O Espelho no Espelho: Um Labirinto

O Espelho no Espelho: Um Labirinto Michael Ende




Resenhas - O Espelho no Espelho


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Daniel.Prattes 23/04/2022

Em A História Sem Fim, Michael Ende nos apresenta a infância sonhada por uma criança. Neste livro é correto dizer que ele nos revela a infância sonhada por um adulto?

Filho de um pintor surrealista, Ende escreve sobre o que vê nas pinturas do pai e com os olhos cheios de dúvida de um filho que busca se impôr como artista, por vezes prostrando-se diante da memória do pai, por vezes buscando suplantá-lo em voo com asas de cera... e como queimam lindamente essas asas!

Tem que ser reconhecido que o Ende não cede à facilidade de explicar as sensações adquiridas durante a leitura, basta o assombro: um homem alado, um touro e um relógio na cabeceira de uma cama, uma múmia cercada de guarda-chuvas...

Desse caleidoscópio imagético brota a unidade sobre a qual o leitor passeia e depois de entrar em O Espelho no Espelho, ultrapassar suas conivências e armadilhas, é muito difícil sair dele, justificando assim o subtítulo do livro: Um labirinto.
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Tiago Mujica 01/10/2022

Ende não cede a nenhuma facilidade aqui, ele quer te prender em seu labirinto de espelhos. Ele quer que você procure e procure por significados que não vai encontrar e assim se perca mais e mais. É ler e se sentir como o Bastian em História sem Fim, perdido entre esses infinitos significados.
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Sharon 17/02/2009

Um passeio por uma exposição de arte, vários pequenos contos, descrições de sonhos, um pequeno mundo cheio de criaturas e seres estranhos que se relacionam... non sense que se explica. É uma história estranha e também não é.

Eu me senti passeando pelo quadros de Magritte e Dalí.

Blog do livro: http://espelhonoespelho.blogspot.com/
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Janos.Biro 17/11/2017

A palavra não dita
O alemão Michael Ende é mais conhecido por ter escrito A História sem Fim. Espelho no Espelho, no entanto, é uma obra para adultos. É uma seqüência de construções simbólicas que mais parecem sonhos, mas que se interligam de maneira sutil. O subtítulo do livro é “um labirinto”. O autor enfatiza que o livro é um romance, embora seja aparentemente composto de contos curtos que não parecem estar ambientados no mesmo universo. O leitor pode chegar até a última estória com a impressão de que se trata de um livro de contos que não podem fazer parte de uma mesma história. Para aumentar o efeito, os “contos” não são numerados nem recebem titulo, a única coisa que indica que se está em outra estória é que a primeira frase de cada uma é escrita em letras maiúsculas. A ideia do autor parece ser realmente construir um labirinto de estórias surreais, descritas com vivacidade, e seguindo estilos literários diferentes.

Michael Ende é o filho de Edgar Ende, pintor surrealista que se retirava para um quarto escuro para obter sua inspiração. Quando ele voltava, dizia ter uma imagem em sua cabeça, fruto de um estado que ele descrevia como “o momento anterior à razão”. Assim, ele buscava pintar cenas que se passavam no limiar da sua própria consciência.

Michael Ende pretende fazer algo semelhante em seus livros. Em Espelho no Espelho isso fica bastante claro. Ele está criando uma experiência linguística que pode ser descrita como a tentativa de dar ao leitor uma imagem que só pode ser acessada por um estado limiar da consciência. Para isso, o autor faz uma composição literária ousada: ele quer que o leitor entre na estória, como Bastian faz em A História sem Fim. O personagem principal não é uma pessoa real, mas a persona de alguém que sonha, sem uma descrição definida, mas que descreve seu mundo com riqueza de detalhes. Assim, o personagem seria um conjunto de sentimentos humanos expressados por simbolismos oníricos.

Ao invés de nos identificar com o personagem, nós nos identificamos como o personagem. Temos a impressão de que a personagem é nossa própria mente, quando dormimos, e que aquelas histórias são sonhos que tivemos, mas dos quais nos esquecemos. Por isso o livro transmite a ideia de que só o próprio leitor pode completar o livro, com algo que somente ele pode saber. Na tentativa de conduzir o leitor a essa descoberta, o autor mistura linguagem figurada e literal de tal forma que não é mais possível distingui-las.

A primeira estória é narrada por um personagem chamado Hor, que vive em completo isolamento, que não ouve nada senão seus próprios ecos. Com quem ele fala, senão com ele mesmo, que é o leitor? Enquanto lê o livro, o leitor se encontrará andando num labirinto, como Hor. A realidade do livro se transforma a cada nova estória, cada novo sonho.

