Anônima: Uma Mulher em Berlim

Anônima: Uma Mulher em Berlim Anônima




Resenhas - Uma Mulher em Berlim


7 encontrados | exibindo 1 a 7


Marina 27/02/2012

Há livros e diários de guerras a perder de vista, tanto que chegam a ser repetitivos em muitos pontos, mas Uma Mulher em Berlim nos traz um panorama um pouco diferenciado. Ele fala sim, das dificuldades como a excassez de comida, os bombardeios e etc, mas o foco do livro é a condição feminina na guerra. Com seus maridos e parentes ausentes para lutar pelo país, essas mulheres ficam sozinhas à mercê dos soldados inimigos.

A autora do livro, anônima, é uma berlinense que viu a cidade ser invadida pelos russos. Durante esse período, fez o registro dos acontecimentos em um diário. Por ser uma mulher inteligente e culta, a escritora não só tem um texto bem construído, como também faz diversas ponderações políticas e filosóficas. O relato, cru e até mesmo frio, mostra que em situações como essa, muitas vezes as mulheres precisam deixar a dignidade de lado e se submeter aos homens em nome da sobrevivência. E aqui, eu não me refiro apenas à imprevisível violência dos soldados que pode ameaçar a vida das mulheres, mas também à fome. Ao se relacionar com os soldados, as mulheres conseguiam mantimentos trazidos por eles. E este também é um ponto digno de nota: ao trazer presentes e agrados para as mulheres com quem eles iam pra cama, os russos tentavam amenizar um fato que eles mesmo não admitiam: que eles estavam estuprando as mulheres. Havia uns e outros que realmente queriam a permissão das mulheres, mas a pressão em cima delas era tão grande que dificilmente existia a possibilidade de negar o avanço dos homens.

Nesta troca injusta, porém, a autora deste livro viu a oportunidade de sair da guerra sem grandes danos. Ela se envolvia propositalmente com militares de patentes maiores, pois assim os outros soldados não a atacariam. Um pensamento bastante calculista do tipo "melhor ser estuprada por um que por muitos". E assim ela também garantia seus suprimentos.

A atitude forte da autora é admirável, mas a desvantagem desses relatos frios e racionais é a dificuldade do leitor em se apegar à escritora. Como ela não deixa transparecer muitos sentimentos, é difícil criar um vínculo ou se compadecer da situação dela. Vez ou outra ela expõe algumas coisas, como em trechos que diz se sentir suja.

É enfim, um olhar diferente sobre a guerra. Para quem gosta de relatos reais e tragédias pode ler esse livro sem medo, principalmente pela qualidade da escrita.
Canoff 22/06/2022minha estante
Ótima resenha, Mahana! Aparentemente soube resumir bem a obra. Estou com ele aqui e pretendo ler o mais rápido possível. Obrigado por ter despendido tempo para redigir essa resenha.


Marina 28/07/2022minha estante
obrigada pelo feedback, Robson! :)




Krisley 07/09/2020

Obra fantástica.
O texto é um valioso registro histórico da vida civil em Berlim nos últimos dias da guerra e do imediato pós-guerra: bombardeios, perda de moradia, aflição dos abrigos antibombas, falta de comida, a busca por água, a relação com vizinhos, o temor da aproximação do exército inimigo, a nova realidade de ser um povo conquistado e os inúmeros e recorrentes estupros.

A situação das mulheres após a chegada dos russos é detalhada de forma íntima e bem sincera, com a autora descrevendo seus sentimentos e pensamentos sobre o que estava acontecendo tanto com ela mesma como com as suas vizinhas.

Destaque também para a escrita, de altíssima qualidade e que prende a atenção do início ao fim.

“Senti pela primeira vez o cheiro de um cadáver humano. Em todas as descrições possíveis encontrei a expressão “cheiro adocicado de cadáver”. Acho o adjetivo “adocicado” impreciso e de forma alguma suficiente. Essa exalação não me parece de modo algum um cheiro; é antes algo sólido, roliço, qual um mingau de ar, uma bruma que se acumula diante do rosto e das narinas, muito mofenta e densa para ser inspirada. É algo que nos deixa sem ar. Algo que nos repele como se tivesse punhos.”
comentários(0)comente



