Nando 04/09/2014Esse é o cara do Assassin's Creed?Olá. Review da vez será Assassin's Creed. [Editada e atualizada]
Resolvi fazer uma review desse livro por que nunca joguei o game e acho que assim posso julgar o livro sem deixar meu gosto pessoal pelo game interferir.
Comprei o livro com uma certa empolgação de conhecer a história de um game que dizem ser tão aclamado. Eu estava esperando algo realmente surpreendente e fora desse mundo. E acabei me deparando com um livro meia-boca. E a sinópse do livro na contra-capa ainda faz a bola do autor que é um suposto historiador (Historiador ele pode ser, mas pra escritor ainda tem de comer muito feijão... :x).
História: O livro (pelo que eu entendi) conta a história da origem do personagem Ezio. Um jovem membro de uma família rica da Itália que de repente, tem o pai preso e morto por traição e que é forçado a fugir com o resto da família. Ezio descobre que sua família é parte de um antigo legado de Assassinos que há séculos enfrenta os Cavaleiros Templários.
A princípio o que eu esperava desse livro era uma história de intriga, assassinato, conspirações e principalmente vingança. Simples assim. E próximo do fim, eu descubro que tem muito mais do que isso. Aparentemente, a missão de Ezio não se tornou apenas de vingança, mas uma cruzada para impedir seus inimigos de obterem acesso a um poder ancestral relacionado aos deuses gregos/romanos.
Incrível né?
Nem tanto. Eu imagino que a história desse game seria bem mais divertida a medida que o jogador avança pelas fases, do que a medida que lê o livro. O autor falha em contar uma história envolvente e até mesmo crível. Na verdade eu me senti como se estivesse lendo uma fanfic feito por um escritor amador, uma vez que o ele se concentrou em conduzir a história muito similar ao ritmo do game. Ou seja, tudo acontece rápido demais.
No início, o autor tem uma verdadeira preocupação em apresentar o cenário e os personagens, enfim, montar o palco para a grande virada de trama que levará Ezio a descobrir seu legado. Mas a partir daí, tudo despenca. Eu ainda não entendi a transição da trama entre história de vingança a jornada épica pra impedir seus inimigos de se tornarem deuses.
Como eu disse, em certos momentos, eu me senti lendo uma fanfic escrita por um escritor amador narrando o jogo. O treinamento de Ezio é simples e rápido demais.
"Ok, Ezio tenta roubar a bolsa da primeira vez e não consegue, mas ele tenta mais umas duas vezes e consegue. Agora Ezio é um ladrão profissional."
"Depois, Ezio tenta se misturar a multidão, usando a arte do disfarce. Nas duas primeiras vezes ele falha, mas na terceira ele consegue. Agora ele é um mestre do disfarce."
Parece exagero da minha parte, mas não é. Algo que levaria pelo menos dias ou semanas, talvez até meses pra se dominar, Ezio domina em questão de minutos. A vida seria fácil se fosse assim não?
"Ok, você falhou nas duas primeiras cirurgias cardiovasculares que tentou realizar, mas na terceira você tirou de letra! Você é um cirurgião! Aqui está seu diploma!"
Minha mãe ia ter muito orgulho de mim. E depois disso, Ezio só precisa dominar a arte da espada para sair matando adoidado. Afinal, pra que perder tempo com essa chatisse de treinamento quando o que realmente queremos é sentir a emoção de ver Ezio matando a torto e a direito, certo?
Errado. É preciso saber dosar o ritmo da história. Não precisa dedicar metade do livro ao treinamento chato do personagem (como um livro que eu prometi não pegar no pé mais), mas também não precisa dedicar tão pouco a um processo da história tão importante. O normal seria dedicar ao menos um capítulo com um salto temporal pra resumir todo o tempo de tentativas falhas do personagem até ele alcançar realmente o nível de mestre naquilo que ele está treinando. Mas o autor dedica no máximo linhas, ou umas duas páginas pra isso. É muito pouco. Dá a sensação de que ele está pulando a "parte chata" pra chegar na "parte legal".
E enquanto algumas partes são simplesmente chatas demais. E nessas o autor prolonga pra sempre.E ainda estou a ver navios com o plot twist que muda a história de um conto de vingança pra uma jornada épica em busca do poder supremo dos deuses.
Enfim, ler Assassin's Creed foi uma longa e agonizante tortura (Nem tanto), mal conduzida e chata.
Personagens: Personagens seria o lugar onde eu achei que a história realmente se destacaria e compensaria por seus furos. Mas nem isso salvou.
Ezio - Ele é um personagem muito... Comum... Na falta de um termo melhor, para ser o grande assassino bad-ass. Ezio deveria ser um personagem mais surpreendente como um Zorro ou um Batman. Suas aparições como assassino e suas motivações deveriam ser bem mais incríveis. Mas o autor consegue no máximo descrever ele como um sueito meio-ninja que sai matando pessoas. Nenhuma fala memorável, nenhum momento impactante. Nunca vi um personagem principal tão raso. Ele é assim no game também?
