spoiler visualizarAntonio 16/05/2021
O Morro Grita por Paz!
Há poucos dias, a manchete em todos os jornais do Brasil era: POLÍCIA MATA 24 (ou 25) NA FAVELA DO JACAREZINHO, RJ. E algumas autoridades defenderam essa ação, entre elas o governador do RIO. É difícil acreditar, como foi dito, que a ação resultou de longo planejamento, e foi bem sucedida. É difícil acreditar que os 25 fossem bandidos consumados. Muito mais provável é que muitos inocentes tenham morrido também.
Agora, vamos imaginar o que as crianças que moram na favela do Jacarezinho estão sentindo.
Algumas pessoas acham que a criança deve ser preservada. Livros fofinhos e bonitinhos seriam então os mais adequados. Eu vejo as coisas de forma diferente. A criança fantasia muito, e os livro devem incluir fantasia, sim! Ela pode gostar muito de um personagem fofinho. Mas de alguma forma a realidade também precisa aparecer/transparecer nos livros. Pois esta é a forma de a criança encarar a realidade (que pode ser duríssima) com uma perspectiva crítica e transformadora, e talvez otimista. As crianças do Jacarezinho nunca vão ver em livros ou filmes algo pior do que elas já vivenciaram.
Otávio Júnior é um autor carioca que sempre fala dos morros do Rio. Em Morro dos Ventos, Editora do Brasil, ele homenageia Agatha Félix, a menina de 8 anos que morreu de um tiro inexplicável no Complexo do Alemão. É inegável que toda a população dos morros deve se habituar com tiros a qualquer momento. A chance de um morador morrer de repente é grande.
A história é contada por uma amiga de “Agatha” (embora o nome dela não apareça). A perspectiva é de alguém que perdeu alguém, no caso uma menina tão pequena como ela. E como fica essa realidade?
Mas essa realidade já era dura, antes: na escola, as crianças muitas vezes precisavam esperar o tiroteio acabar... Esperavam a PAZ.
A única alternativa que essa menina tem, com o peito muito apertado, é GRITAR...
Quantas vezes um GRITO é a única coisa que nos resta?
Pois essa menina acreditou que o VENTO espalharia o seu GRITO, levando sua voz em forma de ECO para outros cantos... E isso de fato aconteceu, porque outras crianças apareceram e começaram a gritar também. E mais outras crianças vieram, e gritaram... E também escreveram, e desenharam em suas pipas e bolas: PAZ! PAZ! Um batalhão de crianças se juntou e gritou junto.
E todos continuam gritando até hoje: Paz!
Porque, no fundo, eles sabem que deverão gritar isso por toda a sua vida, para não perder a esperança.
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