Christiane 09/01/2013

Condição da Mulher na Alemanha pós-guerra
Final da segunda guerra, os russos estão na Alemanha. O livro é escrito por uma jornalista que prefere ficar anônima, sobre os traumas da guerra, estupros coletivos, e a prostituição como forma de sobrevivência. É um relato marcante, triste, trágico da situação das mulheres e de como elas agiam no final da guerra, entregando as mais jovens para os homens para se protegerem e terem alimentos. Da mesma forma, muitas para poderem comer, dar de comer aos filhos, parentes e amigos também se prostituíram. É um lado da guerra que é pouco comentado, ou até mesmo sabido por quem não estava lá. Apesar do trágico, é um belíssimo livro sobre a realidade cruel da situação da mulher no fim da guerra.
comentários(0)comente



Tiago 25/03/2017

A REALIDADE ATRAVÉS DE OLHOS ANONIMOS
Ler qualquer obra sobre a Segunda Guerra Mundial não é uma tarefa fácil. É exigida do leitor uma natureza essencialmente paradoxal: sensibilidade para compreender a magnitude daquele momento histórico, cujos dramas particulares talvez não encontrem paralelo equivalente em nenhuma outra época, assim como uma frieza seletiva, fundamental para se conduzir a leitura até o fim.
Não faltam exemplos de obras cujo foco são os dramas vividos pela população civil durante os quase seis anos de conflito. O extermínio nos campos de concentração, a vida nas cidades sob a ocupação nazista bem como relatos biográficos dos sobreviventes, lotam as prateleiras das livrarias atendendo a um publico bastante restrito, ainda que expressivo. Recentemente o publico alvo dessas obras parece ter se tornado mais permeável e menos resiliente quanto à absorção de textos que abordem o drama da população alemã, considerada desde o fim do conflito como a grande vila no contexto da guerra.
Nenhuma dessas obras, no entanto, buscam remodelar a imagem do nazismo ou levantar duvidas quanto a natureza de seus crimes. Através da exposição do sofrimento inigualável que marcou os 12 anos do governo de Adolf Hitler, esses textos acabam por reafirmar a imagem negativa de um governo autoritário, militarista e agressivo que se fechou dentro de um conceito de raça, amparado por uma insanidade ideológica tão absurda que permanece pouco compreendida até os dias atuais.
Em abril de 1945 a Segunda Guerra Mundial na Europa já estava perto do fim. Com a capital alemã cercada e arrasada pelas forças soviéticas não faltaram exemplos de determinação e resistência entre a população daquela que já havia sido uma das mais belas e modernas cidades do mundo. Berlim havia sido reduzida a uma gigantesca arena de sofrimento humano, e naqueles dias finais do conflito a guerra cobraria seu preço daquelas que haviam se mantido distante dos campos de batalha, ainda que obrigadas a conviver com uma escala de destruição até então nunca vista sobre a terra.
Cerca de 100 mil mulheres foram violentadas durante a ocupação soviética de Berlim. O número de suicídios decorrentes dos abusos é ainda incerto. O assunto é uma espécie de tabu para as autoridades da Federação Russa e da própria Alemanha devido ao constrangimento que o mesmo invoca. Parte da população de ambos os países ainda recebem com hostilidade qualquer assunto relacionado ao que definem simplesmente como “aquilo”. Apesar dessa tímida restrição moral, muitas obras de conteúdo “constrangedor” foram publicadas desde o termino do conflito, dentre as quais se pode destacar o livro “Uma mulher em Berlim, diário dos últimos dias de guerra”.

