O amante

O amante Marguerite Duras




Resenhas - O Amante


273 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Bookster Pedro Pacifico 22/12/2020

Verificado O amante, de Marguerite Duras
Em pouco mais de 120 páginas, a obra publicada em 1984 - e que levou o Prêmio Goncourt no mesmo ano - marcou a literatura mundial e colocou Duras como um dos principais nomes da literatura francesa.

No livro, a palavra “amante” que estampa o título foge do conceito que estamos acostumados a ouvir. Não se trata de uma traição, mas sim de uma relação amorosa, é o amante como aquele que ama. E os amantes criados pela autora formam um casal pouco provável - e pouco aceito pela sociedade da Indochina pré-guerra, ainda colônia da França. Na verdade, os personagens não são totalmente criados por Duras, já que a obra revela uma carga autobiográfica, com semelhanças do passado da autora.

De um lado, temos uma jovem francesa. De outro, um rico comerciante chinês. É uma relação que esbarra no preconceito contra o oriental, por parte da família europeia da garota, e na diferença de idade entre os dois amantes. Ao mesmo tempo, senti até mesmo uma dúvida sobre os reais sentimentos dos personagens, o que realmente é amor ou apenas uma vontade de transgredir regras sociais.

E não se engane pelas poucas páginas que compõem o livro. A leitura é densa, sobretudo pelas mudanças narrativas que a autora faz durante as páginas. Isso demanda uma atenção maior do leitor, um tempo maior para aproveitar a escrita direta e envolvente de Duras. Vale a leitura!

Nota 8,5/10

site: http://instagram.com/book.ster
Caren Ane Rhoden 23/01/2021minha estante
Já leu O Deslumbramento? Se não, recomendo.




mpettrus 30/01/2023

A Tristeza de Lembrar das Coisas Perdidas
??O Amante? foi escrito em 1984 por Marguerite Duras quando ela tinha 70 anos. É considerado autobiográfico ou, comumente classificado pela crítica literária, um livro de memórias. A história se passa na Indochina pré-guerra, onde a autora passou sua infância, com uma narrativa permeada em grande parte por flashbacks de um caso que ela teve quando tinha quinze anos com um empresário / playboy chinês de 27 anos em um dos bairros mais pobres de Saigon (Vietnã).

? Podem-se ver através do seu relacionamento as muitas questões do colonialismo moderno, a sua paixão consumidora pela vida e o caso repleto de mudanças brutais no poder. Este é um livro com uma bela prosa em sua qualidade de flashback e quase um fluxo de consciência. É também um livro sobre uma jovem que quer ser escritora.

?É uma narrativa autobiográfica muito pessoal e íntima que carrega uma profunda melancolia dentro de si. É bastante vago, confuso, fragmentado, pulando aqui e ali, mas, no entanto, a parte de sua vida que quer focar é transmitida de maneira muito emocional e sensual.

Os momentos difíceis não foram poupados, nem foram mascarados, pelo contrário, foram apresentados na sua forma crua. Sua infância dramática deixou cicatrizes tangíveis no seu corpo e na sua alma, seguindo-a como um pesadelo ao longo de sua vida.

? Ficou-me a impressão de que para além da pobreza e privações por quais vivenciou na infância, o que devastou a frágil alma de Duras foi a clara preferência da mãe pelo irmão mais velho. A sensação de não ser amada o suficiente, de ser negligenciada, de ter que atropelar a si mesma e sua dignidade para sobreviver de alguma forma, assim como a ausência do pai, talvez sejam os principais motivos do crescimento apressado de Marguerite e da série de gritos por escolhas de atenção que ela faz como se fosse um mecanismo compensatório para preencher os buracos e lacunas em si mesma. Eu compreendi o porquê do seu ressentimento com a mãe.

? A narrativa avança lentamente de maneira não cronológica. Breves blocos de texto flutuam no espaço em branco como ilhas: retratando a balsa, a escola de M, sua mãe ou irmão, suas roupas estranhas, a natureza de sua pele como uma garota branca nos trópicos, a natureza da escrita e assim por diante.

Duras toca o fio da história várias vezes, mas não o desenrola como faria um narrador convencional. Através de trechos sobre à auto traição das mulheres, o desejo de escrever, a loucura intermitente de sua mãe, a doença da família e os desastres financeiros - quinze páginas depois de vermos o homem rico pela primeira vez, ele finalmente sai da limusine preta. Aproxima-se, oferece um cigarro para a jovem de quinze anos, conta-lhe a surpresa que teve ao ver uma rapariga branca no ferry. Duas páginas depois, ela entra no carro dele e começa sua iniciação sexual.