É claro que o autor não deixa de colocar suas preocupações pessoais no texto. A mais significativa destas preocupações talvez seja a crítica ao modelo econômico capitalista. Numa das estórias, o personagem é um bombeiro que encontra uma catedral feita de dinheiro. Ele tenta apagar as velas para evitar um incêndio, mas não consegue. No altar da igreja ocorre o milagre da multiplicação do dinheiro, e os fiéis são chamados de acionistas. Ao bombeiro é oferecida uma ação, que ele nega. É então chamado de herege. Uma clara referência à ideia de que o capitalismo é uma religião.

Mas a causa de todos os problemas parece ser a falta de uma simples palavra. Numa das estórias, há um grupo de saltimbancos que está peregrinando pelo mundo em busca de uma palavra perdida. Eles eram atores que encenavam uma peça capaz de manter o mundo unido. Mas eles perderam uma palavra, e sem essa palavra a peça perdeu o sentido, e o mundo começou a se fragmentar. Segundo o texto, “Ninguém a havia roubado, nós tampouco a esquecemos. Ela simplesmente não estava mais lá”. Não se trata de uma palavra qualquer que o autor pretende fazer o leitor descobrir, mas um conceito essencial para resolver o que ele considera ser uma crise global real.

Há outras partes que se referem a tal palavra não dita. Uma delas é especialmente relacionada a um quadro do pai do autor. Há um patinador no céu, escrevendo uma palavra nas nuvens, mas as pessoas não reconhecem a palavra e não se importam com ela. Ainda em outra estória, o personagem passeia por uma coleção de quadros, cada quadro diz uma palavra, mas um deles não diz nada. O personagem pergunta a outra personagem:

“– Por que está calado?

– Ele já falou – respondeu ela.

– Porque eu não escutei?

– O senhor escutou muito bem. Mas só encontrará o dito em sua recordação.

– Mas eu gostaria de ouvir agora mesmo!

– Senhor – disse a moça em voz bem baixa, – como poderia tal acontecer enquanto o senhor deseja? Não desejar não faz diferença. Não fazer diferença significa olhar para o invisível e ouvir o que não foi dito.”

Há uma teoria sendo exposta em forma de arte literária. Um dos pressupostos dessa teoria é que os bons autores não passam diretamente sua mensagem, mais deixam o leitor construir uma mensagem própria. O leitor hesita em pensar por si mesmo, e é isso que foi perdido. A palavra não dita, aquela que dá sentido a todo o texto, sempre esteve com o leitor, mas ele deve ser incentivado a procurá-la e dizê-la.

Em A História sem Fim o autor também dá uma lição sobre como ler livros, enquanto nos instiga a escrever nossos próprios livros. Bastian, o personagem principal, também lê um livro chamado “A História sem Fim”. Na verdade, é exatamente o mesmo livro que temos em mãos enquanto estamos lendo. O livro contém a si mesmo, e Bastian está nesse livro, mas a princípio não se percebe como personagem, somente como leitor. Ele hesita em dar um nome à imperatriz, porque não acredita no seu poder de criação, como um leitor que também pode ser um coautor. Por isso, ele lê uma história sem fim, até perceber o que estava lá desde o começo: que o tempo todo, a verdadeira história era sobre ele, e só ele pode renovar o sentido do texto e salvar Fantasia.

Espelho no Espelho também trata dessa hesitação. Ele descreve a lenta jornada do leitor que precisa compreender-se como participante ativo da história, o único que pode dar sentido a ela, o único que pode completá-la com a palavra que ela não diz. Enquanto isso, o leitor testemunha os males provocados pela ausência dessa palavra. Em A História sem Fim esse mal é apresentado de modo direto como sendo o Nada. Mas em Espelho no Espelho, esse mal é apresentado de modo muito mais sutil e perturbador. Além disso, esse mal é relacionado aos próprios males sociais da sociedade de consumo, à guerra e à angústia existencial. Alguns personagens irão tentar envolver o leitor em suas tramas, para convencê-lo de que aquilo é só uma história, não é real, e portanto não é importante. Outros personagens irão tentar fazer o oposto, abrir os olhos do leitor para o fato de ele está de fato olhando para si mesmo, como num espelho, e que esse espelho reflete algo real, e portanto a história é real, e a necessidade de intervenção do leitor é real e urgente. Como o que ele vê a princípio não é a si mesmo, mas somente estórias fantasiosas, ele deve ser como um espelho olhando para outro espelho. O que ele vê parece o vazio da escuridão infinita, mas em cada camada de idas e vindas, é para ele mesmo que está olhando quando olha para o outro.

site: http://www.janosbiro.com.br/post/88014159260/a-palavra-n%C3%A3o-dita
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Fimbrethil Call 09/04/2010

Confesso que me decepcionei.
Li esse livro depois de ler História sem fim, e de ter me maravilhado, caí fulminada de paixão por Michael Ende e resolvi ler todos os livros dele, mas eu li só esse, porque foi uma decepção muito grande.

