Naiana 09/08/2023
Tolkien conta uma história para seus filhos
Professor, estudioso de línguas, criador de línguas e histórias fantásticas, Tolkien é mundialmente conhecido por sus trabalhos acadêmicos na área da filologia, além de seu trabalho mais conhecido, O Hobbit e O Senhor dos Anéis. Mas Tolkien também era pai, e como pai que adorava histórias de fantasia, ele adorava contar histórias para seus filhos, e desta forma nasceu Sr. Boaventura, assim como mais alguns livros do autor que possuem uma linguagem mais acessível para crianças e adultos que não deixaram sua criança interior para trás.
Sr. Boaventura é uma história as vezes sem pé nem cabeça, mas muito divertida de se ler, tem como personagem principal J. Boaventura, que dá nome ao livro, um senhor muito distinto, mas meio excêntrico, tem uma bicicleta prateada linda, mas sem pedais e como bichinho de estimação, nada menos que um Girafoelho, um animal falante que é um pouco cego, mas sabe prever o tempo perfeitamente. Um belo dia o Sr. Boaventura resolve comprar um carro, mas não um carro qualquer, e sim um carro amarelo vivo por dentro e por fora com rodas vermelhas e assim começa toda uma trajetória de aventuras e desventuras.
Tolkien contou essa história para seus filhos, usando seus brinquedos como personagens, assim como lugares e situações que para seus filhos eram muito familiares, assim como qualquer pai e mãe tentaria inventar uma histórinha para o filho antes de dormir, buscamos lugares comuns, nos quais as crianças irão se identificar e interagir. Contudo, como um grande contador de histórias que era, ele soube escrever algo que nos fizesse estar na história também, talvez com menos imersão que seus filhos, mas com uma linguagem atrativa aliada a ilustrações interativas, as quais levam o leitor a usar a imaginação e adentrar na história: "O desenho mostra o que aconteceu.", "O automóvel do Sr. Boaventura está desenhado tanto subindo a colina como correndo abaixo pelo outro lado.", "Os repolhos e as bananas não estão no desenho, é claro - os ursos os esconderam todos na floresta.".
Esta edição da Harper Collins é linda, tanto o formato do livro como as cores utilizadas, na capa e contra capa, as ilustrações feitas pelo próprio Tolkien, algumas como cara de desenho de criança, outras com todo cuidado e perfeição característicos de Tolkien trazem uma atmosfera lúdica e divertida a narrativa, além dos diferentes tipos de fontes utilizadas no decorrer da história, o que a torna mais acolhedora. E por falar em fontes, uma delas foi criada especialmente para este livro, inspirada na letra do próprio Tolkien ela se destaca na leitura em um belo tom de verde.
Esta leitura foi feita em conjunto com meu filho de 8 anos, ele adorou, riu e se divertiu muito e eu juntamente com ele, e muito provavelmente mais ainda por ter visto o brilho no olhar dele ao imaginar as trapalhadas do Sr. Boaventura e interagir com as ilustrações. Super recomendo aos fãs de Tolkien que desejam mais do autor além da Terra-Média e a todos que andam juntos a sua criança interior.
Ah, a título de curiosidade, este livro deveria ser publicado após O Hobbit, mas devido a tantas ilustrações coloridas a sua impressão na época seria muito cara e assim só veio a ser publicado após a morte de Tolkien. Aos fãs de O Hobbit e O Senhor dos Anéis, há referências a gobelins na narrativa e temos um Feitor Gamgi aqui citado, um pequeno easter egg que demonstra que mesmo quando contava histórias com situações e elementos familiares a seus filhos, Tolkien nunca estava com o pensamento muito longe das fantasias que amava e criava, ou talvez, quem sabe, não eram tais histórias familiares que lhe dariam base aos seus escritos mais aclamados.