? Esse drama então avança absolutamente, não apenas linearmente, mas seguindo uma onda. No entanto, outras memórias a interrompem. Quando a narrativa não se concentra no caso, ela faz uma pausa, dilata, divaga e avança extravagante em sua disposição de se desviar do enredo.

A autora escreveu uma história bonita sobre um tópico pessoalmente perturbador e eu confesso que fiquei realmente impressionado. Acho que isso explica a beleza e a melancolia da atmosfera. Felicidade é a tristeza de lembrar-se de coisas perdidas.

Um livro autobiográfico tão pungente, lindamente escrito! Sobre o que se perde na vida (ou sobre vidas desperdiçadas), sobre a ausência de amor, sobre a necessidade de encontrar esse amor em qualquer coisa, em qualquer pessoa. Muito além de um romance erótico! - o erotismo aqui é apenas um fragmento da vida dessa jovem, tão real quanto sua vergonha, tristeza, solidão, força, fui arrastado para uma estrutura narrativa caótica, na extravagância técnica dentro do drama: a narradora costuma falar, estranhamente, de si mesma na terceira pessoa, bem como abruptamente entre o passado e o presente.

? Com ?O Amante? vivi momentos de desassossego. Não é de fácil leitura, apesar de parecer pela sua simplicidade e de poucas páginas. Na verdade, é de uma profundidade enorme. O fato de se tratar de um romance autobiográfico faz com que a leitura deva ser feita com muito cuidado, pois podemos perder detalhes que dão muito mais sentido à obra.

O que torna a história tão agradável de ler é a maneira como ela é escrita. Quase pequenos surtos de pensamento, como se Duras escrevesse cada memória em post-its e guardanapos de café e depois os juntasse todas as noites antes de dormir. Ainda há uma fluidez aqui que torna a leitura um pouco fascinante. A prosa faz com que o leitor se sinta ao mesmo tempo próximo da história e muito, muito distante dela, o que é uma habilidade que me curvo diante de admiração.

? Duras tinha setenta anos quando escreveu este livro sobre suas experiências quando jovem, mas a história é escrita de uma maneira tão nova que é difícil imaginar que ela não o tivesse escrito apenas alguns anos depois que a história aconteceu. Esta foi minha primeira experiência com Marguerite Duras, mas certamente não será a última. Estou viciado. Ela me fisgou. Ela é demais.
comentários(0)comente



everlod 01/02/2011

Depressivo
Antes que me ataquem, gostei muito do livro. É literatura de altíssima qualidade, mas terrivelmente triste.
Nos momentos de maior prazer, a depressão está atrás da porta, a morte sob a cama, a culpa debaixo do travesseiro e o sorriso está ausente. O prazer é amargo, as carícias são duras, quase ferinas.
E as únicas coisas que poderiam ser boas, valer a vida, são descobertas como tal quando já estão fora de alcance.
Acho que muitas vidas devem ser como as desta protagonista e me pergunto o que as impede de dar o próximo passo, pular no mar?

Matt 28/07/2011minha estante
Medo de ler esse livro.


Mari SN 16/05/2013minha estante
Muito boa essa sua visão do livro, senti a mesma coisa.


Heloisa e João 06/08/2013minha estante
É exatamente essa sensação que tive ao ler e reler esse livro.


Namelass 18/09/2013minha estante
Ah, precisam ler "A Dor" dela.
Dói mais a cada página.
Nenhum livro de história jamais contará os horrores da 2a. Grande Guerra como Duras em "A Dor".


Ricardo Rocha 30/07/2014minha estante
É uma pergunta perfeita. O que impede essas pessoas?


Laumarques 28/01/2015minha estante
Também li...(e tenho) em uma tarde... adorei.
Acho que o que impede é uma "esperança" de que algo mude, uma voz interior que sopra no ouvido: Bendito seja Deus, que modifica às horas.


Barbara 22/07/2018minha estante
Senti a mesma coisa.. em alguns momentos tive vontade chorar pois a tristeza dela era tão profunda. Adorei a forma lírica como ela conta a história mas as idas e vindas do passado me deixaram confusa em alguns momentos.


Leandro Moura 23/12/2020minha estante
Perfeita sua descrição. De fato, é essa a impressão que o livro passa. Parece que apenas o exercício da escrita consegue apresentar um consolo - e que escrita! Os momentos de pura poesia quase compensam a história triste e deprimente.




