Naiana 04/11/2021
Faz jus a série de livros da Anne Shirley
Não sei se conta como spoiler o que escrevo sobre o livro, pois nada do que foi dito aqui é desconhecido por quem já conhece a história de Anne Shirley.
Confesso que quando vi o livro pela primeira vez achei que fazia parte da série de livros da Anne escritos pela Lucy Maud Montgomery, até que o livro chegou em minhas mãos e percebi que não era da mesma autora. Resolvi então ler a obra original primeiro para conhecer a Anne de verdade, e como já imaginava, me apaixonei profundamente pela personagem, ri e chorei com ela muito e com ela já adulta, resolvi conhecer essa Anne, escrita por outra pessoa, e eis que percebo que realmente é a mesma Anne, o mesmo jeito de falar, o mesmo jeitinho, a Budge realmente soube trazer a Anne da Lucy para o livro dela, na verdade, o livro encomendado pelos herdeiros da Lucy, e só posso dizer que eles escolheram muito bem para quem passar a pena que escreveria sobre a Anne desde antes do seu nascimento, para que conhecêssemos um pouco dos seus pais, o quanto eles se amavam e amavam a Anne, e como foi sua infância conturbada e cheia de infortúnios até finalmente ser entregue aos cuidados dos Cuthberts.
Enfim, Anne de Green Gables é exatamente isso, a história de Anne antes de ir morar com Mathew e Marila, se inicia logo após o casamento de seus pais, onde os conhecemos, assim como os seus vizinhos, como eles vieram a falecer e o início da vida da Anne com os Thomas, com quem viveu até os 9 anos e sua vida com os Hammonds, até ir para o orfanato aos 11 anos. Há pequenas discrepâncias, na minha opinião, na narrativa, já que o que vemos em Anne de Green Gables é apenas a Anne falando de suas desventuras na infância e nesta obra podemos ver que houveram momentos bons, e ela teve muita sorte de conviver com algumas pessoas que realmente se importavam com ela, muitas dessas pessoas que queriam ficar com a menina e poderiam dar um bom lar para ela, se não fosse as eventualidades da vida. Acho que essas discrepâncias também podem ser perdoadas, já que houveram muito mais momentos de tristeza e abandono na vida da menina que de carinhos e cuidados. Os personagens são muito humanos também, não são de todo maus ou bons, tem conflitos e volta e meia podemos nos ver na dúvida sobre o que sentimos sobre eles. Não que seja correto muitos comportamentos relatados, principalmente em relação aos Thomas (apesar da Anne ainda ter tido mais episódios de carinho e cuidados com eles do que com os Hammond que mal a conheciam e nem tinham tempo de ter empatia por ninguém, anestesiados que estavam pelas suas obrigações). Não dá para esquecer que a baixa renda e falta de controle de natalidade tem uma forte influência sobre o comportamento dos personagens, e isso é visível em qualquer lugar do mundo, até os dias de hoje, em que se viva nas mesmas situações relatadas no livro. Seria muito bom que não houvesse mais crianças vivendo como a Anne viveu, mesmo sendo um livro antigo, ele ainda é atual nesse sentido, no que um ambiente insalubre pode causar na vida de uma criança. De certa forma Anne teve sorte de ser quem é e sempre encontrar alguém que a ajudasse a passar pelo o que passou, trazendo um pouco de gentiliza e cuidado à vida da menina, pela forma como viveu, ela tinha todos os motivos para crescer sendo uma pessoa amargurada e desesperançosa, mas conseguiu ser a pessoa mais gentil, amável, cheia de vida e esperança que podemos conhecer.