Higor 04/02/2024
"1001 LIVROS PARA LER ANTES DE MORRER": LIVRO 13
Cultuado entre os grandes círculos literários, "O livro do travesseiro" é, acima de tudo, um potente registro histórico da cultura, pensamento, política e costumes do Japão dos anos 900 a 1000. Foi neste período que se deu o Período Heian, em que a poesia e arte eram parte importante da corte imperial, da qual Shōnagon fazia parte como dama da corte da Imperatriz Consorte Teishi.
As pessoas na corte imperial, inclusive, eram bem educadas na escrita e a literatura era vista como uma parte fundamental na interação social, logo, todo o contexto e ambiente na qual Shōnagon está inserida influencia diretamente na importância que o livro tem até os dias de hoje.
Então, além de observações e reflexões da autora sobre os mais variados assuntos, embora de maneira simplista e até mesmo aparentemente sem propósito, como listas de plantas, animais, rios, montes e etc., há relatos muito contundentes sobre eventos interessantes na corte, poesia e algumas opiniões sobre seus contemporâneos, e é por isso, graças a escrita e a habilidade poética de Shōnagon, que o livro deixe de ser apenas um diário ou um documento histórico e o catapulte para um registro literário.
Além da habilidade poética de Shōnagon, onde a mesma expõe diversos versos, provando sua superioridade ante outras poetas da época, "O livro do travesseiro" se prova como um livro importante por não apenas romper a barreira de ser um livro produzido por uma mulher, mas por inspirar diversos homens e criar um novo subgênero, o "zuihitsu".
No entanto, mesmo com sua tamanha importância, tanto que não foi aleatória sua presença na lista de 1001 livros para ler antes de morrer, o livro pode se tornar enfadonho na maior parte do seu tempo para quem quer encará-lo para algo além de um registro histórico ou com uma leitura fluida.
Muitas são as listas de locais e nomes que pouco agregam ao leitor pouco interessado em cultura japonesa ou em um período não específico. Isso porque os nomes são mencionados. É como se alguém nomeasse, por exemplo, capitais do centro-oeste brasileiro: Brasília. Goiânia. Campo Grande. Cuiabá. E para o leitor não ficar confuso, as notas de rodapé esmiúçam cada capital, mas de maneira que o leitor certamente não vai se interessar tanto e que tal informação logo vai se esquecer.
Assim como tais listas, tantas outras são as listas de coisas que a autora gosta, detesta, que causa algum tipo de sentimento, bom ou ruim, e ela vai se desdobrar em relatá-las brevemente.
O que traz interesse ao livro, ou assim me pareceu, foram, de fato, os eventos da corte, como eles se comportavam, como era o dia-a-dia de cada um, e o que faziam para se entreter, resolver problemas, assistir seu povo, coisas do tipo. Era nesses momentos que eu me via, de fato, do Japão daquela dinastia, e me questionava como as coisas deram certo até determinado momento e como as dinastias começaram a ruir. Mas para me deliciar com tais divagações, eu precisava encarar as diversas listas que pouco me atraiam.
O principal relato histórico do período mais importante da literatura japonesa em seus dois milênios, "O livro do travesseiro" é importante por seu relato franco e preciso do período em que foi escrito, além de ser um franco relato sobre as percepções de uma mulher dentro de uma corte imperial, embora, para se desfrutar seu conteúdo, tenha que percorrer trajetos bastante árduos, e que, analisando friamente, pode não compensar.
LIVRO 01 - A epopeia de Gilgamesh
LIVRO 02 - Ilíada
LIVRO 03 - Odisseia
LIVRO 04 - Fábulas de Esopo
LIVRO 05 - Teatro Grego
LIVRO 06 - Dao De Jing
LIVRO 07 - Eneida
LIVRO 08 - Quéreas e Calírroe
LIVRO 09 - O asno de ouro
LIVRO 10 - Metamorfoses
LIVRO 11 - Antologia poética clássica chinesa
LIVRO 12 - As mil e uma noites
Este livro faz parte do projeto "1001 para ler antes de morrer".