O que vemos nas mais de duzentas paginas do livro é a narração fria e metódica de um campo de batalha infinitamente mais pessoal e cruel, que não pode ser caracterizado através imagem natural que fazemos de um campo coberto de trincheiras, fumaça e arame farpado, mas pela ausência de qualquer resquício de moralidade por parte dos vencedores. Deparamos-nos com uma narrativa viva onde a natureza primitiva e selvagem dos homens encontra espaço dentre as indescritíveis misérias impostas pela realidade da guerra.
Aqui vemos uma singular, e admirável, característica dos eventos históricos: sua tendência natural em se imortalizar através de qualquer objeto que permita um simples registro dos acontecimentos. Em meio os destroços deixados pelas bombas, três simples cadernos escolares serviram para registrar os acontecimentos impressionantes vividos por uma cidadã berlinense entre os dias 20 de abril e 22 de junho de 1945. O texto, em forma de diário, seria datilografado pela própria autora poucos anos após a guerra e entregue a um editor de Nova York. Em 1954 ele é lançado em forma de livro, rendendo desde então criticas variadas.
Apesar da escassa quantidade de dados biográficos sobre a narradora, que resolveu permanecer anônima por motivos que se tornam óbvios ao final da leitura, ainda sim é possível traçar um perfil da mesma com base nas informações disseminadas ao longo do texto. Trata-se de uma mulher na faixa dos trinta anos de idade, proveniente de uma família burguesa e com um a bagagem cultural no mínimo bastante evidente. Após percorrer vários países europeus, chegando inclusive a passar um período em Moscou, ela teria se estabelecido em Berlim, onde permaneceu até a rendição final da Alemanha. A narrativa tem inicio numa sexta feira, dia 20 de abril de 1945, aniversario de 56 anos de Adolf Hitler:
“Sim a guerra vem rolando em direção a Berlim. O que ontem ainda eram resmungos distantes, hoje é um rufar continuo. Respira-se o ruído da artilharia.”
A relação entre os vencedores e os vencidos, ou seja, entre os conquistadores e os conquistados, é desnudada através das palavras de uma testemunha, que apesar do seu empenho em produzir uma narrativa áspera e desprovida de sentimentos, em muitos momentos acaba cedendo aos devaneios de um passado em nítido contraste com a realidade brutal da guerra.
O estupro, no contexto da obra, não se encaixa na clássica definição de crime hediondo; o mesmo emerge como um aspecto do cotidiano da população feminina. Por trás dessa tentativa de banalizar um evento, cuja própria natureza cruel parece agir no sentido contrario, se esconde um impulso feroz de evidenciar os dramas particulares da própria narradora. Em nenhum momento temos a impressão de que a mesma tenta se colocar como vitima dos eventos do qual foi expectadora e muitas vezes antagonista. Relatos impressionantes estão espalhados ao longo do texto, como o da mulher que havia escondido sua aliança de casamento em meio a suas partes íntimas alegando: “Se eles [soviéticos] chegaram até ali, o anel também não me importa mais.”

O primeiro contato com os soldados soviéticos é um dos momentos mais intensos da narrativa. A imagem dos “Ivans” [denominação dada aos soldados soviéticos pelos alemães] dentro dos porões lançando a luz de suas lanternas nos rostos das mulheres ali reunidas, a procura de suas vitimas, é tão viva que temos a impressão de transitarmos entre o papel de leitor e o de expectador daquele espetáculo animalesco. Algumas mulheres preferiam acreditar que sua idade avançada lhes pouparia dos horrendos estupros coletivos, mas para os soviéticos o provérbio alemão “em caminhos muito trilhados, não cresce mais capim”, parecia não fazer muito sentido. Diante de tal quadro de desumanidade é perfeitamente compreensiva uma postura fatalista por parte dos que o presenciaram. Segundo as palavras da própria “anônima”:
“A soma das lagrimas permanece constante. Pouco importa sob que bandeiras e formulas os povos viviam; pouco importa que deuses sigam e qual o salário real que recebem, a soma das lagrimas, das dores, dos medos, com que cada um paga sua existência, permanece constante.”
Uma das questões mais complexas dos textos de caráter biográfico, ou em forma de diário como é o caso, diz respeito a fidelidade factual. Até que ponto podemos acreditar na honestidade do texto? Não pretendo, de modo algum, colocar em cheque a natureza dos crimes cometidos pelos soviéticos. Os estupros, e centenas de outros crimes bárbaros de fato acorreram, não apenas em Berlim, mas em centenas de outras cidades alemãs. A questão é que quando mergulhamos em uma obra cujos testemunhos partem de uma única fonte, inconscientemente remetemos o mesmo a uma espécie de julgamento mental que avalia a autenticidade de tais relatos. É a partir desse trabalho cognitivo, quase que involuntário, que definimos, a posteriori, todo o nosso posicionamento em relação à recepção do conteúdo de suas paginas.
Não é novidade o fato de que muitos relatos de eventos históricos, sobretudo os dramáticos, possuem uma boa parcela de inverdades, ou seja, boa parte dos testemunhos são naturalmente contrafactuais. Embora um relato possa estar em desacordo, do ponto de vista histórico, com a realidade isso não significa que, ao menos do ponto de vista pessoal, aquilo não fosse verdade. Definir uma “inverdade histórica” como uma “verdade particular” pode parecer contraditório de inicio, mas essa contradição é apenas aparente. Para quem esteve lá, naquele momento, como testemunha ocular, com os sentidos subjugados pela imprevisibilidade de uma realidade tão grotesca e anti-humana, aquele relato, por mais improvável que pareça, faz parte da sua realidade e da sua experiência. No plano cognitivo, realidade é aquilo que se sentiu, que se viveu e não que a lógica ou os registros históricos determinam como fatos.
O fluxo imposto a um destino coletivo é capaz de arrasar qualquer traço de resistência individual. O senso e a moralidade desaparecem, cedendo espaço ao puro desespero. Não cabe, portanto, ao leitor o menor traço de julgamento moral quanto ao comportamento da narradora. A este lhe cabe apenas o lugar do espectador, com sua natural impotência diante dos eventos históricos, que apesar de lamentáveis jamais devem ser esquecidos.

