Mark 03/03/2024
Neste fantástico universo de outro século podemos encontrar preciosidades que já não mais são vistas na contemporaneidade.
Hoje venho comentar convosco um pouco sobre este livro de 1920 (aproximadamente) que encontrei perdido na estante de livros do meu avô em meados de 2014. Nesta semana de Março de 2024, aproximadamente 10 anos depois, decidi me debruçar sobre a leitura e estou completamente apaixonado.
A edição que possuo é do ano de 1983 e pertenceu ao meu avô. Ele nutria o hábito da leitura quando mais jovem e minhas tias sempre me contam que ele não podia ver um livro baratinho que já comprava, e se visse algum livro esquecido em algum lugar, como ônibus ou praça, não hesitava em pegar para ler. Hoje consigo compreender de certa maneira uma das raízes deste meu amor e prazer pela leitura e livros físicos, especialmente.
Recordo-me que na época em que encontrei este livro na estante de meu avô - não tenho certeza se antes ou após seu falecimento - achei o título interessante e a capa ainda mais atrativa aos meus olhos de adolescente. No entanto, ao tentar iniciar a leitura naquela época não me senti cativado nos primeiros capítulos e optei por abandonar em minhas prateleiras esta preciosidade que hoje aqueceu o meu coração.
Compreendo que, quem sabe naquela época, eu não apreciaria a leitura da mesma maneira como apreciei dez anos depois. Hoje compreendo haver uma diferença de maturidade nas leituras que naquela tempo eu não havia construído e que, sejamos francos, eu talvez não fosse conseguir desfrutar da tensão, do nervosismo e das alegrias que este livro me promoveu.
Mas caminhando para o livro em questão, refere-se a um romance que retrata a história de um filhote de urso e um filhote de cachorros, ambos encontrados por um caçador e adotados como seus animais, os quais almejava levar para uma menininha e presenteá-la. No entanto, a história toma novos rumos já nos primeiros capítulos e os jovens animais, em detrimento de um acidente durante uma viagem de barco, se perdem do homem e passam agora a viver solitários na floresta.
Diante dos desafios de viverem sozinhos e sem ainda terem desenvolvidos as habilidades animais para se manterem vivos e em segurança, os animais optam por permanecerem juntos e a partir disto uma semente de amizade e - avanço mais fundo no lado poético da coisa - um desabrochar de amor surge entre os dois seres, outrora presos um ao outro por uma corta ao pescoço, mas agora ligados por laço fraternal.
Com o desenrolar da história os dois animais nutrem cada vez mais o companheirismo um para com o outro e, mesmo diante de muitas diferenças existentes, não abrem mão da amizade e cumplicidade que há entre eles. Desta forma, envolvem-se em brigas ferozes na floresta em busca de alimentos e, principalmente, defendendo um ao outro.
Porém, a época do inverno chega e o urso, que instintivamente se preparava para tal, mergulha em seu período de hibernação, tornando a vida do pobre cachorro um poço de angústias de depressão. Neste momento, aflito por não ter companhia, sem comida e sem sequer compreender o que é que assola o urso e o imobiliza daquela maneira, o cachorro sai em busca de alimentos e distrações. Todavia, é justamente esta saída que o envolve em sérios apuros.
Em síntese, sem querer dar-lhes spoilers da história - pois almejo que vós leiais este lindo romance - o cachorro encontra com humanos, mais especificamente caçadores, que lhe rendem longos capítulos de horror e aflição, somadas à constante angústia pela falta do amigo urso. A cada capítulo o cachorro está envolvido em novos dilemas e problemáticas que ameaçam sua vida. No entanto, tendo em vista sua habilidade feroz em defender-se de ameaças, logo é notado por sua força e violência brutal contra qualquer inimigo e isto o faz tornar-se objeto de desejo de alguns homens que apostam todos os seus bens em disputas de cães. No entanto, diante da primeira luta do cachorro com um rival canino, pois deixo-lhes o gostinho de que em alguns outros momentos o cão derramou o sangue de alguns perversos homens.
O livro segue seu fio, lançando sobre o leitor numerosos desvios inesperados na história de tal modo que nos arranca a respiração, especialmente em suas cenas de lutas corporais, e nos traz admiração à habilidade do autor em criar correlações entre pontos e personagens aparentemente tão distintos do livro.
O desfecho é fantástico e - embora me tenha sido um pouco que aguardado, tendo em vista algumas pistas que o autor nos esmilha no decorrer das capítulos finais - me rendeu alguns suspiros de alívio e também de tensão na penúltima página.
Esta leitura é mais do que recomendada a todos aqueles que não apenas gostam de romances, mas também aqueles que gostam de um pouco de suspense, um pitada suave de ação e tensão e especialmente amam um livro que te inquieta, tira o sono e até mesmo um pedaço da paz enquanto não descobrires o desfecho.
De brinde, como um presente do meu avô para mim, encontrei uma folha de arvore guardada a algumas décadas no interior do livro, a beleza desta folha conversa com a beleza poética e física do livro que, fragilizado pelo tempo e pelo abandono das décadas na estante de uma casa húmida, me faz lembrar que eu também sou frágil e um dia hei de quebrar.
De nota final, deixo-vos um conselho: Quando tiverem a chance, olhem com atenção às lombadas dos livros da estante de seus avós, amigos ou até mesmo de lugares que sabes que aqueles livros possivelmente não serão relidos outra vez. Neste fantástico universo de outro século podemos encontrar preciosidades que já não mais são vistas na contemporaneidade.
Uma boa leitura.
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