Jorlaíne 19/02/2024

A autora brinca com o tempo nesta narrativa. É linda a forma que ela vai descrevendo os espaços temporais.
A obra é uma autoficção e conta a vida pobre da protagonista em meio a conflitos familiares. Tem um irmão usuário de drogas, seu pai morreu na sua infância e ela acaba virando amante de um chinês rico que satisfaz algumas de suas necessidades financeiras.
É intrigante a forma cruel que ela vê a mãe.
comentários(0)comente



Rafa 14/03/2022

Fugacidade Familial
Um livro concebido através de memórias melancólicas. Apesar de boas passagens, a história parece não evoluir.
Lilian 10/07/2022minha estante
Você viu o filme? O filme é melhor que o livro. E a trilha sonora é linda.


Rafa 10/07/2022minha estante
Oi Lilian. Não vi, mas vou procurar. Vlew pela dica ?




Leila de Carvalho e Gonçalves 30/06/2020

Vencedor Do Pris Goncourt
Vencedor do Pris Goncour

A francesa Marguerite Duras (1914-1996) foi uma das vozes femininas mais influentes da Europa durante o século XX. Versátil, ela não só se dedicou a literatura, explorando os diferentes gêneros, como até mesmo flertou com o cinema, trabalhando como diretora e roteirista.

Conforme Leyla Perrone-Moises que assina o Posfácio desta edição, boa parte da obra durasiana é a transposição das experiências existenciais da autora. Indubitavelmente, uma proposta desafiadora, em especial, se somada sua estética moderna e experimental, recendendo lirismo. Portanto, de certa forma surpreende o sucesso comercial de "O Amante", lançado em 1984, quando a autora já contava com 70 anos. Vencedor do Prix Goncourt, apesar de ser considerado seu romance mais inteligível, sua estrutura continua intrincada, ao exibir a "presentificação" de um passado fragmentado pelas lembranças.

Por outro lado, o interesse acerca da narrativa pode ser explicado pelas questões morais que ela abarca. Polêmicas, remetem a três anos da adolescência da protagonista em Saigon, desde a iniciação sexual com um chinês rico e mais velho que se torna seu amante até sua expatriação para a França, quando o caso já estava encerrado.

A jovem, bastante experiente para a idade, é apresentada como estudante de um liceu que mantém um relação ambígua com sua família miserável, formada pela mãe, uma viúva falida que ?reprova a conduta da filha, mas vê nela uma possibilidade de ganhar dinheiro?; o irmão mais velho, drogado e violento, além do mais novo, fraco e oprimido. Aliás, a mãe de Duras ? por semelhança ou oposição ? influenciou a maioria de suas personagens femininas e de acordo com a crítica, O Amante não deixa de ser uma declaração de amor a essa mulher.

Entretanto, O Amante é sobretudo a história da paixão por um homem. O romance começa e acaba dando voz a protagonista já idosa e alcoólatra abordando seus sentimentos quanto ao que viveu, isto é, um amor neglicenciado enquanto durou, estigmatizado pela sensualidade, ganância e perversidade.

Para finalizar, é frequente comparar O Amante a um álbum. É como se cada fragmento reportasse a uma imagem na qual a protagonista comenta a respeito. Isto não acontece por acaso, já que o romance surgiu de um pedido do filho de Duras para que ela fornecesse legendas para antigas fotografias. O resultado deslumbra, a escritora é uma expertise em descrições distorcidas pela memória enretocadas pela pátina do tempo que ressignificam o passado. Eis um bom exemplo:

?Muito cedo foi tarde demais em minha vida. Aos dezoito anos, já era tarde demais. Entre os dezoito e os vinte e cinco anos, meu rosto tomou um rumo imprevisto. Aos dezoito, envelheci. Não sei se isso acontece com todo mundo, nunca perguntei. Acho que me falaram dessa arremetida do tempo que às vezes nos atinge quando atravessamos as idades mais jovens, as mais celebradas da vida. Esse envelhecimento foi brutal. Eu o vi ganhar meus traços, um a um, mudar a relação que existia entre eles, aumentar os olhos, entristecer o olhar, marcar mais a boca, imprimir profundas gretas na testa. Em vez de me assustar, acompanhei a evolução desse envelhecimento do meu rosto com o interesse que teria, por exemplo, pelo desenrolar de uma leitura. Sabia também que não me enganava, um dia ele diminuiria o ritmo e retomaria seu curso normal. As pessoas que me haviam conhecido, aos dezessete anos, quando estive na França, ficaram impressionadas ao me rever dois anos depois, aos dezenove. Eu conservei aquele rosto. Foi o meu rosto. Claro, ele continuou a envelhecer, mas relativamente menos do que deveria. Tenho um rosto lacerado por rugas secas e profundas, a pele sulcada. Ele não decaiu como certos rostos de traços finos; manteve os mesmos contornos, mas sua matéria se destruiu. Tenho um rosto destruído.? (Posição 28 e 36) ?

