Liar1 05/02/2024
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É mais decente pôr a nossa ignorância no mistério, do que querer mascará-la em explicações que a nossa lógica comum, quotidiana, de dia a dia, repele imediatamente, e para as quais as justificações com argumentos de ordem especial não fazem mais do que embrulhá-las, obscurecê-las a mais não poder.
Página 166
Quem teve um ente humano a seu lado, com ele viveu na mais total intimidade em que dois entes humanos podem viver, não o compreendeu, não pode absolutamente compreender mais coisa alguma.
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Não era bem a morte que eu queria, não era o aniquilamento da minha pessoa, a sua fragmentação até o infinito, nas coisas e nos seres, era outra vida, mais cheia de amor, de crença, de ilusão, sem nenhum poder de análise e isenta de toda e qualquer capacidade de exame sobre mim mesmo.
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Pela primeira vez, fundamentalmente, eu senti a desgraça e o desgraçado. Tinha perdido toda a proteção social, todo o direito sobre o meu próprio corpo, era assim como um cadáver de anfiteatro de anatomia.
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Há, porém, uma desgraça de que homem nenhum é capaz de rir: é a loucura. Somente é capaz de rir de um louco um outro louco. Essa miséria física e moral de um homem que fica alheio a si mesmo, inconsciente, tateando na treva cerrada, sem pensamento e sem vontade, sempre inspirou e sempre há de inspirar um respeito infinito.
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O que ali havia, como tratamento psiquiátrico, era apenas isto: duchas, camisola de força, e quarto-forte. Um belo e excelente regime, sem dúvida, para agravar a loucura dos loucos, ou para transformar em loucos os sãos!...