Quando Éramos Órfãos

Quando Éramos Órfãos Kazuo Ishiguro




Resenhas - Quando éramos órfãos


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edu basílio 03/05/2020

um artista das memórias e das palavras

como é linda a escrita de ishiguro!
eu diria que ela reúne a precisão que existe em seu DNA japonês com a elegância vitoriana que ele adquiriu por passar a vida na inglaterra... uma sensibilidade e um talento excepcionais para construir protagonistas profundos e multifacetados, por quem desenvolvemos rápido tanto uma empatia calorosa quanto um certo desespero contido.

além disso, parece ter predileção por aqueles com "contas a acertar" com suas próprias memórias -- seja querendo apenas revisitá-las, ou necessitando reformulá-las, ou ainda tendo que acolhê-las, para entender como escolhas e circunstâncias, juntos, os levaram a se tornar quem são (e fazer as pazes consigo).

sem dúvida, anseio por ler seus demais romances, que infelizmente são apenas oito... :-)

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Ladyce 31/08/2014

Os descaminhos da memória
Já faz dias desde que terminei a leitura de “Quando éramos órfãos” e reluto em resenhá-lo: o livro é mais complexo do que a princípio lhe dei crédito. Quanto mais tento focar em alguma ideias, mais descubro sobre o que é importante; sinal de que é um livro rico em questionamentos. Voltei ao texto duas outras vezes e hoje sei que é um romance muito melhor do que minha primeira impressão.

A prosa aqui é deliberada. O texto é seco e sutil, qualidades que sempre me atraíram em seus romances. Ishiguro é preciso, escolhe a palavra exata e nenhuma outra. Por isso mesmo não se pode ignorar as pequenas deixas que semeia na narrativa. Toda atenção é pouca. Como João e Maria, vamos seguindo as migalhas deixadas na narrativa e se alguma é ignorada, perdida, comida com desatenção, podemos nos perder. Além disso, Ishiguro trabalha as elipses com mestria. E nesta obra chega a mesmerizar com sua habilidade de justificá-las. Para isso usa os desvios da memória de um narrador impreciso.

Memórias são pensamentos subjetivos e inexplicáveis, que se adaptam com frequência às necessidades de quem as recolhe. Não é incomum observarmos duas pessoas que tendo tido uma mesma experiência, lembrem-se de eventos de maneiras diferentes. É justamente por isso que o narrador dessa história, Christopher Banks, que se descreve como um grande detetive em Londres, tendo vivido na Inglaterra por mais de duas décadas retorna a Xangai, onde havia passado sua primeira infância, antes do desaparecimento de seus pais aos oito anos de idade, oferece um enorme leque de possibilidades para a difusão das dúvidas no leitor.

A evolução do mistério que envolve o desaparecimento dos pais do menino surpreende o leitor e o próprio Christopher Banks. Mas as ruas de Xangai são tão labirínticas quanto às aléias e becos sem saída das memórias de infância. Caminhos escuros percorridos por riquixás improváveis, o bairro dos estrangeiros à beira do campo de batalha durante a guerra sino-japonesa, o tráfico do ópio, tudo leva a mais dúvidas do que a fatos e assim como Christopher saímos dessa Xangai sem a certeza das poucas memórias que nos pertencem.

Não tive, no entanto, grande empatia pelo personagem principal que se mantém distante. Suas emoções estão guardadas e ele nos surpreende até mesmo quando se envolve amorosamente. Talvez por sentir que não pertence a lugar algum Christopher Banks mantém um verdadeiro vácuo emocional à sua volta. E nós leitores estamos excluídos por essa mesma distância, apesar de conscientes de seus pensamentos. Há um desconforto emocional.

No final este é um livro que marca, apesar da falta de empatia com o personagem principal. Mas é estupendo pela fabulosa habilidade de Kazuo Ishiguro ao liderar a narrativa através dos descaminhos da memória.
DIRCE 31/08/2014minha estante
Obrigada pela resenha esclarecedora, Ladyce.
Irá para minha Estante, com certeza.
bjs


skuser02844 21/12/2023minha estante
Sensacional sua resenha ?????


