:Le
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