AUTOR
TIAGO RODRIGUES CARVALHO

site: http://cafe-musain.blogspot.com.br/2016/01/a-realidade-atraves-de-olhos-anonimos.html
comentários(0)comente



Jorge Paes 12/05/2012

Excelente! Simples! Real...
Devorei esse livro do começo ao fim com olhos de quem observa a história sobre a ótica de uma pessoa vivendo momentos de fome, medo, abusos, angústias e outros sentimentos durante a guerra. Se você gosta das histórias da segunda guerra mundial e tem interesse em conhecer mais sobre os acontecimentos desse período, este livro passa a ser uma leitura obrigatória. Isto pq não é uma literatura fantasiosa (harry potter da vida) com base hipotética e infantil, mas sim um fato! Verdades! Cada pessoa navegará nessas páginas a sua maneira, porém algo é garantido: você não irá mais esquecer este livro e suas vivências! É um presente poder viajar no tempo e compartilhar da autora tamanhos acontecimentos. Sua narrativa é uma obra! "Homo homini lupus".
comentários(0)comente



Albert 02/04/2015

Bom livro
O livro relata por meio de um diário real uma alemã em Berlim sob ataque dos russos já terminando a Segunda Guerra Mundial na Europa. São relatos interessantes. Do meu ponto de vista, é notório a frieza que a autora escreveu e vivenciou os horrores da guerra. Ela foi uma mulher corajosa, fria e determinada.

O diário é interessante, a personagem nos mostra o que fazia, o que pensava ou o que pretendia fazer em meio ao caos, sem deixar de mencionar os fatos acontecidos no dia-dia na cidade. Podemos observar como era a relação já mais para o final do livro, entre alemães e soviéticos, principalmente depois dos russos recrutarem as mulheres para mão-de-obra. Bom livro, não empolga muito, mas sua leitura é válida e bem-vinda.
comentários(0)comente



Erica 30/10/2019

O estupro em massa como arma de guerra
Existem muitos relatos reais sobre a Segunda Guerra Mundial com diversos pontos de vistas, como os dos judeus, militares, vencedores, perdedores e por aí vai... nesse livro temos os últimos dias de guerra narrado por uma mulher alemã que preferiu manter sua identidade anônima, através do seu diário vamos acompanhando o dia-a-dia dela vivendo na região de Berlim e claro que se tratando do tema, os seus dias não foram felizes e coloridos, ainda mais depois da ocupação militar Russa na capital, que trouxe consigo uma desumana e ilegal arma de guerra, o estupro em massa contra mulheres.

Como maioria dos diários, a escrita não é aquela coisa viciante e linear em relação aos fatos, então o que torna a história interessante é justamente o cenário político, registros históricos e as tristes circunstancias em que ela ocorre, que são os últimos meses do fim da Segunda Guerra Mundial sob os olhos de uma mulher que perdeu tudo, inclusive sua dignidade. Eu particularmente gostei da anônima porque ela foi uma mulher forte, bem culta e que soube usar a inteligência pra sobreviver porque ou era isso ou morrer (literalmente).

A autora é bem crua e fria ao falar de toda desgraça que a guerra trouxe para vários cidadãos alemães, especialmente as mulheres, independente de serem contra o partido nazista, como eu já li alguns livros pesado sobre o holocausto, eu procurei separar as perspectivas pra não me tornar julgadora de sofrimento alheio, afinal cada um sabe a dor da cruz que carregou e foi muito triste e chocante os diversos estupros que as alemãs sofreram, é o tipo de coisa que não desejamos nem para o nosso pior inimigo, lamentável que isso não se aplique em tempos de guerra. Esse livro juntado a outros relatos, é mais um episódio vergonhoso da história mundial.
comentários(0)comente



7 encontrados | exibindo 1 a 7


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR