debora-leao 15/12/2023
Fantástico
Foi meu primeiro livro de ficção científica e segundo da autora (o primeiro foi Terramar, que não me marcou). Fiquei encantada. Depois de certo momento na história passei a devorar o livro e ficava ansiosa por pausas no meu dia para conseguir continuar lendo.
Os maiores méritos do livro pra mim são três:
1 - a ideia de um planeta com humanos sem gênero, muito criativa e sensível;
2 - a forma que ela trata os assuntos, que é leve e dividida, espalhada no livro. Quem espera um livro com discussões aprofundadas e filosóficas não vai encontrar. O livro é profundamente filosófico, mas é filosofia contada como história, com calma, e é você quem tem que notar a lição que está sendo trabalhada ali.;
3 - a multiplicidade de vozes. Como é dito logo no começo, a história é majoritariamente contada por Genly Ai, mas não totalmente. A questão é que em muitas vezes (excetuando-se as histórias de outros pesquisadores, mitos de Gethen, etc) a autora faz 0 esforço de te situar e adiantar quem está falando. Aliás, isso é um grande ponto positivo na minha visão: a autora não subestima o leitor nem o pega pela mão, precisa ser perspicaz o suficiente pra ler e entender o que está sendo dito - seja pela filosofia/profundidade que está contida no livro, seja para compreender a própria história.
É um livro que te convida a refletir sobre gênero, mas também sobre o que é humanidade, o que é orgulho, com até onde a tecnologia muda nossa natureza, sobre o papel correto de religiões em nossa vida... Envolve até uns questionamentos filosóficos mais existencialistas - a questão da "não-sombra" e O PRÓPRIO NOME DO LIVRO (É explicado mais à frente na história) me deixaram muito reflexiva.
Eu adorei cada página, me surpreendi muito (vale avisar que a autora muda tudo DO NADA, quando eu menos esperava, vinha plot twist, fiquei umas 3x achando q ela escrever na próxima página q era brincadeira e que foi tudo um sonho do protagonista, e não foi oq rolou). Me empolgou muito para começar a ler mais coisas de ficção científica.
PS: as discussões sobre uso de pronomes masculinos e etc são válidas mas anacrônicas. Sinceramente, acho que seria a cereja do bolo se ela tivesse adaptado a linguagem para ser neutra, mas mesmo não tendo feito isso o livro não deixa de brilhar nem um pouco!
PS2: queria deixar isso pra quem leu mas não quero marcar como spoiler então direi da seguinte maneira: sim, eu fiquei ATÉ O ÚLTIMO SEGUNDO torcendo MUITO pra ROLARRRRRRR. E na boa na minha cabeça só não rolou pela época em que o livro foi escrito e o final foi outro. That's it.