Terra de Santa Cruz

Terra de Santa Cruz Adélia Prado




Resenhas - Terra de Santa Cruz


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. J e n n i . 08/12/2022

???
Até então nunca havia falado na autora, mas vi de uma das minhas pessoas preferidas um post de um poema lindo dela, me apaixonei e quis devorar muitos outros. E aqui estou eu comentando da leitura desse livro maravilhoso com uma escrita saliente e santa, uma mistura de virtude e pecado, que pega qualquer um pela única raiz que nos liga, ser humano e habitar um corpo com raízes.
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Bebel.Aroeira 29/09/2022

Terceiro livro publicado de Adélia Prado, Terra de Santa Cruz expressa um período em que a autora divaga sobre o fim da vida e suas dúvidas existencialistas.
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Everton Vidal 30/07/2021

Poesia do cotidiano, cheia de religiosidade e erotismo, muita intertextualidade, principalmente com a Bíblia, mas também com Drummond, o poeta com quem mais ela conversa. Essa matriz erótico-teológica da poeta é a sua principal característica, uma teologia que não é a dos seminários, mas a do dia a dia, que contém elementos tanto da catequese católica como da crença popular, e um erotismo que não romantiza o corpo, mas que o mostra sem fantasias, tal como é. Sua poesia abarca as coisas da vida com muita sutileza, numa linguagem coloquial equilibrada e com muita, muita positividade. É uma poesia alegre, mesmo quando te fala de dor e morte, é uma poesia feliz, mas sem ser de forma alguma inocente. Apresento dois dos meus poemas favorito desse livro como exemplo:

CASAMENTO

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como ‘este foi difícil’
‘prateou no ar dando rabanadas’
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

O LUGAR DA NECRÓPOLE

Há quem tendo cantado e batido os dentes no copo
já morreu.
Há quem tendo falado suas dores secretas
está hoje selado sob lápides,
excrescendo sobre mim o seu fantasma
de pessoa verdadeira, rebelada,
de pessoa poética.
Na juventude me comprazia o fúnebre,
as faces lívidas dos poetas doentes.
Hoje, só preciso da vida pra morrer.
Nas metrópoles,
o campo-santo acaba confundido,
rodeado de bares.
E por causa disso iludem-se as pessoas
de ter nas mãos a indomesticável.
O cemitério quer ladeira e montes
para os quais se olha ao entardecer:
um dia estarei lá,
lá longe,
no incontestável lugar.
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Ges 18/12/2019

Adélia tem todo o meu coração
Aí, falar da poesia de Adélia é demais para mim. Todos deveriam ler Adélia. Deixo em especial a recomendação do Poema "Casamento" deste livro, quanta sensibilidade.
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Adriana Scarpin 13/12/2015

Em honra dos 80 anos de Adélia Prado.
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Élida Lima 01/03/2009

Assombroso, lindo
Casamento

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como 'este foi difícil'
'prateou no ar dando rabanadas'
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

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Trottoir

Minhas fantasias eróticas, sei agora,
eram fantasias do céu.
Eu pensava que sexo era a noite inteira
E só de manhãzinha os corpos despediam-se.
Para mim veio muito tarde
a revelação de que não somos anjos.
O rei tem uma paixão - dizem à boca pequena -
regozijo-me imaginando sua voz,
sua mão desvencilhando da fronte da pesada coroa:
Vem cá, há muito tempo não vejo uns olhos castanhos,
tenho estado em guerras..."
O rei dasataviado,
com o seu sexo eriçável mas contido,
pertinaz como eu em produzir com voz,
mão e olhos quase estáticos, um vinho,
um sumo roxo, acre, meio doce,
embriaguez de um passeio entre as estrelas.
À voz apaixonada mais inclino os ouvidos,
aos pulsares, buracos negros no peito,
rápidos desmaios,
onde esta coisa pagã aparece luminescente:
com ervas de folhas redondinhas
um negro faz comida à beira do precipício.
À beira do sono, à beira do que não explico
brilha uma luz. E de afoita esperança
o salto do meu sapato no meio-fio
bate que bate.

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O espírito das línguas

A propósito de músicos, ginastas, coreógrafos
digo na minha língua:
PUXAVIDA!VAI SER ARTISTA ASSIM NO
INFERNO!
É português como se fora russo.
Descuidada de que me entendam ou não,
falo as palavras,
para mim também e primeiro,
incompreensíveis.
As artes falam humanês,
também as caras dos homens
escrevem o mesmo código.
O que é PUXAVIDA
VAISER ARTISTA ASSIM NO INFERNO?
Só expressam as línguas nas clareiras
que o choque de uma palavra abre na outra.
Na Bulgária, certamente traduz-se PUXAVIDA
por BERIMBAU! FILIGRANAS DE RENDA!
Compreender o que se fala
é esbarrar na sem-caráter,
inominável, corisca poesia.


| Adélia Prado, Terra de Santa Cruz
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