Ana Clara 10/06/2017
Treblinka
O livro mais triste que já li. Logo no primeiro capítulo tem a descrição de uma cena que me deixou com o estômago embrulhado.
Embora, não seja o intuito do autor,eu não pude deixar de notar a diferença desse livro com outros relatos que eu já li sobre o holocausto. Ao contrário dos outros livros, o povo judeu aqui não é em sua totalidade passivo.
Eles arquitetaram planos, montaram estratégias para se defender. Embora eles não tenham esperança alguma de saírem vivos, eles querem deixar um legado moral de que os judeus não foram levados facilmente.
Esse livro, além de contar sobre o sofrimento judeu nesse período, vai contar também sobre uma revolta que aconteceu nesse campo de extermínio chamado Treblinka. O plano deles com essa revolta era que ao menos uma pessoa saísse com vida para contar para o resto do mundo o tudo o que havia acontecido ali.
Os judeus de Treblinka queriam preservar a sua honra e a sua moral para que as gerações futuras se orgulhassem e não sentissem vergonha.
Também mostra muito o sentimento irracional e visceral que os alemães tinham pelos judeus.
Vou deixar um trecho aqui:
“- Se ao menos nos odiassem poderíamos tentar trocar ideias com eles; se tivessem qualquer coisa de específico a nos censurar, poderíamos tentar provar-lhes que se enganam mas eles não têm mais ódio por nós do que nós o temos por uma aranha, e nosso único defeito aos olhos deles é existir. Estamos todos mortos, Genns, você, eu, seu filho e o meu. Tudo não passa de uma questão de cronologia. Entretanto, resta-nos algo a salvar: nossa honra.”
Quanto mais os judeus lutavam, mais cruéis eram as formas de tortura e várias vezes houve momentos de exaustão e passividade. Esse livro me fez enxergar como o povo judeu é forte e não perdem a esperança com facilidade. Como eles aproveitaram as oportunidades mesmo quando os alemães se deleitavam humilhando-os de todas as formas: zombando de sua religião, rindo do espetáculo criado certa vez... mesmo nessas horas, os judeus percebiam o plano do inimigo e tentavam virar o jogo a seu favor.
Acontece que, a revolta em si demora a acontecer, só no último capítulo que ela realmente entra em ação. Mais ou menos da metade do livro até o final você fica numa aflição sem tamanho porque os judeus passam por várias provações e pressões até conseguirem.
Eu demorei quase oito meses para concluir essa leitura porque eu precisava de tempo para digerir cada página e cada capitulo. Agradeço a paciência da minha amiga, Alice que foi quem me emprestou o livro.
Não é uma leitura fácil, mas a narrativa é muito boa. Eu tinha vontade de anotar cada frase. O autor tem uma inteligência, o modo como ele usa as palavras e seu modo sarcástico de encarar alguns fatos realmente deixam a leitura muito interessante. Embora eu já me interesse por esse tema há um tempo, eu nunca tinha visto um ponto de vista como esse.
Com certeza esse livro vai ficar marcado em mim por um bom tempo e as cenas tão bem detalhadas vão estar na minha memória.
É um relato de um filho que buscou os arquivos e depoimentos dos sobreviventes. Pensar que tudo isso aconteceu mesmo é o mais difícil de conceber.