Nota: Adquiri o e-book que recomendo.
comentários(0)comente



Cleber 18/01/2024

Para o Desafio de Leitura BibliON de Janeiro 2024
Para o Desafio de Janeiro, livro que virou série ou filme.
A sinopse do livro não demonstra nem um pouco da grandiosidade da obra. A escrita da autora, hora em primeira pessoa e as vezes com um olhar de fora, descrevendo o presente, o passado e outro passado que ainda há de chegar, deixa o livro ainda mais instigante.
O posfácio da Leyla Perrone deixa o livro ainda melhor, falando sobre a vida da autora e sua forma de colocar sua própria história nos livros.
comentários(0)comente



DIRCE 28/02/2013

Estranho, mui estranho,
Tudo é tão estranho no livro "O Amante". A começar pela forma que ele chegou até mim (ou eu a ele). Algo que li sobre o livro me fez associá-lo a um lindo filme que assisti anos atrás: "Indochina", protagonizado pela não menos linda, na verdade, pela estonteante Catherine Deneuve, me motivando a comprá-lo.
Logo nas primeiras páginas, percebi meu equívoco e, como meu exemplar (2003) comprado, como muitos dos meus livros, em um Sebonão traz qualquer sinopse ou qualquer referência sobre a autora Marguerite Duras fui levada a uma rápida pesquisa.Tomei conhecimento que se trata de uma obra com teor autobiográfico. Autobiográfico? Corajosa...
Mas voltando as estranhezas: estranho a forma da escritora rememorar de forma não linear-, e a forma de narrar fatos marcantes na sua vida: ora na primeira pessoa, ora na terceira.
Estranho como uma recordação de uma observação feita, algures, e um rosto devastado pelas rugas, podem levar a um "mergulho" na memória que induziu a autora a escrever um livro de poucas páginas( 95)sem , contudo, se eximir de abordagens fortes como a miséria moral e física e da barreira existente entre as classes sociais e raciais.
Estranho a ambiguidade existente nos trajes da protagonista, uma jovem de 15 anos residente na Indochina(Indochina a razão do meu equívoco), quando conheceu o abastado, porém fraco jovem chinês, com quem se relacionaria sexualmente ( por dinheiro, conforme confissão feita à sua mãe): vestido de seda natural muito decotado, saltos altos de lamé dourado, que destoava do chapéu masculino em sua cabeça.
Estranho também são os laços afetivos familiares:uma família hermética (a mãe, a filha e os dois filhos) não se falavam e nem tampouco,se olhavam.
Estranhamente( ou não) o que eu não achei estranho foi a instabilidade afetiva da jovem: o amor dedicado à mãe, à sua colega do Liceu ( que talvez explique a vestimenta descrita acima). Todavia, não se verifica essa instabilidade no amor que a jovem dedicava ao irmão mais moço e na vontade que ela tinha de, um dia se tornar uma escritora.
Estranho é constatar que um livro sombrio ( vez ou outra é pincelado com nuances de cores e luz),carregado de amargura, de rancor e de ressentimentos, que fala sobre a travessia de uma vida onde tudo parece acontecer de forma precoce: perdas, iniciação sexual, rugas ( no rosto e na alma) possa se mostrar mui belo.
Fer Kaczynski 28/07/2017minha estante
Tem um filme baseado neste livro com o mesmo nome: O amante, é lindo tbm, tanto qto Indochina


Juraski 24/03/2020minha estante
Gostei muito da tua resenha. Quero acrescentar que apesar do relacionamento da adolescente ser por dinheiro, havia também desejo, carinho, talvez até amor...


Zé - #lerateondepuder 06/07/2020minha estante
Excelente. Palavras muito ponderadas para definir a obra. Gostei muito.




