Paula 05/07/2013Singelo e tocante; Lya LuftAcabei de ler "Para não dizer adeus" num repente. E totalmente desproposital. Peguei o livro que tinha comprado na última Bienal e estava esquecido na estante e por algum motivo senti que devia lê-lo. Acabei com lágrimas nos olhos e com um sentimento de culpa por há tanto não pegar um livro da Lya para ler.
Da autora já li alguns títulos e desde nova sou fã. Lya escreve de maneira lúcida, sutil, poética. Esta reunião de poesias sobre qual escrevo essa resenha é um relato sobre vida, morte, infância, velhice, amores. Comecei o livro querendo, como de costume, assinalar meus versos preferidos. Então me vi marcando todas as muito bem escritas poesias.
Uma, em especial, me encheu os olhos d'água. Chama-se "Inútil espera"
Me emocionei já imaginando o contexto no qual ele tinha sido escrito (dá para deduzir que Lya fala de sua mãe, que teria tido Alzheimer) e então fui pesquisar a respeito. Econtrei este outro texto: http://veja.abril.com.br/260809/alzheimer-luz-alma-p026.shtml , que me fez mais cúmplice de sua história ainda
"Para não dizer adeus" enfim me fez recordar o porquê de minha admiração enorme pela autora. Não sei explicar minha identificação pela obra, sei que o livro me escolheu. E eu, como boa leitora e amante de literatura, acolhi-o sem arrependimento.
***
Inútil espera
O rumor de uns passos enérgicos,
a voz me chamando no jardim, na sala
rosas com nomes secretos, e um perfume
igual ao dela.
Legou-me sua alegria inesperada,
o amor à vida,
e algo do perfil. Não sua beleza:
essa ficou nos retratos.
Nada lhe significo mais:
quando me vê enxerga outros rostos,
mais reais do que eu na sua ilha.
É minha mãe e não é,
vive e não vive, na clausura da mente
adormecida.
Mas eu,
a cada visita espero o impossível:
que ainda uma vez o seu olhar me alcance,
e por um momento ame, nesta mulher, a sua filha.