A vontade radical

A vontade radical Susan Sontag




Resenhas - A VONTADE RADICAL


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Hugo Hilst 27/02/2024

Edição Porca
O primeiro ensaio me assustou um pouco... (não entendi nada). Mas os outros -- tirando o sobre Cioran, que não consegui apreciar por não ter a mínima ideia de quem seja Cioran -- foram ótimos. Se os assuntos (artes, cinema, teatro, Vietnã) te interessam então acho que é uma ótima leitura.

Mas............... a edição..... Na verdade nem é a edição em si, mas a revisão do texto traduzido que parece inexistente. Vários erros grotescos me chamaram a atenção: nova virou "neva", urna virou "uma", câmera virou "câmara", entre outros erros de digitação.
Além desses teve um que achei muito interessante: "nail" significa tanto unha quanto prego, mas dá pra saber qual o sentido está sendo usado pelo contexto.... ou pelo menos achei que desse pra saber, o tradutor nos agraciou com a frase "Uma unha [nail = prego] sendo fincada em uma mão"... ... .... ...
Fiquei por boa parte da leitura aflito com a possibilidade de estar sendo enganado pelo tradutor, se ele cometeu um erro desse quem me garantiria que todo o resto não estaria errado? Será que essa parte do texto realmente é difícil ou só está mal revisada? Isso é neologismo ou erro?...
Enfim, bons textos para quem se interessar pelos temas tratados (o ensaio sobre Persona me fez até assistir ao filme!), mas recomendaria a versão original, em inglês.
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AndreTomasi 03/11/2023

Sunsan, se você estiver lendo isso aí do céu, saiba que quero ser seu amigo
Achei a escrita um pouco abstrata, especialmente no ensaio sobre o silêncio, mas gostei do que ela escreveu. É interessante observar que já nos anos 60 uma pessoa com tantos privilégios se identificasse como tal e pudesse olhar para o próximo com tanta empatia. Achei muito bonito o ensaio sobre sua viagem ao Vietnã, um lugar com uma cultura muito rica e cheia de minúcias. Achei lindo isso aqui:
"Um dos exemplos mais surpreendentes da preocupação deles com os sentimentos, que me foi relatado por Phan, é o tratamento concedido a milhares de prostitutas recolhidas após a libertação de Hanói das mãos dos franceses em 1954. Elas foram postas sob os cuidados do Sindicato das Mulheres, que estabeleceu centros de reabilitação na zona rural, onde as ex-prostitutas passaram inicialmente vãrios meses sendo mimadas. Liam-lhes contos de fadas; ensinavam-lhes jogos infantis e elas podiam brincar. "Isso", explicou Phan, "foi para restaurar a inocência e fazer com que recuperassem sua confiança no homem. Veja você, tinham conhecido um lado tão terrível da natureza humana. A única maneira que tinham para perdoá-lo era se tornarem crianças de novo". Somente depois desse período de cuidados maternais, ensinavam-lhes a ler e escrever, foram instruídas em um ofício por meio do qual poderiam se sustentar, e ganharam dotes para melhorar suas chances de finalmente se casar. Parece não haver dúvidas de que um povo que pode incentivar uma tal terapia tem realmente uma imaginação moral diferente da nossa."
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davidelira 17/01/2022

Ensaios estéticos, filosóficos e políticos
A vontade radical é um compilado de ensaios escritos por Susan Sontag que percorre temas desde a crítica de arte e a análise de trabalhos literários e cinematográficos até a discussão de filósofos e temas geopolíticos contemporâneos à autora. É uma leitura instigante e dou destaque ao texto "A imaginação pornográfica", que é de fato o texto mais conhecido e aclamado da autora que está contido nesse livro. Nesse texto ela fala da fronteira entre arte e pornografia a partir da literatura libertina de autores como Sade e Bataille. É impressionante a erudição da autora e a articulação entre uma linguagem rica e um gosto pela subversão e pela dissonância com o lugar comum. Fora esse texto, dou destaque ao último ensaio do livro que trata da visita de Sontag à Hanói, capital do Vietnã, junto de uma comitiva de norte-americanos contrários à guerra EUA x Vietnã que se desenrolava naquele momento. É um texto de surpreendente honestidade em que a autora fala de seu estranhamento e impressões quanto ao povo vietnamita. Aqui ela expressa uma consciência intensa de seu lugar como norte americana e da posição radicalmente estrangeira do oriente vietnamita quanto aos seus valores ocidentais. São ensaios que valem a pena serem lidos.
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Alê | @alexandrejjr 23/03/2021

A ensaísta singular

Susan Sontag foi uma mulher inacreditável. Ela, como pouquíssimas pessoas, esteve à luz das revelações socioculturais pelas quais os Estados Unidos passaram nos anos 1960 com opiniões seguras, firmes e originais que muitas vezes tratavam de temas complexos.

A Arte era sua área de maior interesse, seu campo de domínio. Fotografia, pintura, literatura, cinema. Dotada de uma criatividade profundamente corajosa, Sontag fez em seus ensaios, gênero textual que prioriza essencialmente a síntese e o tratamento crítico de um determinado tema, o que muitos não conseguem fazer através da ficção ou até da não ficção.

Quebradora de barreiras invisíveis, Sontag era voz dissonante entre os intelectuais estadunidenses. Neste “A vontade radical”, meu primeiro contato com a autora, pude perceber o porquê de tanta fama. Capaz de exibir uma sensibilidade incomum, expressa através de um texto argumentativo sofisticado, Sontag sabia exatamente o que devia perguntar, como analisar, o que explicar e que tipo de resposta dar aos leitores. É fantástico.

Hábil e inteligente, Sontag foi um dos maiores exemplos do que é ser uma intelectual pública. Ela deixou um legado inspirador para todos, sobretudo para as mulheres, mostrando que é possível ter posições firmes, sendo provocativa a ponto de irritar a nós, homens, e a nossa frágil masculinidade, e isso é uma contribuição sem tamanho. São inúmeros os constrangimentos masculinos disponíveis no YouTube que ilustram a posição grandiosa dela. Uma feminista em essência, ainda que tivesse suas controvérsias entre as próprias mulheres, Sontag se preocupava muito em ser levada a sério. E isso era o mínimo que ela exigia.

Entre as três partes que dividem a obra, destaco os seguintes ensaios: “A imaginação pornográfica”, no qual Sontag faz uma defesa do valor intelectual da pornografia na literatura; “Teatro e filme”, em que disserta sobre o cinema enquanto arte e suas intersecções necessárias, com argumentos em diálogo com o crítico francês André Bazin; e por último o gigantesco híbrido entre ensaio e diário com mais de 70 páginas sobre a visita da autora a Hanói, à época capital do Vietnã do Norte, no calor do momento da guerra, onde ela constrói magistralmente uma tese sobre o que é ser filha da maior e mais poderosa nação do mundo e do lugar da percepção em diferentes culturas, onde o real e o imaginário entram em conflito.

Susan Sontag está aí para ser descoberta. É importante para nós, leitores, conhecer alguém que buscou acima de qualquer objetivo a sensação de ser livre e independente através do pensamento. E mesmo que isso custe tempo e atenção - pois o texto dela não é fácil, apesar de objetivo -, não podemos nos privar do prazer de ler algo dessa magnitude. Portanto, sinta-se à vontade para entrar no enriquecedor mundo de uma das mulheres mais importantes dos EUA no século XX.
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