Lorran 28/10/2010No Buraco - Tony BellottoHoje vou inverter a ordem natural das minhas resenhas. Falarei primeiro do autor, depois do livro. Ok? Então, curta e grossamente, vamos ao que interessa: Tony Belloto - caso alguém não saiba - é guitarrista de uma das maiores bandas de rock nacional - os Titãs. Mas para aqueles que passaram muito tempo viajando na maionese, devo avisar que o gajo é também autor de outros seis livros, além do que resenho hoje.
Há quinze anos, Tony Bellotto lançava seu primeiro romance, Bellini e a esfinge, o primeiro de três livros que teriam o detetive Bellini como personagem principal (Bellini e o demônio e Bellini e os espíritos). Escreveu também BR163: duas histórias na estrada, O livro do guitarrista e Os insones. Além dos livros, apresenta, há onze anos, o Afinando a Língua, no canal Futura, e é cronista no blog da revista Veja.
Achei interessante apresentar, antes da resenha, o currículo literário de Bellotto para que vocês não pensem que No buraco é apenas uma aventura literária de um guitarrista que não tinha o que fazer. Não, Tony Belloto já flerta com a literatura - como vocês podem ver - há um bom tempo. E não que os outros livros fossem ruins, eu adoro romances policiais e adoro Bellini, mas dessa vez ele acertou em cheio.
Em No buraco, Teo Zanquis, um fracassado guitarrista de uma one hit band (banda de um único sucesso), nos conta algumas de suas aventuras desde seus tempos áureos - que não duraram muito - como guitarrista da já extinta Beat-Kamaiurá até seu envolvimento, já cinquentão, com uma adolescente filha de coreanos. Tudo isso enquanto, com a cara enfiada num buraco na areia da praia de Ipanema, ouve os mais diversos papos dos banhistas que o cercam.
Refém de suas memórias, Teo mostra ter feito jus ao lema "Sexo, Drogas e Rock n'Roll". Conformado com o seu destino e ciente de que a vida já não é a mesma de quando tinha seus vinte e poucos, Zanquis agora flerta com a literatura, mas já prevendo ser este um caminho não muito promissor:
"Desde que minha carreira de guitarrista pollockiano acabou - graças ao conselho dos Miles Davis, ‘se não tiver o que solar, não sole’ -, comecei a desenvolver a ideia de escrever. Ideia estúpida, concordo. Escrever pra quê? Ninguém lê."
Mas não só de loucas histórias vive Te Zanquis. Percorrendo várias fases do cenário pop nacional, Tony Bellotto faz uma balanço das transformações sofridas pela indústria fonográfica e se mostra um pessimista em relação ao futuro do rock.
"A culpa foi destas merdas! Estes pequenos diabinhos cibernéticos! Os computadores mataram o rock! A internet acabou com o rock!"
Dono de um humor ácido, linguagem moderna e bem humorada, e uma generosa pitada de erotismo, Bellotto desenvolve uma bela jornada de autoconhecimento, onde Teo Zanquis, como sempre, só percebe tarde demais que poderia ter buscado outros rumos para sua vida, ao invés da estagnação a que se submeteu. Repleto de referências musicais e literárias, No buraco é uma excelente pedida, e não só para os fãs dos Titãs.
Mas o mais interessante de tudo é ficar na dúvida sobre o que foi ou não real na vida de Bellotto das coisas vividas por Teo. São diversas as vezes onde são citados - direta ou indiretamente - escritores, roqueiros, artistas e produtores. São muitas histórias possíveis e que te deixam com aquela pulga atrás da orelha. É a literatura na sua forma mais bruta.
E tenho que dizer mais uma coisa: que capa foda! Projeto belíssimo da retina78.