Marcela 01/05/2023
O DUPLO - DOSTOIÉVSKI
Este foi o segundo livro que Dostoiévski escreveu e o o quinto que eu li do autor. Lançado logo após o seu primeiro sucesso - Gente Pobre - e, contrariando ao que os críticos da época esperavam, mostrou uma temática totalmente diferente, com ênfase no psicológico humano, ou mais precisamente, uma mente em ruínas - o que, inicialmente, não faz muito sucesso. A história trata do desdobramento da personalidade. É uma verdadeira imersão da mente conturbada de Golyádkin, que, sem muitos amigos e sem ninguém para se relacionar, sonha com uma ascensão social. Certa noite, resolve entrar de penetra em uma luxuosa festa de aniversário, da filha de um Conselheiro da alta sociedade, e claro, é escorraçado de lá. Atordoado com a vergonha que ele mesmo se submeteu, sai perambulando pelas ruas de São Petesburgo até cruzar com alguém que, estranhamente, é idêntico a si. Ocorre que, atordoado com o fato de que seu duplo começa a aparecer em todos os lugares e conviver com as mesmas pessoas e colegas de trabalho, o leitor acompanha a latente insegurança de Golyádkin em ver no outro o que ele gostaria de ser. Para tanto, o autor faz questão de enfatizar os pensamentos confusos do personagem, sua fraqueza, e a necessidade de, a todo momento, obter a aceitação alheia. Defino esta leitura como uma experiência muito psicodélica entrar na cabeça de uma pessoa que está enlouquecendo. A atmosfera é uma vibe Kafka, mas a profundidade psicológica é, incontestavelmente, Dostoiévski puro.