Israel145 23/12/2016A mansão - o terceiro volume da Trilogia Snopes fecha de forma espetacular a trajetória do ganancioso clã capitaneado pelo seu líder, Flem.
A trilogia levou quase 20 anos para ser escrita e a qualidade dos livros só melhora. Desde O povoado (1940), passando por A cidade (1957) e por fim A mansão (1959) podemos perceber uma clara melhora na qualidade narrativa e concisão dos fatos narrados que encaminham os personagens para a tragédia final do clã.
Alguns fantasmas pairam sobre a cidadezinha de Jefferson: Dentre eles, as cicatrizes deixadas pela segunda guerra mundial nas vidas de Linda Snopes e Gavin Stevens, sem contar a tragédia associada à mãe de Linda, Eula Snopes, que selou o destino de Flem. O próprio Flem é um dos fantasmas que assola a cidade. Do alto de sua mansão, comanda um banco tendo chegado ao máximo que sua ganância almejou, destruindo vidas e espalhando seus tentáculos como uma doença em Jefferson.
Mas talvez o pior fantasma seja Mink Snopes, um dos esqueletos guardados no armário de Flem, que depois de 40 anos preso, cumpriu sua pena e ao sair se dirige a Jefferson para o acerto de contas final com seu primo.
Faulkner traça um genial paralelo entre a saída de Mink e os furacões que devastam o sul dos Estados Unidos: uma tragédia anunciada. Mink é uma força devastadora da natureza. Frio, inclemente, bestial e desumano, ruma em busca da cabeça de Flem. Esses são sem dúvidas os melhores capítulos do livro.
A jogada final para destruir Flem ficou a cargo dos inseparáveis amigos V.K. Ratliff e Gavin Stevens, que moldaram o arcabouço da punição definitiva de Flem em justiça a todas as vidas que ele destruiu em sua trajetória.
Em meio à bela história de amor impossível entre Stevens e Linda Snopes, a justiça inclemente da natureza desce sobre Jefferson e sua seta é apontada para o peito de Flem, fechando de maneira espetacular a odisseia de uma vasta gama de personagens inesquecíveis e que figurarão para sempre no imaginário de todos que leram a trilogia.
Dos três volumes, A mansão é o melhor de todos, porque todas as facetas do escritor aparecem: O Faulkner ácido e sombrio, o contador de casos rurais, o desiludido, o esperançoso, o observador tranquilo sentado na varanda com seu cachimbo acesso vendo a vida em Jefferson pulsar.
E é esse escritor que compõe uma ótima história extraída do caldo de emoções humanas da jornada dos Snopes. Talvez a melhor de todas que retrata a sociedade sulista americana e a registra seus contos no imaginário dos leitores de sua obra. Ao lado dos furacões, dos pântanos, da Ku Klux Klan, dos negros oprimidos agora podemos imaginar também o olhar sorrateiro de um Snopes à procura de uma oportunidade para se dar bem.