Gigio 07/03/2022

Surpreendente
Difícil descrever o quanto essa obra me tocou. Fiquei ainda mais impactado ao descobrir no posfácio que trata-se de uma obra autobiográfica.
A narradora conta sua história em "vários passados", e isso dificultou um pouco minha leitura, mas também enriqueceu a obra. Em momentos, fala de um passado distante, em outros ela se transporta para o passado e trata de um passado presente.
Ao narrar o passado estamos manipulando lembranças, e essas são muito voláteis. Então não se sabe ao certo o quanto dessa narrativa é experiênia da autora e o quanto é ficção, afinal "todas as falhas da memória são preenchidas por certezas fictícias."
O texto para mim fluiu muito bem, achei poético e sensível, mas também cru e até bruto em alguns trechos.
Como foi adaptado para o cinema, quero muito ver essa história nessa outra mídia.

Quotes:
"A criança sorri. Não responde. Ela descobre que é verdade, que o irmãozinho é um príncipe de verdade. Prisioneiro de sua diferença para com os outros, sozinho naquele palácio da sua solidão, tão longe, tão sozinho que é como se nascesse a cada dia, para viver."

"A história da minha vida não existe. Ela não existe. Nunca há um centro. Nem caminho, nem linha."
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



Nathalie.Murcia 19/11/2021

Provocativo
Romance com traços autobiográficos, tal como os demais da autora. Polêmico, clássico, e ganhador do prêmio Goncourt de 1984.

Este livro retrata a infância miserável da autora, na Indochina, as complicadas relações familiares, em especial com o irmão mais velho, além da sua iniciação sexual precoce, aos 15 anos, com um chinês rico.

Um misto de desejo, gozo, abandono, entrega lânguida, interesse, e até mesmo amor, ainda que por vias tortas, refletem, para mim, o significado do relacionamento da adolescente com o amante, romance que perdurou por três anos, cessando com a ida de Marguerite para a França.

"Os beijos no corpo fazem chorar. É como se consolassem. Em família não choro. Naquele dia, naquele quarto, as lágrimas consolam do passado e do futuro também. Digo que um dia vou me desgarrar da minha mãe, que um dia não sentirei nem mais amor por ela. Choro. Ele descansa a cabeça em mim e chora por me ver chorar. Digo que, em minha infância, a infelicidade de minha mãe ocupou o lugar do sonho."

Gostei muito da escrita fluída e provocativa de Duras.
comentários(0)comente



thaiscarbonari 17/02/2024

Interessante!
Sempre quis ler este livro e agora que tive a oportunidade, percebi que valeu muito a pena. A mistura entre passado, presente e futuro que a autora faz ao longo das páginas torna a leitura ainda mais rica, apesar das poucas páginas.
comentários(0)comente



