Resenhas - Leituras de Escritor - Ana Maria Machado

Claire Scorzi 11/07/2011

Uma antologia do meu gosto
Uma antologia de primeira linha, ou então o gosto de Ana Maria Machado é semelhante ao meu. Do humor e refinamento displicentes (mas sutilmente críticos) de "As costas do camelo" de Fitzgerald, ao, digamos, 'terrir' - ou humor negro - de Saki em "A porta aberta", até "A autoestrada do Sul" de Córtazar (um esplêndido exemplar do fantástico que invade o cotidiano, chegando a absurdos) passando pelo enternecedor "Dizem que ela existe" de Eric Nepomuceno, que aliás fecha com chave de ouro o volume, a obra fica perto da perfeição na seleção de contos. Saí da leitura querendo ler mais Saki e o Fitzgerald contista, e conhecer mais de Nepomuceno. E ainda há Allan Poe, Stanislaw Ponte Preta, Virginia Woolf em textos merecedores de leitura e releitura.

jota 30/09/2016

Quase perfeito...
Finalizada a leitura dos catorze textos desta coletânea organizada pela escritora Ana Maria Machado concluo que ela é quase perfeita, uma das melhores que li ultimamente. Se não são ótimos ou excelentes, ao menos são contos acima da média, muito acima: nenhum deixa o leitor aborrecido, pelo contrário.

Leituras de Escritor traz uma agradável mistura de autores estrangeiros com brasileiros, contando histórias bem-humoradas, engraçadas ou narrando casos misteriosos ou fantásticos e até mesmo podemos encontrar em suas páginas dois ou três contos que nos comovem bastante. Vamos a eles.

A carta roubada / Edgar Allan Poe - Não é uma grande história de mistério, como outras narrativas mais conhecidas de Poe, mas é interessante saber como a tal carta é encontrada, isso é mesmo. (***1/2)

Pai contra mãe / Machado de Assis - Tempos da escravidão. No centro do Rio, caçador branco persegue uma negra fugitiva e a recompensa pela captura poderá fazer com que ele e a esposa consigam manter em casa o filho recém-nascido, que seria colocado na roda dos enjeitados. Final altamente dramático, que justifica o título. (*****)

A última folha / O. Henry - A sentimental, comovente e bela história de uma jovem que, tendo adoecido, acredita que vai morrer quando cair a última folha da árvore que ela avista de seu leito de repouso. A última folha cairá ou permanecerá no galho? (****1/2)

O almoço / William Somerset Maugham - Rapaz gasta todo o dinheiro que tem (para passar o mês em Paris) no que seria um singelo almoço com uma mulher que diz comer muito pouco, mas que se revela uma glutona. A vingança vem na última linha do conto, muito engraçado. (****1/2)

A porta aberta / Saki – Uma narrativa curta, de humor negro, protagonizada por uma menina com imaginação prodigiosa na arte de inventar histórias que podem deixar adultos assustados. (***1/2).

As costas do camelo / Francis Scott Fitzgerald – Um conto da era do jazz. Diversão e confusão numa festa a fantasia nos anos 1920. Leve, bem-humorado, irônico, muito gostoso de ler. É Fitzgerald em grande forma, transitando com desenvoltura no mundo dos americanos bem-nascidos. (****1/2)

Piá não sofre? Sofre / Mário de Andrade - Piá = menino; piazinho = menininho. E o deste conto, Paulino, se não é lá muito feliz com a mãe meio desnaturada menos ainda será com a avó paterna, que o toma a seus cuidados quando o pai é preso. Conto pra lá de modernista, com direito a palavras e expressões nunca dantes lidas num texto e muito mais. Olha o Paulino na capa do livro comendo formiga, o pobre... (*****)

A duquesa e o joalheiro / Virginia Woolf – Primeira vez que leio um conto de Woolf; só conhecia seus romances mais famosos e essa história versa sobre as relações de uma duquesa financeiramente arruinada (e precisando de um empréstimo) com um afamado joalheiro, outrora um sujeito muito pobre. (***1/2)

Feliz aniversário / Clarice Lispector – Familiares se reúnem para o aniversário de uma senhora de 89 anos e muito pouca coisa é motivo pra festa. Ressentimentos e sentimentos à flor da pele, bolo açucarado e seco para os convidados, muito amargor misturado com Coca Cola.(****)

A ignorância ao alcance de todos / Stanislaw Ponte Preta – O quê ou quem é Leônio Xanás, conhece? Um pintor de paredes, uma marca de vinhos ou de um remédio, uma pessoa, uma coisa ou muita coisa? Descubra e ria um bocado. (****)

A autoestrada do Sul / Julio Cortázar – Conto fantástico de Cortázar, dos mais conhecidos. Um gigantesco congestionamento ocorre numa autoestrada que leva a Paris; não se sabe muito bem como começou nem como vai terminar. Se é que vai terminar um dia. (****1/2)

O cobrador / Rubem Fonseca - Um clássico dos anos 1970, o violento e célebre O Cobrador está para a obra de contista de Rubem Fonseca do mesmo modo que O Alienista está para a de Machado de Assis. Bandidagem de primeira, imperdível. (*****)

O avião da Bela Adormecida / Gabriel García Márquez – Numa viagem entre Paris e Nova York uma bela passageira da poltrona ao lado, que dorme o tempo todo, desperta no escritor os mais diversos sonhos, sua apaixonada imaginação. Muito bom pra se ler durante uma viagem, mesmo que não seja de avião. (****1/2)

Dizem que ela existe / Eric Nepomuceno - Sob um título único, cinco pequenas histórias envolvendo famílias ou relacionamentos familiares. A última, do pai que dá banho em seu menino, é a melhor de todas, a mais comovente. (***1/2)

Lido entre 17 e 29/09/2016. Minha avaliação: 4,7.

Joana 04/11/2016

Difícil encontrar um livro de contos em que se goste de todos. Mas aconteceu: Leituras de Escritor - com seleção e apresentação de Ana Maria Machado - é simplesmente excelente. Recomendo!