Ariadna Oliveira 12/05/2022
A trama da vida se rasga, e você vislumbra o que não deveria
Não sei como começar a falar desse livro. Posso dizer que tive uma relação de amor e ódio com ele. Em alguns momentos ele me despertava grande curiosidade, e em outros nenhuma. Às vezes estava empolgada, e depois só quis que ele acabasse logo. Digo que do início até a metade estava me divertindo com a história e curiosa pelo que estava por vir. Da metade até o final o livro se estende por longos monólogos de Memnoch, o demônio, acerca de Deus e de sua criação.
No início acompanhamos Lestat junto de David, após os acontecimentos do livro A História do Ladrão de Corpos. Descobrimos que Lestat anda perseguindo um assassino perigoso, conhecido pela alcunha de Roger, que tinha o hábito de contrabandear artefatos religiosos, como estátuas e livros. Ele tem uma obsessão estranha por Wynken de Wilde, autor de 12 livros com os quais ele tem profundo apego. Roger tem uma filha cristã que apresenta programas na televisão, e procura sempre a manter em segredo para que ela não corra perigo em razão dos crimes que ele comete, pois ele possui inúmeros inimigos que poderiam querer fazer algo contra ela. Enquanto observa a vida de Roger e de Dora, Lestat começa a sentir a presença de um ser assustador, que com certeza não é um vampiro, mas algo muito maior e infinitamente perturbador, que ele desconfia poder se tratar do próprio demônio.
De todos os livros das crônicas que li até agora, esse foi o que menos me afeiçoou. Senti que a autora, em algum momento, se perdeu e não soube amarrar muito bem todas as pontas que ela abriu. No início, recebemos um longo relato sobre a história de vida de Roger, com longas explicações a respeito de Wynken de Wilde, mas essas informações não possuem nenhuma relevância no restante da história, posto que se você optasse por pular essa parte, não afetaria de modo algum sua compreensão do final do livro. Ao longo de toda a trama não acontece praticamente quase nada, são raros os momentos que você sente empolgação pela história, tanto que demorei mais de um mês para terminar de ler, e olha que é o mais curto das crônicas. Mas mesmo assim resolvi insistir na leitura porque queria saber qual seria a escolha de Lestat e quais as consequências que viriam dela. Também porque pretendo ler os próximos livros, e talvez a experiência dessa leitura faça diferença na compreensão dos próximos. Talvez as pontas que a autora não fechou nesse livro sejam fechadas em outros. Para imergir no livro, te aconselho a deixar para lá todas as suas visões particulares sobre questões religiosas, já que em grande parte vemos Deus do ponto de vista do demônio. Caso contrário, a leitura poderá ser bastante incômoda para você. Esse não foi meu problema, em relação a esse ponto, achei a história bem tranquila de acompanhar, meu problema foi com a morosidade do livro. É lento e possui muitas informações que não servem para absolutamente nada, como foi o caso da história de Roger. Eu, particularmente esperava encontrar uma história sobre vampiros, e me deparei com teologia do início ao fim, o que me desanimou, além de eu ter achado um pouco bizarro demais um vampiro ter a chance de conhecer o paraíso e o inferno, de ver Deus e o demônio. Eu particularmente acho que não fez sentido misturar esses universos. Mas ainda assim, é um livro que traz reflexões profundas e que faz você questionar suas crenças. Foi um livro que me deixou bem pensativa.