Zé - #lerateondepuder 19/07/2020

O Amante
A vida como ela é, em suas várias facetas diferentes para cada qual, em cada época distinta, nem sempre sendo uma mar de rosas coloridas, é o que poderia se resumir do livro O Amante de Marguerite Duras, esse clássico da literatura que recebeu o Prêmio Goncourt em 1984, com mais de 2 milhões cópias vendidas somente em território francês. Trata-se de um romance autobiográfico que conta uma verdadeira tragédia de uma adolescente de origem francesa e nascida em Saigon, que tem uma relação amorosa com um rico comerciante chinês, na então conhecida como Indochina, uma das colônias francesa dos tempos do pré-guerra.
O livro foi escrito no ano de 1984, mas conta um tempo em que Duras era adolescente nos anos 1930, principalmente, no Camboja, também de domínio francês na oportunidade, local em que a mãe da protagonista conseguiu uma possessão de terra, após a morte de seu marido, pai de Marguerite, o qual falece quando a escritora tinha apenas quatro anos. A vida da família Donnadieu (Duras foi um pseudônimo adotado) seria marcada por grandes dificuldades financeiras, por conta das investidas sofridas e pelos errôneos investimentos financeiros da mãe.
Começa a história, falando de uma pessoa que a abordou e declara que, vendo uma foto da protagonista mais velha, que esta estaria ainda mais bela. Vai, diretamente, inserindo o leitor em sua biografia, já deixando claros os problemas familiares, principalmente, o ranço que tem para com o irmão mais velho, uma indicação de que a obra se concentrará em contar a história de uma vida sofrida.
Em tom filosófico e existencial, fala de Deus, do cotidiano da vida de sua família, representando um pensamento feminino de época, muito bem relatado na questão dos estereótipos das mulheres, com o modo de se trajar, por exemplo. A descrição dos locais, como o Camboja e o Vietnã antes da guerra, incorporam o enredo, da mesma forma que destaca a riqueza do seu amante chinês, antes da Revolução Cultural, um aspecto bem capitalista, para uma China que, poucas décadas depois, se tornaria totalmente comunista, assim como o Vietnã em que ela vivia.
Passado e presente se misturam na trama, ora contada na visão da escritora, ora descrevendo as coisas como se fosse outra pessoa. O retrato em detalhes da primeira cena de sexo com seu amante dá bem o tom de sua visão de mundo, juntamente, com outras abordagens sobre as agruras da família, principalmente do vício do irmão, que praticamente a destrói. A falta constante de dinheiro que deixa todos desavergonhados, é contada da mesma forma que a clara sabedoria, a visão de louca e visionária de sua amada mãe, a qual considera ter sido assassinada pelas idas e vindas daquela sociedade.
A difícil relação com os dois irmãos, que os considerava inúteis por não tomarem à frente do sustento da família, o que a levou ao caminho de, praticamente, a prostituição como forma de sobrevivência, é colocada, descrevendo esse irmão mais velho como se fosse a guerra, que se espalha por tudo, penetrando e roubando, aprisionando, mesclando-se e a tudo roubando para manter sua dependência química, o que faz a mãe se desfazer do pouco que tinham. Em certa parte, conta como esse irmão irá morrer pobre, sozinho e como o outro mais novo falece, ainda jovem e de broncopneumonia.
Em uma escrita poética, os fatos são narrados de forma não sincrônica, do tempo de infância, da relação com seu amante chinês, de sua vida mais velha na França, uma vez que a autora se muda para esse país com 18 anos, como se tivesse sido expatriada. Lembrando que o livro foi escrito quando Marguerite contava com seus 70 anos de idade e viria a falecer 12 anos depois, não sem antes de ter relatado sua vida em um pensionato no Camboja e suas saídas para ter encontros amorosos com seu chinês rico e, mesmo sustentando a família com essa prostituição, ainda era espancada pela mãe, por ser filha desonrada que nunca se casaria.
As ambiguidades, as estranhezas estão sempre presentes nessa obra de pouco mais de 100 páginas, ao estilo nouveau roman, cujo ideal seria uma versão e visão individual das coisas, subordinando o enredo e os personagens aos detalhes do mundo, ao invés de arrolar o mundo a serviço destes. É uma leitura, por assim dizer, sombria, rancorosa e com muitos ressentimentos que contará a passagem de toda uma vida, da iniciação sexual na adolescência, às perdas diversas, até a sua velhice.
Deixa um sentimento de amargura que transparece a vida de Marguerite Duras, mas muito fácil de se ler e que vale muita a pena as poucas horas de sua apreciação. A edição que se baseia esta resenha é a da editora Cosac Naify, do ano de 2007, com a tradução de Denise Bottmann, estando disponível para baixar em: http://lelivros.love/book/download-o-amante-marguerite-duras-em-epub-mobi-e-pdf/. Veja a vídeo resenha, em: https://youtu.be/dF6bsEAOD78. Acesso em: 19 jul. 2020.


site: https://linktr.ee/prof.josepascoal
comentários(0)comente



Vinicius 04/06/2022

Atravessar o rio
Um retrato seco, poético e autobiográfico da infância da autora. A carência de não receber o amor que gostaria da mãe, o medo de um irmão viciado e a ternura pelo irmão mais novo. Um pai ausente. Retratos de personagens reais, construídos aos recortes, porque em sua vida não havia "um centro. Nem caminho, nem linha".

Ambientado no Vietnã, quando ainda era colônia francesa, a pobreza e falta de estabilidade da família aceleram o amadurecimento da autora/narradora. De um lado, o retrato das ações calculistas que a tirariam daquela situação e de outro a lembrança sutil da descoberta de algo só tardiamente reconhececido como amor.

Ainda que leve um tempo para nos adaptarmos às mudanças de narrador e tempo, Marguerite Duras tem um domínio incrível com as palavras, levando o leitor a lugares que só a literatura é capaz de alcançar. Uma dança orquestrada de imagens e sentimentos.
Daniel 04/06/2022minha estante
Que top!


edu basílio 04/06/2022minha estante
um resenhista admirável, capaz de um poder de síntese 'hors pair', mas sem ocultar nada de sua emoção com a experiência de leitura =)))


Vinicius 04/06/2022minha estante
Hahaha obrigado
Mas o mérito vai para o posfácio de Leyla Perrone-Moisés que fez uma análise do nível da obra!
Com certeza minha segunda leitura será com outros olhos.




273 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR