Ynglid 31/03/2020
Snoop dog não poderia escrever um livro menos sóbrio/ Carona no trabalho dos outros
Essa resenha vai ser polêmica e vou descer o pau, quem não quiser ler ou se sentir ofendido por gostar do autor pare agora.
Quero primeiro deixar claro aqui o quanto eu desejava que este livro fosse bom, depois que acabei o fantasma da ópera original fiquei bastante feliz que alguém tentou dar continuidade, ainda mais que Love never dies era inspirado nesse livro. (E apesar de Andy ter modificado boa parte, agora entendo a aura de azar dessa ópera que é belíssima e teve sempre fracasso de críticas e bilheteria) O livro então é uma desgraça.
O autor escreve muito bem gramaticalmente falando e dá a entender que sabe bastante coisas técnicas sobre jornalismo, mercado de ações, funcionamento de estruturas, etc etc.... mas parece que não pesquisou sobre os próprios personagens e suas histórias/personalidades.
Algo que me incomodou muito antes mesmo de o livro começar foi como ele se referiu a obra original em tom de escárnio, enquanto enaltecia a ópera de Andy. Zombou do Persa e dos seus relatos, o único amigo de Erik no livro e personagem importante (que na peça teve parte de suas ações substituídas por Madame Giri), através dele conhecemos a história de Erik e os fatos de sua vida, o desfecho do livro se dá praticamente pelo ponto de vista do persa. Tudo bem ele preferir utilizar a versão de Webber, mas acho que alguém deveria chegar para ele e lembrar que sem o livro não haveria musical nem o livrinho fanfic dele. Me incomodou muito foi a falta de respeito e prepotência dele. Para depreciar mais a obra, ele fez comparações com o sucesso de outros clássicos como Drácula, que tiveram boa saída na época do lançamento enquanto o de Gaston ficaria esquecido se não fosse o acaso e a sorte (aqui ele explica como o livro foi encontrado se eu for colocar a resenha vai ficar enorme). Dane-se se o livro não vendeu tanto quanto X, isso não é argumento para frisar que ele é ruim. A esse ponto eu já estava enojada com a arrogância nas palavras desse escritor, mas pensei" faça melhor queridinho", respirei fundo e pulei para a parte onde o livro realmente começa.
O talentoso perfeito escritor já começa errando a cronologia dos acontecimentos. Ele tinha deixado claro que usaria como base a versão em ópera que pela lápide de Christine é ambientada por volta de 1880, ele afirma que os acontecimentos da narrativa de Webber ocorreram no final de 1893, e situa a sua continuação literária em 1906, treze anos depois. A sinopse desse livro fala que o livro corre em 1902, verdadeira bagunça cronológica por ele e pela editora.
A narrativa do livro é a cada capítulo sob a perspectiva de um personagem, o que realmente achei interessante. Logo no inicio vemos madame Giri no leito de morte, confessando ao padre a história de Erik, como ela levou sua filha pequena ao circo e que resgatou o rapaz assustado e o levou para sua casa. O que demonstra mais uma vez que o autor sequer se deu ao trabalho de assistir o musical, pois Madame Giri tem aproximadamente a mesma idade de Erik, ela mesma quem foi ao circo com outras crianças e o levou para a ópera. Enfim, ela morre e deixa uma carta para ser entregue a ele pois após os eventos da ópera ele fugiu com ajuda novamente dela para um navio cargueiro em direção a Manhattan. Então pulamos para a narrativa de Erik transbordando de raiva e repulsa por toda humanidade, sem um centavo no bolso, sobrevivendo num lugar sujo e pelas ruas. Apanhando nos becos somente por seu rosto (ele perdeu a máscara dele em Paris). Dez anos depois ele vê nos parques de diversões uma maneira de mudar de vida. Aí o que o autor faz? faz Erik roubar, enganar pessoas, praticar pequenos golpes feito um trombadinha, então ele começa a projetar brinquedos para os parques como o Erik do livro arquiteto faria. (Ué, mas o livro não é péssimo senhor autor e tudo deveria ser desconsiderado, onde o Erik do musical aprendeu a projetar coisas e ser brilhante se ele sequer saiu da ópera de Paris? Projetou inclusive o jogo de espelhos, clássico do fim do livro, para o parque. Muito bom criticar as coisas e se utilizar delas) Mas ele não pode aparecer em público e vender seus brinquedos, então ele arruma um sócio testa de ferro dos bem esquisitos mas com um rosto perfeito para ir negociar por ele.
Esse sócio, Darius, é um assassino psicopata completamente tan-tan da cabeça que serve ao deus pagão do ouro mamon. Ao ver que Erik tem o dom de arrumar dinheiro o Deus manda Darius influenciar Erik a adorar ele também e Erik começa a idolatrá-lo. Assim os dois vão enganando todos os donos dos parques para conseguirem um bom dinheiro para o deus, ainda insatisfeitos, Erik começa a estudar e investir na bolsa de valores O que não faz sentido é ele ser manipulado quando, tanto na peça quanto no livro, é ele quem é o rei da manipulação. Enfim Erik fica podre de rico e constrói um puta de um arranha-céu para andar na cobertura livre do julgamento das pessoas e sua máscara, andar pelos céus em meio aos pássaros como ele mesmo disse. Sem perspectivas de futuro com uma família Erik deixaria toda sua fortuna para Darius, que ambicioso e cansado de seguir ordens dele começa a pressionar o Mamon para que ele o deixe matar seu patrão, Erik. Até que uma carta misteriosa chega e Erik fica diferente, prato cheio para Darius.
A carta de madame Giri contava uma história nada crível de outro homem que ela salvou ao tomar um tiro. Madame Giri levou esse homem pro hospital e ele se curou e casou com Christine pois por coincidência dentre todos os homens de paris, era Raoul, mas ele ficou com sequelas que não permitiriam mais amar uma mulher com o corpo, em outras palavras: RAOUL NÃO TEM P*RU!!!! KKKKKKKKK (adoro essa parte) a revelação mais bombástica do livro. Erik sabendo que - é feio mas tem p*ru, kkkkk - Christine tem um filho e que dormiu com ela faz as contas da idade do garoto e fica exultante. Alias, foram as partes dele sobre/com o filho que me fizeram dar uma estrela e meia, não fosse isso a nota seria zero. Até então já ocorreram diversas narrativas de personagens secundários sem relevância nenhuma para encher linguiça em um livro curto de 190 páginas que nem vou mencionar aqui, em resumo: Totalmente irrelevantes.
Para atrair Christine e ver seu filho Erik constrói o mais moderno e exuberante teatro de ópera e escreve ele mesmo uma peça. E aqui temos um sopro de esperança ao livro porque ele tem um pouco a personalidade dele de volta. Christine fica apaixonada pela ópera do autor misterioso, aceita e ocorre mais uma sucessão de narrativas desnecessárias como o menino estudando com o padre tutor dele, enfim.. chegando nos EUA ela tem uma sincope quando descobre Erik. Ele a atraí para um dos parques que comanda e declara novamente seu amor por ela, diz que está rico e pede para que ela e seu filho fique com ele. Christine responde mais fria que o ICEBERG do titanic, o que não condiz em nada com sua personalidade nem a consideração que ela ainda diz sentir por ele, Erik chora, os dois tem mais um momento de conversa e ele então pede a guarda da criança.
Darius ouve tudo e fica mais louco do que é, chegando a conversar literalmente com o Manon. O padre conversa diretamente com Deus, que também responde (bem acessíveis esses deuses do livro) no meio de um monte de narrativas sobre um jornalista chato, bêbado e enxerido, que é o personagem principal do livro (achou que era erik e Christine? hahahah). A maioria das narrativas são pelo ponto de vista dele, tem narrativa até do controlador do parque, vishi.... uma bagunçada. Erik e Christine mesmo quase não vemos.
Mas de tudo, essa incoerência de fatos, personalidades e acontecimentos o que mais me incomoda e matou o livro para mim é a insinuação de que Erik tenha SE APROVEITADO (em palavras mais fortes até estuprado) Christine. O autor não escreve isso mas dá a entender em diversas passagens do livro. Na narrativa de madame Giri ela descreve que ela e Raoul encontram Christine em choque debaixo do teatro, a própria Christine diz a Erik que aquilo só aconteceu porque ela estava paralisada de pavor.
" Naquela última noite, na escuridão junto ao lago debaixo da Ópera, tive tanto medo [de Erik] que pensei que morreria. Estava meio desmaiada quando aconteceu... o que aconteceu"
Achei grotesco, ridiculo e nada condizente com a personalidade de Erik que idolatra Christine seja no livro, no filme, na peça... enfim. Com qualquer outra mulher até poderia se cogitar apesar dele dizer no musical que nunca tocou em ninguém, e ter um medo tremendo de ser rejeitado (que não condiz com um estuprador que tá nem aí pra vítima), talvez o Erik do livro faria algo com qualquer outra pessoa, mas ela.... ambos Erik's beijam o chão que ela passa. Pelo amor de deus, sequer encontro palavras para dizer o quanto eu fiquei indignada. Ainda bem que Andy Lloyd Webber foi inteligente para alterar a peça para um momento de amor dos dois.
Depois o autor ainda se contradiz pois ora ele fala que Raoul desceu com madame Giri, Ora ela diz por Christine que Raoul estava lá. Mas se Raoul estava lá nada poderia ter acontecido entre o Fantasma e ela. Enfim, uma fanfic de um autor completamente perdido que se acha melhor do que o original, sem noção..
Outro erro bobo mas que demonstra o descaso do autor com os personagens, é que Christine se refere a ele como Mestre da Música, o qual sabemos que o correto seria Anjo.
A única coisa maravilhosa nesse livro é a parte onde Erik é plenamente aceito pelo filho que não sente um pingo de repulsa dele e escolhe ele a Raoul, achei lindo demais, quase redimiu toda maconha do livro.
Não vou contar o que Darius faz, e o que acontece porque estragaria o livro para quem quer ler, mas o desfecho desse livro é mais uma coisa que me desagrada, além de ser narrado por terceiros é extremamente corrido. Talvez o livro ficasse bom se ele focasse mais nos personagens que interessam, estudasse mais a personalidade deles.
Um show de decepção, não recomendo nem de graça.
RAOUL NÂO TEM P*RU KKKKKKKKKKKKK levarei esta pérola comigo pro resto da vida.