Leonardo da Vinci - É um personagem que consegue ser mais interessante do que Ezio. Contudo sua aparente frieza e indiferença com relação ao "ramo profissional" de Ezio são um pouco perturbadoras. O autor tenta explicar isso devido ao fator curiosidade e audacidade de Leonardo em descobrir mais e mais a respeito do Codex que Ezio encontra em suas jornadas, usando seus multi-talentos como um cientista de filmes do James Bond, providenciando novos e criativos equipamentos de assassinato para Ezio, mas acho difícil imaginar que Leonardo da Vinci não ficaria nem um pouco transtornado de presenciar Ezio assassinando duas pessoas na sua frente. O codex aliás, é outro elemento que eu só posso imaginar que o autor trouxe direto do game pras páginas do livro (não que que tenha ficado ruim, ficou até legal, mas reforça aquela idéia de que o autor está só adaptando 100% do game em forma de romance). Mas enfim, Fazer o que? O autor desliza em simplesmente tudo nesse livro, por que imaginar que com o Leonardo DaVinci seria diferente? Pelo menos ele é um personagem divertido da história.
Maquiavel - Eu tinha uma grande expectativa de encontrar esse personagem em particular, devido ao fato de ao menos o DaVinci ter ficado legal. Mas ele aparece do nada e sua aparição não consegue ser a revelação espetacular que eu imagináva. Além do mais, Leonardo da Vinci faz um papel de fornecedor de armas para Ezio enquanto o Maquiavel deveria fazer um papel mais de mentor (Pelo menos é o que a sinópse do livro sugere), quando na verdade ele não faz nada além de aparecer um pouco, explicar a história do artefato que os assassinos disputam com os templários e engatilhar o plot twist que levará Ezio a sua verdadeira jornada épica. Não me impressionou.
Estes deveriam ser os personagens mais marcantes do jogo. Por que nem o "último chefe" é interessante. Somente um membro do clero que quer ganhar poder supremo e dominar o mundo. Tão irrelevante que nem lembro o nome do infeliz.
Pra finalizar, eu acho que Assassin's Creed é o tipo de livro em que você tem de ser muito fã do game pra curtir. Imagino que seria mais divertido ler as passagens do livro, a medida que as cenas do game aparecem na sua mente e você vai relacionando uma a outra. Pra quem não conhece o game é só uma leitura confusa e chata.
Atualização:
Quando eu escrevi essa review eu não tinha jogado os games. Bom, agora, eu joguei pelo menos o AC1 e o 2 (que foi a história adaptada desse livro).
Ter jogado os games me fez mudar de opinião a respeito do livro? Não. Só me deu um entendimento melhor do mesmo. O livro continua sendo falho.
Primeiro, por que esse livro foi publicado antes do Cruzada Secreta (que adapta a história do primeiro game)? Não sei se foi assim que os livros foram publicados nos Estados Unidos (ou seja lá onde ele tenha sido publicado originalmente), mas se foi creio que deve-se ao fato de ser considerado o melhor game da série e o Ezio ser um personagem mais carismático que o Altair. E no game sim, eu pude perceber esse carisma. O autor não soube transmitir esse carisma pro livro.
Essa é a primeira falha. Desordem cronológica. Nada pior pra deixar os leigos confusos. A segunda falha foi terem eliminado um dos aspectos mais importantes do game. O Desmond e o Animus.
O livro começa escrito como um romance histórico e até o fim dele é isso que você acredita estar lendo. Mas no fim, ele se torna uma história de ficção científica. Ok, se é pra ter ficção científica, por que eliminar o aspecto da história que explica a ficção científica? Não é atoa que fiquei a ver tantos navios voando no fim do livro.
Pra começo, o primeiro game é o que melhor explica o conflito entre Assassinos e Templários. O primeiro game que explica o que são as peças do Éden que as duas facções lutam tanto pra encontrar. Essa é a importância de adaptar o primeiro game antes do segundo. É uma história de origem então tudo é melhor explicado lá, enquanto no segundo game, estes conceitos são pré-estabelecidos ou explicados por alto (presumindo que quem joga o segundo game, já jogou o primeiro e sabe o que esperar).
Eliminar Desmond e o Animus foi um erro tão feio. Por que no fim, jogamos 90% do game como os Assassinos, Altair e Ezio. Mas nos esquecemos de quem é o verdadeiro herói da história. É o Desmond. Ele que vai reunir as peças do Éden e salvar o mundo de um possível Apocalipse em 2012 (pois é. Quem não jogou os games nem sabe que isso faz parte da história). Quando eu li o livro, não entendi a participação da tal Minerva na história. E ao eliminar Desmond e o Animus da história, não temos conhecimento prévio da tal "verdade" que no game é uma série de imagens deixadas pela cobaia 16 no animus, para o Desmond, revelando a possível existência de uma civilização anterior a raça humana que pereceu em um evento cataclísmico e que por um acaso está por trás de toda a guerra milenar entre Assassinos x Templários!
O livro ficou como um quebra-cabeças incompleto sem essas informações. E por isso ele é bem mais amigável aos que jogaram o game antes e sabem exatamente do que a história fala. Pra quem não jogou, o livro é apenas confuso e sem sentido.
Então, recomendo: Antes de ler, jogue os games.