Ronan 22/08/2022
Um dos maiores méritos desse livro é o fato de ele ser bastante conciso, aborda um grande intervalo de tempo e pontua os acontecimentos mais importantes, porém sem se deter sobre possíveis interpretações e minúcias acerca deles. Quase que como um manual de História ele vai apresentando a vila de São Paulo de Piratininga desde os seus primórdios até seu crescimento exponencial no final do século XIX. Portanto, sua destinação é para aqueles que querem conhecer um pouco mais sobre a história da cidade de forma generalista, sem privilegiar aprofundamentos, períodos específicos ou mesmo promover um debate de cunho historiográfico embasado em diferentes fontes. Como jornalista, o autor apresenta sua narrativa de forma fluida para a leitura, como historiador que sou pontuo que há algumas generalizações e que é possível entrever alguns juízos de valor ou mesmo anacronismos, mas, novamente, promover debate historiográfico não é a proposta aqui.
A escolha do título foi muito feliz pois descreve a situação geográfica, política e econômica da cidade durante todo o período compreendido pela obra (1554-1900), seu isolamento em relação à metrópole e suas características únicas advindas daí como a adoção de hábitos indígenas, uma relativa independência (tensionadora da relações) e sua excentricidade em relação ao mundo Atlântico. Isso se reflete em uma pobreza econômica e em uma população isolada que busca meios de sobrevivência naquela que vai ser a interlândia de São Paulo, nada mais nada menos que o interior do Brasil, ou o sertão, primeiro por meio das “descidas” de indígenas (eufemismo para escravização e genocídio) e depois pelas pedras e metais preciosos descobertos nas regiões de Minas, Goiás e Mato Grosso, sobrevivência essa que era dura e que mais tarde vai ser idealizada e mitificada na figura dos bandeirantes.
Seu protagonismo passa a ter vez a partir do séc. XIX, lentamente, a partir da participação das elites paulistas no processo de independência, depois pela fundação de uma faculdade de direito no largo São Francisco e daí progressivamente até a ascensão do café, produto este que vai catapultar a cidade economicamente e alimentar seu desenvolvimento daí por diante. Vale a pena ler essa obra e localizarmo-nos no tempo e no espaço dessa grande metrópole, é muito divertido, ao longo da leitura, entender os topônimos da cidade e a gradual ocupação de seus terrenos, tão nossos conhecidos. Verificarmos também as personagens eleitas pela história para figurarem como nomes de ruas, avenidas, bairros e praças, lembrando que essa é uma história feita pelos vencedores e para eles (essa crítica é minha e não está explicitada no livro, que não problematiza esse importante debate). Já estou lendo o segundo volume, o que trata da história da cidade entre 1900 e 1953.