Não sei se o relesse agora se mudaria de opinião, mas na época em que o li, achei tudo muito confuso, contos muito estranhos, mas talvez seja essa a definição de literatura fantástica: estranho.

Realmente não gostei, parecia que todos nesse livro eram maus, ou talvez não fossem, foi só a sensação que eu tive.

Desculpe se a minha resenha está muito confusa, é que esse é o nível de confusão que o livro provocou em mim. Confesso que me decepcionei...
Pablito 13/12/2011minha estante
Não desiste do Michael Ende por causa desse livro. Também me decepcionei muito depois que li no "Espelho no Espelho", mas depois eu li "Momo e o Senhor do Tempo" e voltei a admirá-lo. :D


Renato 23/10/2013minha estante
Li ambos os livros que você cita e é bastante compreensível a decepção de um em função do outro, visto que um é uma história infantil com diversos elementos críticos voltados ao público adulto e o outro é uma compilação de contos surrealistas, em sua grande maioria também carregados de críticas ferrenhas à sociedade moderna.
Li primeiro o Espelho no Espelho (que faz mais sentido sabendo que o pai de Ende foi um pintor surrealista) e me interessei pela linguagem, ainda que seja difícil encontrar o sentido em todos os contos. Li depois HSF e fiquei maravilhado com esse universo e a leveza com que escreve.
Mas é importante diferenciar a natureza essencial de ambas as obras, ou a decepção será certa.


Gabê 23/11/2015minha estante
Poxxa, vou defender o livro tentando não dar spoiler e sem querer impor a minha interpretação...
Eu sou muito fã do Michael Ende e meu irmão também. Esse não é só meu livro predileto dele, mas um dos meus prediletos entre todos os livros que li, tipo, top 10.

A única dica que eu acho pertinente dar é: não é um livro de contos. É um romance. Claro, tem formato de contos aparentemente desconexos, mas é como se todas as histórias estivessem entrelaçadas em uma mesma narrativa. Ele é perturbador demais e é lindo demais também. Acho que vale a pena reler. Não vou falar mais pra não dar a minha interpretação sobre ele, o que acho meio chato. Se quiser trocar mais ideia sobre, me chama nas mensagens.




Thyago 21/03/2016

Espelho no espelho
– Você me ama? – perguntou, afinal [a rainha das putas].
– Não posso, ninguém pode amá-la [– respondeu o mendigo].
Ela acariciou ternamente o corpo de marfim.
– E Deus?
– Deus também não. Caso contrário , você não seria quem é.
A rainha soltou um riso de escárnio.
– Quer dizer então que Ele é um amante assim tão ruim, desses que desistem logo?

[. . .]

– Vou lhe confessar agora meu segredo... só para você. A partir de agora você terá de carregá-lo consigo por aí. E dessa maneira eu me livro dele. Está tremendo?
– Você é horrível, rainha.
– Não mais horrível do que o seu Deus – respondeu ela. – Mas vou dispensá-lo agora, a você e a ele, com quem você se confunde tão teimosamente. Vou dispensar de minha cama essa cidade e esse reino, tão ligados. Vou para um outro parceiro de coito, um mais experiente, um que satisfaça minhas exigências. Vou abraçar o nada e carregá-lo em meu colo e ele não vai me desapontar por ser infinito. Vocês podem me esquecer porque eu esquecerei vocês.
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RITA TOURINO 31/12/2021

Um labirinto dentro de um labirinto
Me interessei por esse livro depois de conhecer o autor através do seu incrível livro Momo e o Senhor do Tempo, entretanto não entendi absolutamente nada desse livro, é um bom livro mais extremamente confuso, as vezes até angustiante para saber o que estava acontecendo e apesar de nada fazer sentido no fim estão interligados. De acordo com a sinopse Michael Ende aprofunda temas como a busca da identidade, a desolação da guerra, o amor, o absurdo de uma sociedade dedicada ao mercantilismo, magia, angústia, falta de liberdade e imaginação, entre outros; temas interligados com infinitas histórias, configurações e personagens.
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Udson3 28/12/2023

Michael Ende sempre será lembrado unicamente por "A história sem fim". Apesar de ser um dos seletos autores de obras infanto-juvenis que transcendem idades, tais como Roald Dahl ou Lewis Carrol, Ende também era um prodigioso contador de histórias para adultos. "O espelho no espelho" é um livro fora de catálogo, disponível só em sebos. O exemplar que li foi emprestado por uma biblioteca próxima. São contos de profunda veia filosófica, tangendo o surrealismo melancólico. São de uma beleza tão única, que me pegava em estado de meditação a cada enredo. Fiquei sedento por ler outra obra assim quando terminei o livro. Em qualquer edição que se encontre, haverá nas capas uma belíssima arte, assinada pelo pai do escritor, o artista surrealista alemão Edgar Ende.
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