Ladyce 22/12/2023minha estante
Obrigada




Gláucia 25/03/2011

Preciso de um Prozac.
A sensação inicial é de que seria ótima leitura, sensação que durou algumas páginas. Narrado em primeira pessoa por Christopher Banks, um famoso detetive que viveu até os dez anos numa colônia britânica em Xangai, então palco de guerra com o Japão. O garoto tem sua vida modificada pelo sumiço de seus pais, então ele volta à Inglaterra onde terá que conviver com essas ausências. A história é toda fragmentada, contada por "flashbacks", tornando a leitura muito cansativa pois segue assim até as páginas finais. E aí vem o desfecho, extremamente deprimente, tudo acabou mal na vida dele e de todos que o cercam. Não que eu tenha problemas com finais infelizes, mas a narratva foi muito cansativa para ainda terminar pessimamente. E o personagem principal é egoísta e não tem o mínimo carisma.
Acho que lerei só gibi da turma da Mônica por alguns dias.
Beth 17/08/2014minha estante
Gláucia, a Luciana, uma grande leitora do Skoob, me ensinou: "valem muito nossas vivências e estado de espírito no momento em que lemos". Ao reler Quando éramos órfãos, adorei. Sutil, com toques vitorianos, de nonsense, vai aumentando o ritmo, me carregou em um vendaval crescente de suspense e horror, me trouxe de volta à paz e a um final feliz. Sim, para mim, foi feliz. Sim, o protagonista é um ególatra, e o autor nos mostra o absurdo do mundo por esse olhar.
Só queria que os leitores tivessem um segundo ponto de vista. Tua opinião é muito válida, talvez tenha sido a minha na primeira leitura, em 2008.


DIRCE 27/08/2014minha estante
Talvez eu até goste desse livro, Gláucia, mas com certeza, não tanto quanto gostei sua resenha. A-do-rei o Preciso de um Prozac e a referência aos gibis.


Gláucia 27/08/2014minha estante
Dirce, pode ser que vc goste mesmo, não me lembro mais dos detalhes, mas me lembro da sensação que fiquei após sua leitura: fiquei muito angustiada e com raiva.


Lauz 27/01/2018minha estante
A grande questão do livro é que ele, de modo algum, é sobre o Christopher Banks. Ele é apenas um personagem infantil preso no passado, tentando se achar. O livro é, de modo geral, sobre a solidão que, ao sairmos da bolha dos pais, sentimos.




Bruna 25/03/2021

Esperava mais
A escrita do autor é muito boa mas achei a história muito parada. Eu adoro ficção histórica e o livro de fato traz algo interessante sobre as relações entre Japão e Inglaterra da época e sobre a guerra entre China e Japão. Mas demora para acontecer coisas interessantes de fato. Pela fama do autor, achei que leria algo estilo Palácio de Inverno do John Boyne. O livro não é ruim mas não deu tão certo pra mim.
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Poduraes 15/10/2023

? Talvez haja aqueles capazes de levar suas vidas livres de tais preocupações. Mas para aqueles como nós, nosso destino é enfrentar o mundo tal como órfãos, perseguindo por longos anos as sombras de pais desaparecidos. Nada resta senão tentar levar a cabo nossas missões o melhor que pudermos, pois até o fazermos, calma alguma nos será permitida. ?
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Danielle 07/02/2021

Muito bom
Admiro muito o trabalho desse autor sempre que posso leio um livro dele pois sempre me emocionam e me fazem refeltir. Não foi a toa que ganhou premio nobel de literatura.
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Sa 12/04/2020

Confesso que fui animada para a leitura desse livro pois tinha lido Never Let Me Go (Não me abandone jamais) e tinha gostado muito. Porém me decepcionei um pouco com esse livro. Não senti desenrolar e demorou pra eu conseguir finalizar a leitura. O final deixa um grande vazio no peito, mas foi o momento que eu achei o personagem mais humano do que nunca.
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bobbie 23/08/2020

Como resenhar um vencedor do Prêmio Nobel de Literatura?
"Nossa infância torna-se como um país estrangeiro, uma vez que crescemos", é uma citação de uma poetisa japonesa (real, fictícia?) quase ao final de Quando éramos órfãos, e não poderia haver descrição mais certa do que essa de um tempo passado que todos os adultos experimentam. Tempo passado este que é o mote deste romance, como sempre finamente escrito por Kazuo Ishiguro. Christopher Banks, o protagonista, nos conta a história de sua vida sempre de um ponto de vista nostálgico, mesmo quando fala do "presente", pois ele mesmo já está passos adiante. Nunca - e perdoem-me se generalizei sem analisar a fundo frase a frase - Banks nos contará sua história a partir do agora, do momento presente. O presente, para ele, praticamente não existe. Sua vida inteira é composta por tijolos de memória, que ele assenta um sobre os outros, lentamente, e nem sempre com segurança: há inúmeras passagens em que as lembranças são borradas, como se surgissem detrás de uma cortina de fumaça, ou um véu que o Tempo inevitavelmente estende sobre os olhos de todos nós. A prosa de Ishiguro é memorável, como a busca por lembranças de seu protagonista, e não se arma da pompa das palavras difíceis e enredos complicados para se passar por bela ou elevada. O único ponto negativo, que me fez tirar uma estrela da minha avaliação, foi o apagamento de um importante personagem, cujo desfecho eu gostaria muito de ter conhecido, o que não ocorreu. No mais, este romance foi lançado no ano 2000, mas a edição que resenho, da Companhia das Letras, é de 2017. Contudo, a editora não revisou o texto de acordo com as regras ortográficas vigentes desde 2009. Incomodou-me muito ver muitas "idéias", "tranqüilidades" e outras grafias do passado num texto recentemente editado. Ficou feio e pegou mal. Nada que tire o brilho de Ishiguro, mas passou uma ideia de desleixo, principalmente em uma edição tão linda, tão caprichada.
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Cília 05/04/2013

O outro é melhor
Este livro é do mesmo autor de Os Vestígios do Dia mas nem parece. O primeiro emociona, prende e vc fica com o gosto de quero mais. Esse que acabo de ler é confuso (como o personagem principal) e vc fica querendo que acabe logo. A sinopse diz..."que não escapará do leitor a percepção..." Para mim escapou.
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Lauz 27/01/2018

A memória é o grande personagem, mais uma vez.
A memória é, indubitavelmente mais uma vez, o grande personagem desse livro guiado por Christopher Banks.
Christopher Banks perdeu os pais quando tinha pouco mais de nove anos e, após crescer o resto da infância na Inglaterra, eventualmente volta a Xangai, onde cresceu, para resolver o mistério do sumiço dos pais. Essa é a trama central da história, mas entre as memórias pelas quais ele passeia, nenhum momento é de graça. É a história de um homem preso no corpo de um menino por um passado mal resolvido cujo os choques de realidade são vitais para que ele saia da bolha em que somos colocados quando crianças onde o mundo é belo e justo.
De fato, a primeiro momento o personagem parece quase sem sal e, passado o meio do livro, ele começa até a ser irritante, mas se observado mais de perto ele é apenas um homem cheio de remorsos, fantasmas e infantilidades.
Mais uma vez Kazuo Ishiguro conta uma história onde, pelo labirinto de memórias, o foco central jamais é a história em si, mas a sensação passada por meio dela. A sensação de solidão e saudade daquilo que foi e daquilo que jamais será.
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Evelin 29/06/2023

A escrita é boa e a trama é interessante, mas até eu perceber que o livro era mais sobre o protagonista e como ele viveu sua vida com a sombra da ignorância do que aconteceu com seus pais, e não um romance investigativo, a leitura acabou ficando desgastante.
O protagonista, de maneira um tanto forçada, acaba descobrindo a verdade e pelo o que parece não tem nenhuma ação depois disso, assim como não tem quase nehuma ação na história inteira. O livro em si é bom; dá pra entender o quanto ele foi afetado toda sua vida por causa do desaparecimento dos pais, posso dizer que uma das consequências foi a lerdeza, mas por ter começado a ler esperando uma coisa completamente diferente, eu acabei não gostando.
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Alexia Karla 01/07/2020

Terminei na força do ódio
Poxa, eu queria muito ter gostado desse livro. Eu adorei o começo dele e estava gostando muito da maneira como o Kazuo contava uma história, aparentemente de suspense, de uma forma bem mais intimista.

Gostei muito da ideia de como o passado atormenta o protagonista, sempre trazendo a ele uma sensação de perda e de solidão. Sem falar no mistério que ronda a história.

Mistério esse que tem uma desfecho muito original e até bem melancólico. Porém que se perde no meio de tantas divagações do protagonista.

Longe de mim reclamar de personagens prolixos! Mas nesse caso, não senti a profundidade necessária pra que aqueles relatos realmente me tocassem como leitora da obra.

No fim acabou virando um livro enrolado, com uma premissa muito boa, mas que me dava muita preguiça de ler.

Mas pretendo sim ler mais coisas do autor.
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Felipe 12/08/2020

Sobre a orfandade do mundo
Para além das muitas personagens órfãs presentes no enredo, talvez o maior de todos seja o mundo. Contextualizado no conflito sino-japones pré-Segunda Guerra, "Quando éramos órfãos" acompanha a trajetória de Christopher, um garoto inglês que vivia em Xangai quando misteriosamente seus pais desaparecem e ele se vê lançado ao mundo sozinho. Anos mais tarde ele retorna à China em busca de respostas. É tão difícil pra ele e tão tardio esse "reencontro" com o passado, assim como foi tardio o fim da barbárie que desencadeou um dos maioria conflitos que a humildade já presenciou. Será, que mesmo depois de tudo o que aconteceu na vida de Cristopher, ele deixou de ser órfão? O mundo deixou de ser órfão, desde então? Essas respostas podem ser dadas, mas cada um pode tirar suas próprias conclusões.
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